S.Bernardo concentra quase metade do total de locais afetados pelo fogo no Grande ABC
ouça este conteúdo
|
readme
|
O total de áreas atingidas por queimadas no Grande ABC cresceu 300% em 2024. De janeiro a dezembro, 88 hectares – o correspondente a 880 mil m² – foram consumidos pelo fogo nas sete cidades, enquanto que em 2023 foram 22. Segundo dados do Monitor do Fogo do MapBiomas, a extensão do território afetado pelas chamas na região foi a maior já registrada desde o início da contabilização, em 2019.
São Bernardo é responsável por quase metade (47,7%) do total de áreas queimadas. O município contabilizou no ano passado 42 hectares de área de vegetação afetados pelo fogo, sendo todos no mesmo local, em braço da Represa Billings, conforme explicou a pesquisadora do MapBiomas Mata Atlântica e MapBiomas Fogo, Natalia Crusco.
Assim como no restante da região, as áreas de uso mais consumidas pelo fogo em São Bernardo foram os locais antropizados, ou seja, utilizados para atividades humanas, como agricultura e agropecuária. A expansão urbana pode ser uma das principais causas para o aumento de queimadas no Grande ABC, disse a pesquisadora.
Isso porque os locais mais afetados pelo fogo em Mauá e Ribeirão Pires, por exemplo, ficam próximos às áreas urbanas. “Pode ser que exista associação com a expansão urbana e com o manejo de áreas de pasto. Às vezes, as pessoas usam o fogo como técnica para poder manejar esses territórios. Esse método é pouco utilizado na Mata Atlântica, mas ainda acontece”, afirmou Natalia.
Durante agenda em Mauá, em setembro de 2024, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, pediu ajuda dos municípios em cruzada anti-incêndio. Além do desencorajamento de queimadas, ela pediu aos gestores ações de conscientização da população para a questão ambiental e a “preservação de mananciais, de recursos hidrícos e áreas de florestas”.
Em agosto do ano passado, Rio Grande da Serra, que teve oito hectares consumidos pelo fogo em 2024, registrou incêndios na Estrada Guilherme Pinto Monteiro e na Travessa Brasilino de Lima Pinto. O fogo atingiu tubulação desativada da Sabesp – 225 mil metros quadrados de área foram queimados. À época, o Paço afirmou que as queimadas eram clandestinas, porém autuou a Sabesp por degradação vegetal e poluição atmosférica, devido à tubulação desativada abandonada pela companhia.
A contenção dos focos de incêndio em Rio Grande da Serra foi prejudicada por causa justamente dos tubos, compostos por materiais inflamáveis, e também devido ao tempo extremamente seco registrado naquele mês, conforme relatou a administração na ocasião. Inclusive, o longo período de seca contabilizado no Brasil em 2023 e 2024, em decorrência do fenômeno El Niño, foi um fator importante para o crescimento de locais queimados em todo o País.
O Brasil registrou aumento de 79% nas áreas queimadas de seu território e chegou a 30,8 milhões de hectares afetados – área maior que todo o território da Itália, conforme destaca o MapBiomas. Em São Paulo, a elevação de queimadas foi exorbitante, passando de 46,1 mil para 616.3 mil hectares, por causa dos incêndios registrados em agosto em municípios do Interior do Estado. O Corpo de Bombeiros registrou em 2024, 45,1 mil ocorrências de incêndios em vegetação, enquanto que em 2023 foram 26,6 mil.
Estima-se que os incêndios destruíram mais de 181 mil hectares de canaviais e tenham deixado um prejuízo de aproximadamente R$ 1,2 bilhão. A influência de uma onda de calor, o longo período sem chuvas e o aumento dos ventos, em consequência da aproximação de uma frente fria, podem ter contribuído para a propagação dos focos. Porém, também foram registradas ocorrências de incêndios criminais e pelo menos 22 pessoas foram presas.
IMPACTOS
A pesquisadora do MapBiomas reforçou os impactos ambientais ocasionados pelo fogo, com perdas de áreas nativas, manutenção da água, influência nas mudanças climáticas e piora da qualidade do ar. Todos esses fatores influenciam negativamente na saúde da população tanto a curto como a longo prazo. Ela ainda cita os prejuízos econômicos, como ocorreu com os incêndios nos canaviais em São Paulo.
“O fogo em nenhuma área do bioma de floresta tropical é bom, mas em áreas naturais traz danos ainda mais severos. Temos poucos locais de remanescente florestal, então qualquer queima que aconteça é bem prejudicial, pois toda área de floresta é importante, e no Brasil, 70% da população vive em área de Mata Atlântica”, finalizou Natalia.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.