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FHC reconhece que economia ainda está vulnerável
Do Diário do Grande ABC
15/05/2000 | 18:12
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Em discurso de uma hora e meia, ilustrado com 22 gráficos e tabelas, o presidente Fernando Henrique Cardoso rejeitou nesta segunda-feira as críticas dos "falsos profetas" e traçou um quadro positivo do Brasil. "Alguns dizem que o país está de mal a pior, mas nao é verdade, pode nao estar de mal a melhor, mas está de mal a menos mal, pelo menos", disse. O presidente reconheceu que a economia brasileira ainda está vulnerável a fatores externos. Comemorou, porém, o fato de as reservas nao serem "compostas por hot money", mas principalmente por investimentos diretos ou empréstimos de longo prazo.

Fernando Henrique Cardoso alertou para o fato de o Brasil ter de aumentar a sua capacidade de exportaçao. "Senao, vamos ter fragilidade externa", afirmou. O presidente fez o discurso na abertura do 12º Fórum Nacional, no BNDES, para uma platéia de economistas, políticos e empresários. Segundo o presidente, apesar da desvalorizaçao do real, as exportaçoes brasileiras cresceram porque o Brasil nao sofreu conseqüências tao negativas quanto outros países que tomaram a mesma medida com suas moedas. E fez uma recomendaçao aos empresários exportadores: "eles têm que inovar, gerir melhor suas empresas".

Uma das tabelas apresentadas pelo presidente mostrou que as exportaçoes aumentaram, apesar da queda de preços dos produtos no mercado internacional. As exportaçoes totais, no primeiro trimestre deste ano, foram 34,5% maiores do que no mesmo período de 1997, embora o preço tenha diminuído 16,3%. O setor que mais cresceu foi o de manufaturados, com 39,6% a mais de exportaçoes e 12% de diminuiçao do preço.

Apesar de criticar o pessimismo e a "fracassomania", o presidente, no amplo balanço de seu governo, fez questao de nao dar a impressao de excesso de entusiasmo. Citou o político e pensador italiano Antonio Gramsci ao comentar que fazia um apanhado "realista e utópico, pois combina o ceticismo da razao com o necessário otimismo da vontade." E brincou: "Nao se pode dormir nos louros, muito menos nós, que somos morenos, e nao temos tantos louros assim."

Nas tabelas, há várias comparaçoes do Brasil de agora com o das décadas de 70 e 80 e do início dos anos 90. Fernando Henrique mostrou alguns picos de prosperidade que combinaram com os planos Cruzado e Collor, mas lembrou que os índices sempre pioravam, porque nao havia estabilidade duradoura. Uma das tabelas ressaltadas pelo presidente foi a de renda familiar anual per capita, em que 1998 aparece com o melhor resultado, de R$ 3.440 por família. "O avanço tem se mantido sustentado, à diferença do ocorrido em períodos anteriores, quando houve picos de elevaçao seguidos de reduçoes igualmente substanciais", disse. Em 1986, mostrou o presidente, a renda familiar anual chegou a R$ 3.376, passando dois anos mais tarde para R$ 2.618. O menor resultado entre 1977 e o ano passado foi em 1983, com R$ 2.146 de renda anual por família.

Também foi apresentada a proporçao de pobres e ressaltada a queda de 44,2% da populaçao, em 1994, para 32,7%, em 1998, o que prova a diminuiçao da pobreza motivada pelo Plano Real. A proporçao de pobres mais baixa do país aconteceu em 1986, na fase ainda bem sucedida do Plano Cruzado. "Nao está bom, mas houve avanço", fez questao de dizer o presidente. "Ter 32% de pobreza nao basta, tem que ser menos".

Na tabela da formaçao de capital fixo, o presidente também disse que ainda nao está satisfeito com os 19,9% registrados ano passado. "É pouco, precisamos chegar a 25%". Fernando Henrique Cardoso reclamou várias vezes do "pessimismo baseado em nada, a nao ser na vontade de sofrer." No setor social, o presidente mostrou a queda na mortalidade infantil, no analfabetismo e o aumento do percentual de crianças que estudam. Na hora de apresentar uma das tabelas de educaçao, mostrando que em três anos houve resultados melhores do que nos dez anos anteriores, o presidente preferiu nao entrar em detalhes. "Pode passar adiante, senao parece propaganda do governo."

Fernando Henrique ressaltou ainda que em momento algum estava prevendo um "futuro fácil". Citou, por exemplo, a necessidade de tirar 300 mil crianças do trabalho escravo, apesar de 150 mil já terem trocado o emprego forçado pela escola. Segundo o presidente, R$ 17 bilhoes sao distribuídos em programas de renda mínima do governo federal.

Ele rejeitou o senso comum de que os anos 80 e 90 foram décadas perdidas. "Nao há razao para o país perder o ânimo, nas duas últimas décadas houve continuidade da tendência de crescimento." Quando falou dos índices de emprego, "o dado mais preocupante", o presidente procurou buscar aspectos positivos das pesquisas mais recentes. "De outubro de 1999 em diante começou a haver criaçao líquida de empregos", declarou. "Nao há ainda diminuiçao na taxa de desemprego, porque depende da oferta", reconheceu. "Nao pensem que me contento com isso, mas estamos em uma rota da crescimento do país."

Na primeira fila do auditório do BNDES, o economista Celso Furtado, que recebeu das maos de Fernando Henrique o título de Grande Benemérito do Fórum Nacional, considerou o discurso do presidente muito otimista.

"Vejo aspectos que escapam ao presidente ou nao convêm a ele", disse Furtado. E deu um exemplo: "Todo mundo se pergunta por que o Brasil voltou a se endividar tanto, criando dificuldades para o futuro." O Brasil "cresceu liquidando o patrimônio nacional", criticou o economista, que aceita até algum índice de inflaçao, desde que os efeitos sejam corrigidos. Celso Furtado considerou, porém, que o papel do presidente é ser um pouco utópico. Ele tem obrigaçao de criar otimismo, eu sempre fui realista", afirmou.

O presidente Fernando Henrique, de fato, nao falou em números da dívida externa, citando apenas em um trecho do discurso que foi possível "controlar a dívida pública com o decidido esforço de saneamento das contas, aprofundado com as medidas de austeridade adotas em setembro de 1998."

De números do exterior, mostrou uma tabela de investimentos estrangeiros nos últimos oito anos. Entre março do ano passado e março deste ano, foram US$ 23,8 bilhoes em investimentos diretos e US$ 5,4 bilhoes em privatizaçoes, totalizando US$ 29,2 bilhoes. No ano passado inteiro, foram US$ 30 bilhoes e, em 1998, US$ 25,9 bilhoes. Sao números 25 vezes maiores que os de 1992, quando os investimentos estrangeiros foram de US$ 1,6 bilhao. Em 1993 foram apenas US$ 700 mil.




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