O criminalista Paulo Cunha Bueno, que representa o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou em entrevista à GloboNews nesta sexta-feira, 29, que o grande beneficiado com um golpe de Estado não seria o ex-palaciano, mas sim uma junta militar. Segundo ele, Bolsonaro seria traído pelos militares envolvidos na trama golpista.
"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro. Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado ali. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo", afirmou.
Um documento apreendido com Fernandes, que foi ex-secretário-executivo da Presidência do governo Bolsonaro, previa o assassinato então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2022, por envenenamento ou "uso de químicos para causar um colapso orgânico", considerando a vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais do petista. Ele, outros três militares das Forças Especiais do Exército e um agente da própria PF foram presos na semana passada pela trama golpista.
O relatório final sobre a suposta intentona golpista gestada no governo do ex-presidente, o que o indicia junto com outras 36 pessoas por crimes que, somados, podem chegar a 28 anos de prisão, aponta que Bolsonaro sabia do plano para matar o atual presidente, seu vice e o ministro da Suprema Corte. O advogado negou, dizendo que a trama assassina "nunca chegou ao conhecimento dele".
Bueno também declarou que seu cliente seria traído pelos militares porque não acederia ao golpe. Por essa razão, segundo o advogado, o ex-presidente não tinha a obrigação de denunciar a intentona e que "é crível que as pessoas o abordassem com todo tipo de proposta".
O criminalista também descartou a possibilidade de prisão do ex-presidente. Na visão de Bueno, "não faria sentido que houvesse algum tipo de prisão".
"O que eu espero em primeiro lugar é que meu cliente seja julgado pela corte competente, por juízes imparciais e não por desafetos pessoais. Isto é o mínimo que alguém acusado, eventualmente, tem o direito de ter", disse.
Mudança de versões
Quando a houve divulgação da informação de seu indiciamento, Bolsonaro reagiu pelas redes sociais, afirmando que pode "esperar nada de uma equipe que usa criatividade" para denunciá-lo, além de atacar o ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"O ministro Alexandre de Moraes conduz todo o inquérito, ajusta depoimentos, prende sem denúncia, faz pesca probatória e tem uma assessoria bastante criativa", disse, sobre o relator do inquérito que apura o envolvimento de Bolsonaro na trama golpista. Segundo ele, o ministro "faz tudo o que não diz a lei".
Porém, na entrevista coletiva que deu na última segunda-feira, 25, quando falou pela primeira vez sobre o indiciamento, o ex-presidente afirmou que em nenhum momento discutiu a possibilidade de aplicar um golpe de Estado, mas que estudou "todas as medidas possíveis dentro das quatro linhas", além de que afirmar que "ninguém dá golpe com um general da reserva e meia dúzia de oficiais".
Bolsonaro também afirmou que a palavra golpe "nunca esteve" em seu dicionário. "Não faço e jamais faria algo fora das quatro linhas". Para ele, "dá para resolver os problemas do Brasil dentro da Constituição".
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