Município desponta com maior rombo, R$ 220,79 milhões; montante é quase o dobro do valor somado das demais Prefeituras no negativo
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São Caetano, comandada pelo prefeito Tite Campanella (PL), com rombo de mais de R$ 220,7 milhões, lidera o déficit fiscal entre as cidades do Grande ABC que começaram 2025 no vermelho. Levantamento dos resultados primários – diferença entre receitas e despesas, sem considerar os juros da dívida – dos municípios da região em 2024, com base nos dados do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro), do Tesouro Nacional, mostra situação fiscal preocupante herdada também pelos prefeitos de Diadema, Taka Yamauchi (MDB), de Santo André, Gilvan Junior (PSDB), e de Rio Grande da Serra, Akira Auriani (PSB).
Das três cidades que apresentam saldo positivo, apenas São Bernardo, comandada por Marcelo Lima (Podemos), não tem uma gestão de continuidade, tendo em vista que Marcelo Oliveira (PT), prefeito de Mauá, e Guto Volpi (PL, de Ribeirão Pires, foram reeleitos no pleito de 2024.
São Caetano apresenta o pior cenário fiscal entre os municípios do Grande ABC. Os R$ 220,79 milhões representam quase o dobro do déficit somado das demais cidades com saldo negativo e o triplo do de Diadema, que aparece com o segundo maior rombo nas finanças, R$ 69,07 milhões. Em seguida, o levantamento traz Santo André, com déficit de R$ 30,91milhões, e Rio Grande da Serra, com R$ 17,94 milhões.
A dívida consolidada de R$ 824.918.339 deixada pela gestão José Auricchio Junior (PSD) no fim de 2024 para Tite Campanella restringe a capacidade da cidade em tomar financiamentos com garantia da União, inclusive junto à Caixa Econômica Federal e BNDES, bem como prejudica a capacidade de a prefeitura investir, manter serviços essenciais e até de honrar pagamentos. Com nota C na Capag (Capacidade de Pagamento), São Caetano tem margem reduzida para investimentos em áreas como infraestrutura, saneamento, tecnologia e saúde, impactando diretamente na qualidade de vida dos moradores.
No Grande ABC, apenas Mauá e Rio Grande da Serra alcançaram nota B+, demonstrando melhor disciplina fiscal, mais liquidez e menor comprometimento com dívidas. As demais têm nota C na Capag.
A proporção entre a DCL (Dívida Consolidada Líquida) e a RCL (Receita Corrente Líquida) ajustada é um dos principais indicadores de alerta fiscal e em São Caetano, embora apareça com índice de 34,81%, o déficit primário recorde sinaliza que o endividamento pode se tornar insustentável se mantido o atual ritmo de desequilíbrio, tendo em vista que grande parte da arrecadação está comprometida com o pagamento de débitos acumulados.
Com base nesse indicador, Mauá, com 80,11%, lidera a relação dívida-receita, seguida de Diadema (63,89%) e São Bernardo (63,80%).
MEDIDAS
A Prefeitura de São Caetano reconhece o déficit fiscal registrado em 2024 e informou que já adotou medidas para reverter esse cenário. “O resultado negativo decorre principalmente de pressões extraordinárias com amortizações e investimentos acumulados, mas a atual gestão está empenhada em restabelecer o equilíbrio das contas públicas”, afirmou.
Entre as ações já implementadas pelo governo estão a revisão de contratos e contenção de despesas não essenciais; reestruturação administrativa com foco em eficiência e digitalização; renegociação de dívidas para redução de encargos financeiros; e fortalecimento da arrecadação própria e combate à inadimplência.
“A meta é reverter o déficit já em 2025, melhorar a nota Capag e recuperar a capacidade de investimento do município. Todas as ações seguem sendo conduzidas com responsabilidade e transparência, com acompanhamento técnico e participação da sociedade”, pontuou.
José Auricchio contesta os números
O ex-prefeito de São Caetano José Auricchio Junior (PSD) contestou levantamento dos resultados primários de 2024 realizado pela reportagem, o qual aponta déficit fiscal de R$ 220,79 milhões. O estudo tem como base dados do Siconfi (Sistema de Informações Contábeis e Fiscais do Setor Público Brasileiro).
Segundo o ex-chefe do Executivo, o valor apurado não condiz com os dados de encerramento de sua gestão. “Tomei conhecimento do número de R$ 220,79 milhões de déficit mencionado na reportagem e, desde já, registro minha discordância quanto a esse valor. Até o momento, não recebi qualquer comunicação oficial que apresentasse esse resultado de forma fundamentada”, afirmou.
O pessedista informou ainda que sua equipe está analisando tecnicamente a origem da informação, pois há indícios de que possa estar havendo uma interpretação equivocada entre diferentes indicadores fiscais – como o resultado primário e o resultado orçamentário – que, ‘como sabemos, têm naturezas distintas e não devem ser confundidos’.
“Reafirmo meu compromisso com a responsabilidade fiscal, a transparência e a correta aplicação dos recursos públicos, princípios que sempre orientaram minha gestão. Assim que tivermos uma avaliação mais precisa, estarei à disposição para esclarecer todos os pontos com a seriedade que o tema exige”, destacou Auricchio
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