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Isabel Allende retrata a paixao durante a febre do ouro
Mônica Santos
Da Redaçao
05/02/2000 | 16:10
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  A Filha da Fortuna, o novo livro da chilena Isabel Allende - lançado no ano passado e cuja traduçao feita por Mario Pontes chega agora ao Brasil (Bertrand Brasil, 476 páginas, R$ 38) - é um belo romance. Ele trata da busca de um sonho de amor na Califórnia, durante a febre do ouro ocorrida na segunda metade do século passado.

A obra é o primeiro romance de Isabel após O Plano Infinito, de 1991. Depois deste, ela escreveu Paula e Cartas a Paula, para secar as feridas causadas pela morte prematura da filha. Em 1998, aventurou-se em Afrodite, lançado no Brasil no ano passado e que une, com muito bom humor, receitas afrodisíacas e mitos da sexualidade. De acordo com a própria autora, o livro surgiu da necessidade de encontrar uma soluçao para os sonhos eróticos que a vinham perturbando e ela optou por fazer isto da única maneira que conhece: escrevendo.

Em A Filha da Fortuna, Isabel, de certa maneira, também expoe um pouco de sua vida particular, mas de uma forma menos evidente. Neste, ela recria toda a febre movida pelas pepitas de ouro encontradas na Califórnia para ambientar a história de Eliza, uma jovem de origem incerta, que fora criada no Chile por uma tradicional família inglesa e que embarca como clandestina em um veleiro a fim de tentar encontrar seu amor, um chileno pobre também contaminado pelos sonhos de riqueza.

Para Isabel, o melhor de toda a história - e é este o seu momento de identificaçao com a personagem - é a descoberta da liberdade por Eliza, quando ela, vestida como homem, atravessa os vários redutos de mineiros. "Esta menina foi educada para ser senhorita, que se casa bem, toca piano e fala francês. Mas ao vestir-se de homem ela enfrenta o mundo dos homens, torna-se forte e independente. Em certo momento, montada em um cavalo, ela olha para as estrelas e diz: `Agora estou livre'. Acho isto muito bonito, porque eu também trilhei um caminho árduo para me tornar uma mulher independente", declarou Isabel em entrevista a um jornal chileno, na época do lançamento do livro em seu país.

Eliza Sommers é uma jovem chilena que vive na pequena Valparaíso, no Chile, em 1849, ano em que se descobre ouro na Califórnia. O seu amante, Joaquín Andieta a abandona e parte decidido a fazer fortuna. Grávida, ela decide procurá-lo e, dois meses depois, embarca numa viagem infernal, escondida no porao de um veleiro.

Para trás fica a família que a criou como filha, apesar de ela saber de sua origem incerta e sempre se sentir diferente dos demais. Adiante está a convivência em uma terra onde só há homens e prostitutas, todos atraídos pela febre do ouro. Este processo transforma a jovem inocente em uma mulher fora do comum que recebe o afeto de Tao Chi'en, um médico chinês que a protege ao longo de uma viagem pelos mistérios e contradiçoes da condiçao humana.

O pano de fundo da trama é, no entanto, de igual importância - ou até mais atraente, dependendo do ponto de vista. Ao retratar a saga de Eliza, Isabel caminha por uma época marcada pela violência e pela cobiça, na qual cada personagem redescobre o amor, a amizade, a compaixao e a coragem.

Sempre permeando A Filha da Fortuna com fatos reais, como o preconceito, a disputa entre as raças, a supremacia dos ianques ou até mesmo a chegada das calças jeans - uma criaçao de Levi Strauss que revolucionou o modo de vestir numa época em que era preciso usar roupas resistentes -, a autora faz do livro um apanhado histórico interessante, no qual Eliza, assim como os sonhadores que vao à Califórnia, nao estao imunes às decepçoes, mas vivenciam experiências que marcam para sempre suas vidas.




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