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Funcionários da Braskem temem novo acidente, revela sindicato

Associação dos químicos do ABC relaciona falta de efetivo com problemas operacionais na petroquímica; empresa diz que possui equipes qualificadas

Thainá Lana
26/03/2025 | 08:38
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FOTO: Celso Luiz/DGABC


“Os funcionários falam que vai acontecer de novo, que as pessoas vão morrer em outro acidente”. Marcio Lisias Barone, secretário do Sindicato dos Químicos do ABC, falou ao Diário sobre o temor que os profissionais passam nas unidades da Braskem, localizada no Polo Petroquímico de Capuava. O relato faz referência a um dos piores acidentes da história do complexo industrial, ocorrido em 2023, em uma das unidades da petroquímica, que matou duas pessoas e deixou outras três feridas.

O receio dos funcionários é devido à falta de efetivo. Segundo Barone, nos últimos anos, o quadro de profissionais contratados diminuiu drasticamente e essa redução tem impactado na qualidade dos serviços prestados e também no acúmulo de funções.

“A falta de efetivo para cumprir os procedimentos impacta diretamente na segurança. Isso ocorre porque com menos pessoas por setor, principalmente nas áreas de maior complexidade, você sobrecarrega os funcionários e com isso a produtividade pode diminuir ou pode provocar erros operacionais, que levam a acidentes”, disse o secretário do sindicato.

Nas quatro unidades da Braskem atuam cerca de 500 funcionários contratados e outros 1.000 terceirizados, de acordo com estimativa da associação dos químicos do ABC. A terceirização do serviço também é criticada pelos representantes do sindicato. Joel Santana de Souza, coordenador da instituição que representa os trabalhadores, alegou que os profissionais mais antigos foram substituídos e que a mão de obra teria sido precarizada.

“A empresa tem colocado trabalhadores mais novos e com pouca experiência para um serviço de alta complexidade. A petroquímica diz que investe em treinamento, porém é de baixa qualidade. Lidamos com produtos muito perigosos, por isso precisamos de pessoas treinadas e comprometidas com a segurança. Eles diminuíram o efetivo do setor de segurança e dizem que é só seguir o procedimento que tudo dará certo, porém, em muitos casos não é possível seguir os procedimentos devido ao alto fluxo de demandas e a constante pressão para finalizar as funções”, relatou Souza.

Os dois representantes do sindicato são funcionários afastados da Braskem, onde atuaram por mais de 30 anos como operadores de processo. Eles relataram que o acidente ocorrido em 2023, onde morreram dois funcionários terceirizados, ocorreu porque um tanque que deveria estar vazio tinha hidrocarboneto, compostos orgânicos altamente inflamáveis.

“O tanque estava em manutenção e bloqueado, porém, eram necessários outros dois procedimentos de segurança para evitar o acidente. Era preciso ter feito o raqueteamento de tubulação para interromper o fluxo e a utilização de um aparelho que identifica a presença de componentes químicos, mas que os funcionários não estavam utilizando. O que aconteceu? Um profissional extremamente experiente, mas que não é operador, emitiu a PT (Permissão de Trabalho), e quando o outro trabalhador terceirizado foi soldar, o gás que saiu por uma escotilha aberta entrou em contato e explodiu tudo. Uma série de problemas que matou dois funcionários”, explicou Marcio Lisias Barone, secretário do Sindicato dos Químicos do ABC.

Dias após o acidente, o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) designou uma força tarefa, composta por dois auditores fiscais do trabalho e um agente de higiene e segurança do trabalho, para investigar as causas do acidente na Braskem. Em dezembro de 2023, o órgão emitiu autos de infração à empresa, entre os motivos estava falta de elaboração de permissão de trabalho para atividades não rotineiras de intervenção nos equipamentos. Questionada sobre as multas aplicadas, o órgão federal não respondeu os questionamentos até o fechamento desta edição.

Procurada, a Braskem alegou que os operadores, equipes de manutenção e de segurança industrial são altamente qualificados e treinados para atuarem em um polo petroquímico, seguindo as práticas da indústria, especialmente no que se refere às medidas e padrões de segurança.

“A Braskem adota os mais rigorosos padrões e normas técnicas, tanto nacionais quanto internacionais, cumprindo todas as exigências legais e priorizando a segurança de nossos integrantes, parceiros e da comunidade local. Valorizamos uma relação de transparência, diálogo e escuta contínua com a comunidade e demais públicos, possuindo canais específicos para esse fim.”




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