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Região vê caírem adoções de crianças com mais de 12 anos

Em 2023, foram 15 adotados neste perfil, contra apenas oito em 2024; dados foram levantados pelo TJSP para o ‘Diário’

Tatiane Pamboukian
09/02/2025 | 18:39
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Denis Maciel/DGABC


O número de crianças e adolescentes com mais de 12 anos adotados no ano passado no Grande ABC caiu para quase metade. Em 2023 foram 15 adotados neste perfil, contra apenas oito em 2024. Os dados foram levantados pelo TJSP (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo), a pedido do Diário. 

Santo André, que teve sete adoções nesta faixa etária em 2023, no passado não teve nenhuma. São Caetano caiu de duas adoções para uma; Ribeirão Pires, de três para uma; e Rio Grande da Serra, de uma para nenhuma adoção de crianças e adolescentes com mais de 12 em 2024. Mauá e Diadema se mantiveram com uma e nenhuma, respectivamente. Em São Bernardo, na contramão das outras cidades, de um ano para outro houve aumento de uma adoção para cinco.

Nas 24 instituições acolhedoras presentes no Grande ABC, há apenas 58 crianças e adolescentes no total, 31 delas com mais de 12 anos, disponíveis. Entretanto, há 630 pessoas ou casais (que contam como um mesmo membro) habilitados para serem adotantes, um número dez vezes maior. 

A coordenadora do Grupo de Apoio à Adoção Laços de Ternura, em Santo André, Maria Inês Villalva, diz que as longas filas de espera ocorrem devido à demora do poder público para destituir as crianças do poder familiar e assim torná-las disponíveis para a adoção. Com o longo tempo de espera, as crianças crescem e a cada ano que passa mais se afastam da possibilidade de serem adotadas, já que muitos adotantes fazem restrições quanto à idade. 

“Faltam políticas públicas para apresentar respostas rápidas para as famílias que vivem em situação de vulnerabilidade. Muitas vezes, prolongam o período de acolhimento dos filhos e dificultam a posição da Justiça, em relação à destituição do poder familiar, que, por sua vez, é indispensável para efetivação da adoção. Além disso, há uma alta demanda do judiciário”, avalia Maria Inês. 

No total, foram finalizados 102 processos de adoção em 2024 – 77 dos adotados tinham menos de oito anos. No ano anterior foram 94 adotados, 61 deles com até oito anos. 

SONHOS

Em cada um desses números há sonhos de uma vida, de ambos os lados, e uma espera de anos. O consultor de infraestrutura Randolpho Carvalho Fonseca, 47 anos, e a psicóloga Alvina Domingues dos Santos, 49, não tinham preferência por sexo e raça, a restrição era apenas em relação à idade, até seis anos. Eles ficaram cinco anos na fila até receberem Eduardo, na época com 11 meses. “Éramos habilitados em Niterói e quando ele chegou, em novembro de 2018, morávamos em Porto Alegre. Em janeiro de 2020 mudamos para Santo André”, conta Fonseca – o caso deles foi atípico, pois em apenas quatro dias estavam com o bebê. 

O casal de Santo André Paulo Ferreira Oliveira, 54, supervisor de implantação, e Patrícia Regina Paulino Oliveira, 50, administradora da empresa, adotou há dois anos Ana Clara, com apenas cinco meses na época. A restrição deles era também apenas em relação à idade, pois queriam uma criança de até três anos. Sexo e raça seriam indiferentes.

A bebê veio após uma longa busca. Patrícia tentou a gestação natural por diversas técnicas, como inseminação natural. Chegou a engravidar naturalmente, mas teve aborto espontâneo. “Todo esse processo, além de financeiramente dispendioso, afeta muito nosso lado emocional e psicológico. Decidimos então dar uma pausa nas tentativas e entraram no processo de adoção em 2018”, conta Oliveira. 

Diante da demora, o casal resolveu ampliar o limite de idade, na expectativa de agilizar o processo. “De tempos em tempos fazíamos uma reavaliação para validar ou atualizar o perfil. Aí optamos por aumentar a idade até cinco anos. Abrimos também que poderia ser dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Espírito Santo e Minas Gerais. Estados mais próximos, pois caso aparecesse uma criança destes locais seria necessário fazer viagens para aproximação”, explica. 

Em fevereiro de 2023, receberam a tão sonhada ligação, e justamente do Fórum de Santo André. A bebê havia sido deixada no hospital onde nasceu por decisão da própria genitora e estava em uma instituição de acolhimento da cidade que ficava a somente 20 minutos da residência do casal. Conheceram a criança no fórum e começaram então a fazer o processo de aproximação, visitando a bebê duas vezes por semana.

“Foi um dos momentos mais emocionantes de nossas vidas. Nossa filha finalmente ia chegar. Eu costumo dizer que aquela sala do fórum era como a sala de parto, no lugar dos médicos e enfermeiras, estavam as assistentes sociais. Em junho de 2023 nos foi dada a guarda definitiva”, lembra. 




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