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Reajuste de preços de montadoras compensa bônus
Do Diário do Grande ABC
06/02/2000 | 20:20
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As montadoras já conseguiram, com os aumentos nos preços da semana passada, compensar o desconto que darao na formaçao do bônus dos carros vendidos por meio do programa de renovaçao da frota. A parte das montadoras no bônus, por enquanto, é R$ 300 por veículo. Na semana passada o Gol 1.0 aumentou R$ 283, o Fiesta, R$ 244 e o Palio R$ 180. Modelos médios alcançam diferenças maiores, que passam de R$ 400. Os aumentos apresentam ainda uma coincidência: três dos quatro veículos mais baratos do País - Corsa, Gol e Mille - foram reajustados no mesmo valor - R$ 151.

Os reajustes surpreenderam os concessionários e deixaram o consumidor confuso na medida em que, mais uma vez, vieram acompanhados de descontos. Ou seja, a montadora fixa aumento de um lado, mas imediatamente entra com descontos, em promoçoes conjuntas com as revendas. Essa prática se tornou comum há vários meses, desde que a oferta ficou muito maior do que a demanda. O tamanho destes descontos varia conforme a dificuldade de venda do modelo. Mas, em média, mesmo os veículos mais procurados já estao chegando da fábrica para a loja com abatimentos de até R$ 1.000.

Dependendo da disputa pelo consumidor, o concessionário acrescenta mais abatimentos. E os descontos para quem está levando um carro à vista estao variando de 8% a 16% hoje. Na prática, a indústria nao está repassando preços mais altos para o consumidor. Mas na tabela, a elevaçao fica garantida. E é o valor de tabela que vai valer para quem se inscrever no programa da renovaçao da frota.

Além dos R$ 300 de que a montadora vai abrir mao, o bônus será composto por mais R$ 300 do concessionário. Os governos estaduais vao entrar com R$ 500 na forma de reduçao de ICMS e o governo federal com R$ 700, por meio de IPI menor. No total, um carro vendido no programa de renovaçao terá abatimento de R$ 1.800.

Levando em conta o atual mercado, nao há vantagem. Um Corsa com opcionais está tabelado a R$ 16.700. No programa sairia por R$ 14.900. A concessionária Trans-Am, de Sao Paulo, vendeu carros iguais a este por R$ 14.300 e até R$ 14 mil há poucos dias.

Sucata - O presidente da Associaçao Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), José Carlos Pinheiro, assegura que os aumentos desse mês nao visam a compensaçao do que a indústria terá de desembolsar no programa. Ele lembra que as montadoras terao de gastar mais R$ 400 a R$ 600 por carro que virar sucata porque se comprometeram a cuidar da reciclagem.

Pinheiro Neto estará essa semana em Brasília para tentar a última e mais difícil etapa da negociaçao da frota: convencer a equipe econômica a concordar com o programa sem receio de perder arrecadaçao de impostos. Ele vai se reunir com o secretário da Receita Federal, Everardo Maciel.

Para o professor da USP, Glauco Arbix, pesquisador e escritor de livros sobre a indústria automobilística brasileira, é "óbvia" a intençao da indústria de fixar aumentos para nao perder no programa de renovaçao da frota. "Sempre que estao na iminência de um acordo, as montadoras aumentam preços e o pior é que fazem o mesmo depois dos acordos; isso é vergonhoso", destaca. Ele contesta a argumentaçao do custo da sucata: "A reciclagem deverá ser um negócio lucrativo."

Arbix, que escreveu livro sobre as câmaras setoriais da indústria automobilística, questiona a eficácia do programa de renovaçao. Ele sugere, por exemplo, a necessidade de incluir tempo mínimo de propriedade para os carros velhos que entrarem no programa. A idéia é tirar das ruas, no primeiro ano, veículos com mais de 15 anos, estimulando o proprietário, com os bônus, a comprar outro menos velho ou zero-quilômetro.

Para o professor, se nao for exigido tempo mínimo de propriedade - como foi na França, onde se exigiu nove meses - o Brasil corre o risco de incluir carros roubados no programa. "Os receptadores de veículos roubados pagam muito menos do que R$ 1.800", diz. Ele sugere ainda um tempo de duraçao experimental para que o governo nao perca o controle da fiscalizaçao e do destino da sucata. Na Argentina, a indústria tem problemas para cobrar os bônus do governo e a reciclagem nao foi totalmente resolvida.




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