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Estratégica Palermo
Heloísa Cestari
Do Diário do Grande ABC
29/07/2010 | 07:53
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Divulgação


Apesar de fundada por fenícios e dominada pelos gregos por longo tempo, toda a estrutura urbana de Palermo, atual capital da Sicília, revela sua indisfarçável preferência pela cultura árabe. Afinal, foram eles que primeiro pensaram em utilizá-la como capital. Também deve-se aos muçulmanos o estilo arquitetônico que predomina em algumas das mais expressivas edificações da cidade.

Os normandos até tentaram pôr fim na influência moura depois que aproveitaram os embalos das primeiras Cruzadas para expulsar os árabes de todo o território siciliano. Mas não foram muito felizes na tarefa. Os antigos templos de reverência a Maomé, por exemplo, foram reformados para ganhar ares de igreja católica. Entretanto, basta olhar o teto para constatar que ali, no passado, muita gente já se ajoelhou na direção de Meca.

É o caso da capela de San Giovanni degli Eremiti, cuja cúpula rosada apresenta o formato semi-esférico típico das grandes mesquitas de culto ao Corão. Mesma situação da Igreja de San Cataldo, que contrasta as cúpulas arredondadas do teto com os expressivos mosaicos normandos do piso.

Já a Catedral de Palermo peca por sua cúpula barroca, que nada tem a ver com as torres, o portal gótico, as portas de bronze e outros detalhes da construção.

O Palazzo Dei Normanni foi construído por árabes no século 9 para servir de residência oficial dos emires - líderes do povo mouro na época. E realmente serviu para recepcioná-los, mas só até o ano de 950, quando os normandos decidiram transformar o edifício num grande centro enaltecedor de sua própria cultura. Depois, vieram os espanhóis, que modificaram toda a fachada do palácio e ainda ergueram grandes pátios ao redor, como o della Fontana, um dos mais importantes de toda a Sicília.

Outros palácios tiveram destinos bastante diferentes: enquanto o gótico Chiaramonte, construído em 1307, serviu de palco para a regional da Santa Inquisição condenar centenas de pessoas à fogueira - além de testemunhar a frustrada tentativa do tribunal palermitano de levar alguns mafiosos locais ao xilindró em 1960 -, no palácio Zisa (que em árabe significa esplêndido), o que prevaleceu foram as orgias do rei de Altavilla em pleno século 12. Nada modesto, o monarca resolveu fazer as vezes de sultão e tratou de rechear o magnífico palácio com as mulheres mais belas de Palermo, transformando-o no mais famoso harém de todo o Mediterrâneo.

Museus - Com tanta história para contar, não é de se estranhar que Palermo disponha de museus com os mais variados temas. A começar pelo Arqueológico Nacional, um dos mais importantes do gênero em toda a Itália, com inúmeros achados de escavações subaquáticas, uma escultura púnica com mais de 2.600 anos, epígrafos em grego, estátuas de divindades mitológicas e diversas relíquias trazidas do sítio arqueológico de Selinunte, além de urnas funerárias e dois sarcófagos femininos do século 5 a.C..

Por falar em mortos, quem não tem medo de alma penada também pode visitar o Catacombe dei Cappuccini. Suas numerosas galerias subterrâneas guardam mais de 8.000 cadáveres de leigos e religiosos ilustres que viveram entre os séculos 17 e 19. Alguns estão reduzidos a esqueletos, mas há outros, mumificados, que permanecem em perfeito estado de conservação, dando a incômoda impressão de que, a qualquer momento, eles poderão levantar e sair andando para puxar o pé dos visitantes. Vários mantêm até as habituais roupas de gala que trajavam em vida, ora sentados, ora de pé.

O segredo para essa fórmula da eternidade - digna de causar inveja a muita socialite por aí - está no sistema natural de ventilação das galerias, que evita a decomposição dos corpos. Antigamente, um dos programas preferidos do palermitano era levar a família ao Cappuccini no domingo para checar se os entes queridos continuavam inteiros...

Se a preferência for por distrações mais leves e artísticas, outros três bons museus são a Galeria de Arte Moderna (com pinturas e esculturas de artistas sicilianos dos séculos 19 e 20), a Galeria Regional da Sicília e o famoso Museu da Marionete, que conta com mais de 2.500 bonecos vindos de diversas partes do mundo, inclusive do Brasil.

Viagem à Idade Média
Perto das construções gregas erguidas há mais de 2.300 anos, os conjuntos arquitetônicos resultantes das invasões posteriores podem até parecer modernos. Afinal, eles remetem apenas a períodos medievais... coisa de mais ou menos mil anos atrás, época em que os portugueses sequer sonhavam em um dia descobrir o Brasil... É ou não é para deixar qualquer um de cabelo branco?

Os ares medievais das ruas estreitas de Erice, por exemplo, dão ao turista a impressão de estar no meio das aventuras do rei Arthur e seus cavaleiros da Távola Redonda. Para completar, além de castelos e outras construções centenárias, a pequena cidade, situada no topo de uma montanha, ainda oferece uma das mais belas vistas da orla siciliana.

Monreale é outra cidade que traz farto cardápio de construções da Idade Média. A principal delas é a catedral bizantina, erguida no ano de 1.172 com adereços em ouro e todo o luxo a que os céus têm direito.

Já em Noto, situada a apenas 32 quilômetros de Siracusa, o que prevalece são as edificações barrocas, levantadas a partir do século 17. Tudo o que foi erguido antes acabou sendo soterrado pelo catastrófico terremoto de 1693. Uma tragédia para a população e, principalmente, para os historiadores.




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