O Dia Mundial do Diabetes é 14 de novembro e este ano passou sem muita pompa e divulgação, mas este colunista aguardou apenas a oportunidade para repontuar as nuances mais importantes desta doença.
O diabetes é por definição uma doença resultante da falência total ou relativa da produção insulínica e apresentá-lo em tipos 1 e 2 é correto e didático para observarmos seus diferentes contextos de deflagração e tratamentos.
O diabetes tipo1 (DM1) responde por 10% do total de diabéticos e seu diagnóstico habitualmente ocorre nas três primeiras décadas de vida, comumente antes dos 18 anos de idade e por isso é também denominado diabetes juvenil.
Nestes pacientes toda a população de células pancreáticas produtoras de insulina é destruída, com processo mediado pelo sistema imunológico de maneira incipiente até o exaurimento repentino da produção insulínica com desencadeamento de quadro clínico característico.
O DM1 possui componente genético, pois sabemos que 95% de seus portadores possuem um grupo de proteínas presentes na maioria de suas células, codificadas no cromossoma 6, mas outros fatores modulam seu surgimento, pois a hereditariedade é relativa. Se ambos os pais tiverem DM1, a probabilidade de os filhos possuírem a doença é próxima a 3%, contudo, se apenas a mãe for acometida, as chances são de 1 a 4% para a prole, e quando a ocorrência for apenas paterna esse percentual fica entre 3 e 8%.
Embora confirmado por exames laboratoriais, o diagnóstico do DM1 é frequentemente sugerido por emagrecimento repentino e diurese volumosa em paciente que está ingerindo grande volume de líquidos, assim como, apresentando fome exagerada e seu tratamento medicamentoso é feito exclusivamente com insulina.
O diabetes tipo 2 (DM2) responde por 90% do universo de diabéticos, sendo mais comum a partir da terceira década de vida e por isso chamado de diabetes do adulto, porém, sua ocorrência em jovens tem sido crescente.
Nesta forma da doença as células produtoras de insulina estão presentes, mas diante de fatores que dificultam a ação deste hormônio o pâncreas aumenta progressivamente sua produção, sem que estabeleça o controle glicêmico estreito.
Diferentemente do DM1, o DM2 tem forte componente hereditário e 75% de seus portadores tem história familiar positiva, em outra diferença para o DM1, é possível ter DM2 por muitos anos sem que ocorra sintomatologia evidente e apenas no estágio de exaustão pancreática se apresente o emagrecimento repentino, associado a sede, fome e diurese exageradas.
O tratamento do DM2 pode ser feito com vários medicamentos de uso oral, alguns melhoram a ação da insulina na entrega da glicose, alguns otimizam a produção pancreática de insulina e outros aumentam a excreção urinária de açúcar, mas eventualmente a insulinoterapia é também necessária na doença avançada.
Aproximadamente 80% dos pacientes portadores DM2 são obesos e evitar o ganho ponderal ou revertê-lo a tempo impede essa evolução, o que coloca os medicamentos que proporcionam controle glicêmico e emagrecimento, tais quais Mounjaro e Ozempic, como as escolhas indiscutíveis para essa condição.
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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