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Rei do universo?
Bispo Dom Pedro Cipollini
28/11/2024 | 08:00
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Fernandes


Durante o julgamento de Jesus Cristo, Pilatos lhe perguntou se era rei. Jesus respondeu que sim, mas que seu reino não era deste mundo (cf. Jo 18,33). Naquela época a existência de reis era comum, era o modo de exercer o poder. Hoje, restam poucos reis, a maioria são mais figuras emblemáticas, reinam, mas não governam, e se o fazem é através de um parlamento e um primeiro-ministro.

Neste mês de novembro, encerrando o Ano Litúrgico, a Igreja celebra Jesus como “Rei do Universo”. O que isto quer dizer? Quer dizer que, segundo palavras da Bíblia Sagrada, Jesus é o único mediador da salvação de toda criatura. É nele e por ele que se pode atingir a felicidade e a realização plena, tanto das pessoas como da sociedade e da criação como um todo. Jesus inaugura o reino da verdade e da vida, da justiça e da paz. 

Jesus é rei pela sua autoridade e poder divinos. Não basta que as coisas que se diz sejam grandes, se quem as diz não é grande. Desta forma, Jesus não só tem poder, mas tem também a grandeza da autoridade. Autoridade conferida pela sua natureza divina, confirmada pelo seu testemunho de vida. 

Precisamos distinguir poder de autoridade. Os ditadores e tiranos têm poder, mas não autoridade. Ao passo que alguém sem poder nenhum, pode ter uma autoridade imensa, como foi o caso de Mahatma Gandi. Pois como dizia um sábio da antiguidade clássica: “Não há autoridade que se compare à que se estriba na justiça e se exerce na virtude” (Plínio).

Jesus é rei e seu reino não é deste mundo. Nos reinos deste mundo quem exerce o poder deve exercê-lo pela força e violência, dominando acima dos outros. Jesus tem outro conceito de poder, é o “poder serviço”: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja aquele que serve a todos” (Mc 9,35). No reinado de Cristo, reinar é servir, sem egoísmo, buscando o bem comum, a inclusão de todos na partilha e no amor fraterno.

Jesus rei ensina a necessidade de viver a humildade, convida a procurar fazer dos primeiros postos, um posto de serviço, a valer-se deles para elevar os outros. Quem descobriu que o seu próprio bem está em procurar o bem dos outros, já entrou no reino de Cristo. 

As lutas pelo poder são lutas externas, consequência e manifestação de uma luta invisível, travada no interior da pessoa. Toda falta de harmonia e reconciliação pessoal se exterioriza em atitudes agressivas e conflitivas para com os outros, visando dominar, não raro pela violência de pessoa contra pessoa, grupo contra grupo, até chegar às divisões, polarizações e guerras entre nações. 

Na oração do Pai Nosso, pedimos que “venha a nós o vosso reino”. Este reino que não é um lugar, mas um modo de vida, no qual Deus é louvado pela humanidade que vive a fraternidade universal. Celebrar Jesus Rei do Universo nos desafia a pensar o modo de exercer o poder e a autoridade: “Incumbe àqueles que exercem cargos de autoridade, garantir os valores que atraem a confiança dos membros do grupo e os incitam a colocar-se ao serviço dos seus semelhantes. A participação começa pela educação e pela cultura. Aqueles que exercem alguma autoridade devem exercê-la como quem presta um serviço” (Catecismo da Igreja Católica n.1917/1918).

Pode soar estranho, mas no reino de Cristo, reina com ele os que são maiores e os maiores são os que servem (cf. Mt 23,2). Este é o conceito cristão de poder. Do contrário, vale o que já foi dito: “O poder corrompe e o poder absoluto, corrompe absolutamente”(Lord Acton).




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