Marcella Prande, armadora da AD Santo André, superou crises de ansiedade no Mundial Sub-19
No universo esportivo, onde segundos definem vitórias e derrotas, a preparação vai além do físico. No Grande ABC, atletas de alto rendimento como os velocistas Felipe Bardi, 26 anos, e Erik Cardoso, 25, ambos do Sesi Santo André, e a armadora Marcella Prande, 20, da AD Santo André, mostram que manter a mente saudável é tão essencial quanto cruzar a linha de chegada ou acertar a cesta.
Felipe Bardi vive atualmente uma fase de destaque no atletismo nacional. Dono da melhor marca brasileira da história nos 100 metros rasos, com 9,96 segundos, e do melhor tempo do País em 2025 (9,99s), o velocista do Sesi Santo André acumula conquistas. Mas o caminho até aqui foi marcado por desafios invisíveis ao público. “Em 2018, tive uma lesão grave, e até pensei em parar. Foi difícil lidar com a dor e com a ideia de não conseguir voltar a competir”, lembra.
Naquele momento, além da reabilitação física, o apoio psicológico se tornou fundamental para que ele seguisse na carreira. Hoje, com mais maturidade, afirma que o emocional é determinante no desempenho. “No dia da prova, quem manda em 90% das coisas é a mente. Os outros 10% ficam com o preparo físico”, afirma.
A experiência de Marcella Prande, 20, armadora do time de basquete da AD Santo André, também reforça como o desempenho em quadra depende da estabilidade emocional fora dela. Durante o Mundial Sub-19, disputado pela Seleção Brasileira em 2023, na Espanha, a atleta precisou lidar com crises de ansiedade durante a competição. “Foi o momento mais difícil da minha carreira até aqui. Estar longe de casa, com a pressão dos jogos e das expectativas, me abalou bastante. Eu não conseguia ser eu mesma em quadra”, relata. Desde então, ela passou a fazer terapia de forma contínua, o que descreve como uma virada importante para lidar com a rotina competitiva. “Hoje me sinto mais equilibrada e consigo focar melhor no que preciso fazer.”
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Para o velocista Erik Cardoso, também do Sesi Santo André, o desafio é manter a mente firme mesmo com o corpo em dia. Dono da segunda melhor marca da história do Brasil nos 100 metros, com 9,97 segundos, ele sabe que a ansiedade pode ser um fator decisivo nas competições. “Às vezes, você está bem fisicamente, mas a cabeça fica presa em um erro das provas anteriores, em algo que não saiu como esperado. Isso pode atrapalhar tudo”, conta. Assim como Bardi, ele mantém acompanhamento psicológico regular na equipe.
O psicólogo Pedro Zancan atua com atletas do Sesi Santo André há cerca de dois anos e vê, na saúde mental, um fator decisivo para a construção de uma carreira sólida. O trabalho, segundo ele, é dividido entre o cuidado com o bem-estar emocional e o suporte para a performance. “O ambiente do esporte é exposto o tempo todo. O esporte não é como um trabalho comum, um erro não fica restrito somente ao indivíduo ou ao treinador. O erro vai parar na televisão, na internet ou no jornal. A cobrança é constante”, explica. Ainda de acordo com psicólogo, casos de ansiedade, depressão e Burnout são comuns, e, muitas vezes, surgem quando há desequilíbrio entre o esforço e os resultados.
Zancan reforça que ainda há resistência em procurar apoio psicológico, principalmente em ambientes esportivos masculinizados. “Por muito tempo se achou que psicólogo era coisa para quem está doente. E, no esporte, admitir fragilidade ainda é visto como fraqueza por alguns”, explica. Mesmo assim, ele afirma notar que o cenário tem mudado nos últimos anos, e que agora, a procura pelo acompanhamento parte dos próprios atletas, e não por determinação das equipes.
Além do acompanhamento profissional, encontrar espaços de descanso mental é parte importante da rotina desses atletas. Bardi, por exemplo, gosta de pescar, cozinhar e ouvir música. “São coisas que me tiram da rotina e me ajudam a respirar”, relata. Já Marcella prefere o sossego de casa, com filmes e tempo para si mesma. “Ficamos todos os dias pensando no basquete, nos torneios. Às vezes, só precisamos fazer algo que não tenha nada a ver com o esporte”, completa a armadora.
CAMPANHA
Em meio à escassez das discussões sobre saúde mental, o Diário promove uma série de reportagens que colocam em foco os desafios e dificuldades para indivíduos que lidam com a questão. A iniciativa busca ampliar o debate em diferentes contextos da região, desde atletas profissionais, até a população local (veja abaixo).
“Vejo muitas pessoas com questões psicológicas sem respaldo de hospitais, sejam públicos ou privados.”
Michele Monteiro, 32 anos, comerciante de Santo André.
“Não conseguimos os tratamentos certos, e quando encontramos, é preciso encarar uma longa fila.”
Vanessa Fernandes, 40 anos, dona de casa de Santo André, diagnosticada com TDAH.
“Nunca sofri nenhum tipo de preconceito na região, mas precisamos conversar mais sobre nossa saúde mental.”
João Paulo Amorim, 26, morador de Santo André, diagnosticado com paralisia cerebral.
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