Mesmo com tantas projeções e ‘previsões’ para o futuro, estamos cada vez mais ansiosos. Que a tecnologia nos trouxe diversos benefícios em todas as áreas, isso é inegável. Na área da saúde, cirurgias robóticas, novos medicamentos e tratamentos considerados antes inviáveis, salvam a vida das pessoas todos os dias. A previsão do tempo via satélite nos ajuda a programar a mala para uma viagem do outro lado mundo e, inclusive, até nos prevenir para catástrofes como terremotos e tsunamis.
E a comunicação não poderia ficar de fora. A troca de informações por cartas, que demoravam meses para cruzar o oceano, agora chegam de forma instantânea em qualquer lugar e a qualquer hora.
Antigamente, na época do telefone fixo, ficávamos até sem jeito de ligar para a casa das pessoas depois das 22 horas. Mas com sinal da internet em basicamente todos os lugares (são raros onde não encontramos conexão e quando isso acontece, parece que nos falta algo), as mensagens chegam, não importa a hora e o formato – texto, voz, vídeo, fotos e até as famosas figurinhas que não dizem nada, mas expressam muita coisa.
E com tudo isso, o formato e o modo de trabalho mudaram radicalmente. Se antes, o apagar das luzes do escritório às 18h de uma sexta era sinônimo de descanso para muitos, hoje, não significa que o trabalho encerrou. Os smartphones que viraram verdadeiros computadores de bolso recebem notificações 24 horas por dia, com a solução de muitos problemas a um clique.
Acesso a e-mails corporativos, infinitos grupos de trabalho nos aplicativos de mensagens instantâneas e conexão 24 horas podem parecer, a princípio, um aumento da produtividade nas empresas, mas o que ganhamos foi ao contrário. Um levantamento divulgado em março deste ano, baseado nos dados do Ministério da Previdência, indica que apenas em 2024, foram realizados 470 mil afastamentos de trabalho devido a transtornos mentais. Desse número, 141 mil foram por ansiedade e 113 mil por depressão.
De acordo com o Ministério da Saúde, a ansiedade é uma reação emocional que pode estar presente em qualquer momento da vida e ser causada por diferentes situações.
Quando se manifesta de forma exagerada e persistente, atribui sintomas que afetam a saúde física e mental, como insônia, palpitação, falta de ar, tontura, falta de apetite ou compulsão alimentar, entre outros.
Atualmente, temos muitos gatilhos para a ansiedade que se manifestam por tentar antecipar situações que podem ou não acontecer. E o excesso de trabalho é um deles, e os números acima indicam isso.
Será que não chegou o momento de repensar o nosso modo de trabalho e colocar as horas de descanso e lazer na nossa agenda? Em um mundo conectado, que pede produtividade nas 24 horas do dia, dar atenção aos mínimos sinais de exaustão é importante. Que tal negociar horários para respostas de mensagens e acesso aos e-mails e modo de contato em caso de emergências? Que por sinal, muitas delas são impostas por nós mesmo, neste senso de atender tudo e a todos instantaneamente.
E ao menor sinal de ansiedade ou qualquer desconforto físico que esteja afetando a sua qualidade de vida, peça ajuda médica e se possível, psicológica. As Unidades Básicas de Saúde espalhadas em todos os municípios contam com equipes multidisciplinares para acolhimento de demandas de saúde física e mental.
Praticar atividades físicas alivia muito a maioria dos sintomas como a falta de sono e pode tirar a atenção e foco do trabalho por um tempo. Ainda, a meditação, yoga e técnicas de respiração são práticas muito indicadas nesses casos.
Adotar hábitos que te deixam desconectados como ler livros físicos, caminhada com o cachorro, também valem. E já pensou em um próximo encontro de família ou amigos, combinar de estarem literalmente presentes, deixando os celulares nas bolsas? Com certeza, vocês viverão momentos inesquecíveis que vão ficar na memória, proporcionando bons sentimentos e não apenas uma foto com muitos likes nas redes sociais.
Fabiano Gonçalves Guimarães é presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade
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