Nacional Titulo
Menor infrator de SP nao rouba para comer, diz estudo
Do Diário do Grande ABC
22/06/2000 | 17:53
Compartilhar notícia


A maioria dos menores infratores de Sao Paulo nao rouba para comer, mas para poder consumir objetos como tênis, roupas e relógios. Dessa forma, eles reproduzem os principais valores da sociedade capitalista. Foi isso o que concluiu a psicóloga Simone Mesquita Rigueiro, após um ano e três meses de trabalho no Fórum das Varas Especiais de Infância e Juventude do Tribunal de Justiça (TJ) de Sao Paulo.

A partir da experiência, ela desenvolveu o trabalho "A Adolescência Infratora e a Perspectiva do Herói", que expôs nesta quinta-feira no 2º Congresso Latino-Americano de Psicologia Junguiana, que, até domingo (25), reunirá cerca de 500 psicólogos no Hotel Glória, no Rio.

"O menor infrator toma atitudes baseadas na idéia do herói que é a pessoa forte que vence após destruir o inimigo", explicou a psicóloga. "Na nossa sociedade, pessoa forte é o que possui bens porque nossa cultura mede o sucesso a partir das coisas que se tem."

Ela nao soube informar quantos casos atende por mês no Fórum. Mas disse que a maioria dos infratores pertence à classe baixa e tem por volta dos 17 anos. Eles cometem "crimes leves" como furtos ou assalto à mao armada. Quase todos sao encaminhados à Fundaçao Estadual para o Bem-Estar do Menor (Febem), uma instituiçao que, segundo a psicóloca, "é mais perversa do que os jovens que chegam lá". "Jovens de classe média nao chegam à Febem, mas cometem as mesmas infraçoes do que os de classe baixa", afirmou.

Carioca, 30 anos, Simone foi vítima de violência. Ela admite que, naquele momento, sentiu medo e raiva, como acontece com a maioria das vítimas. "Eu entendo o que está por trás da situaçao", disse. "Mas nao quero encontrar com esses infratores na rua porque sei que sao perigosos."

Ela disse que nao "passa a mao na cabeça" dos infratores e que o objetivo do trabalho é o de "alertar para a inversao de valores" em que vive a sociedade. "Temos uma cultura que facilita e um governo que nao ajuda", afirmou. "Particularmente, sou pessimista e nao vejo uma soluçao a curto prazo".

Dentro dessa inversao de valores, ela cita os exemplos de corrupçao entre políticos e policiais, pessoas que, em princípio, deveriam ser exemplos de honestidade. "As pessoas estao sem referência do que é certo, dos limites, do que é a lei já que a lei só existe para alguns", avaliou.

Na opiniao dela, os infratores querem ter uma lei. "O limite com afeto é o que forma o ser humano", disse. "Os infratores precisam disso e nao encontram." Assim, Simone acredita que só com educaçao se muda esse quadro e nao com a construçao de presídios para adolescentes, como aconteceu em Sao Paulo.

"A sociedade nao quer, sinceramente, que esses jovens sejam reeducados e prefere os excluir, confiná-los", analisou. "Essa é uma forma de jogar a sujeira para debaixo do tapete e, um dia, essa sujeira começará a sair por todos os lados."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;