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Acusado pela morte de sindicalista será julgado na 3ª
Do Diário do Grande ABC
05/06/2000 | 15:41
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O fazendeiro goiano Jerônimo Alves de Amorim, acusado de ser o mandante do assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, no sul do Pará, Expedito Ribeiro de Souza, em fevereiro de 1991, será julgado nesta terça, no Tribunal de Justiça. É o primeiro representante da oligarquia rural no Estado a ir a júri nos últimos 30 anos. Nesse período, 700 trabalhadores rurais foram assassinados na luta pela terra no Estado e 630 deles na regiao onde Amorim era proprietário de duas fazendas.

Dezenas desses crimes, segundo levantamento de entidades de defesa dos direitos humanos e da própria polícia paraense, foram encomendados por pecuaristas e fazendeiros que tiveram suas propriedades invadidas por lavradores sem-terra. Amorim também responde na Justiça por outros crimes de encomenda contra dois empregados de sua fazenda Nazaré. A data do julgamento ainda nao foi marcada.

O julgamento começa nesta terça, às 8h, em um salao do Tribunal de Justiça, em Belém, que tem capacidade para apenas 120 pessoas. O juiz Cláudio Montalvao das Neves, da 2ª Vara Penal, que presidirá a sessao, pediu reforço da segurança, que contará com 50 homens da Polícia Militar. Em volta do prédio do TJ outros 200 policiais estarao formando um cordao de isolamento para evitar a invasao do local durante manifestaçoes organizadas por entidades de direitos humanos, sindicatos e partidos políticos.

O pistoleiro José Serafim Sales, o Barreirito, foi quem atirou três vezes em Expedito pelas costas quando este caminhava rumo à sua residência por uma rua escura de Rio Maria, às 22h, depois de participar de uma reuniao no sindicato. O intermediário no crime foi o gerente da fazenda Nazaré, Francisco de Assis Ferreira, o Grilo, empregado de Jerônimo.

Sales foi condenado a 25 anos de prisao e Ferreira a 21, em julgamento em 1995. O pistoleiro fugiu em março deste ano da penitenciária de Marabá, onde gozava de regalias, trabalhando na cozinha da prisao. Sua fuga fez o governador Almir Gabriel (PSDB) demitir toda a direçao da penitenciária. Tanto o pistoleiro como o intermediário da morte de Expedito acusaram Amorim de ter encomendado a morte do sindicalista.

Amorim teve duas vezes sua prisao preventiva decretada pela Justiça e passou cinco anos foragido. Mas foi preso em novembro do ano passado em Cancún, no México, por agentes da Polícia Federal e da Interpol, quando fazia um cruzeiro marítimo com familiares. O fazendeiro usava identidade, segundo a qual seria boliviano.

De acordo com a Comissao Pastoral da Terra (CPT) e o Comitê Rio Maria de Direitos Humanos, Amorim sempre contou com a proteçao das Polícias Civil e Militar do Pará, que nunca fez qualquer esforço para prendê-lo. "A prisao dele no México só ocorreu depois que o entao presidente da Comissao de Direitos Humanos do Ministério da Justiça e hoje ministro, José Gregori, pediu o empenho da Polícia Federal", afirma o frei Henry Burin des Rosiers, advogado da CPT. Ele se diz ameaçado de morte por fazendeiros do sul do Pará, integrando uma lista da qual fariam parte outras 35 pessoas, entre sindicalistas, padres e políticos de esquerda que atuam na regiao.




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