O sujeito que não quer saber de trabalhar, a mulher encrenqueira, o pai coruja preocupado com o casamento da filha e os sambistas que transformam as mazelas do cotidiano em poesia.

Personagens e temas como esses, tão característicos da realidade nacional, acompanham o cantor e compositor Zeca Pagodinho desde o início de sua carreira. Em Acústico MTV Zeca Pagodinho – Gafieira (Universal, R$ 30 em média), ele vai buscar inspiração nas mesmas fontes, para resgatar a essência dos sambas que já fizeram a alegria de muitos frequentadores de salões de dança.

Referência entre os bambas nacionais, Zeca brinda o público com um repertório representativo do gênero, em que se destacam pérolas da boa malandragem. Amparado por uma competente banda composta por metais, sopros e percussão, o cantor se sente à vontade para mandar o seu recado, como na hilária Ratatúia.

Com seu ritmo envolvente, a música narra as desventuras de um apaixonado que se desilude com as farras promovidas com o seu dinheiro pela amada. “Era a mãe dela, irmã dela, tia dela, amiga dela, uma cadela, e só eu pra sustentar. Uma festa de pagode, a seresta, eu olhava pela fresta, dava medo de entrar”, canta Zeca, com aquela malícia que é sua marca registrada.

Destaques – Em Exaustino, samba de Roberto Lopes, Canário e Nilo Penetra, ele aborda o cotidiano de um cidadão preguiçoso, que “quer ver fogo no mar, para comer peixe frito sem fritar”. Zeca também relê sucessos de seu repertório, como as indefectíveis Judia de Mim e Casal sem Vergonha, clássico de Arlindo Cruz e Acyr Marques. Outros destaques ficam por conta de Tive Sim, do gênio Cartola, Beija-me, com belo solo de gaita de Rildo Hora, o samba de breque Sururu na Feira e Cabô, meu Pai, de Aldir Blanc. Carismático como ele só, Zeca Pagodinho concilia refinamento e apelo popular, o que facilita seu trânsito em todos os setores culturais e sociais e fica evidente a cada disco lançado por ele.