Direitos Sociais do Trabalhador Titulo Após oito décadas
Jornada 6x1 pode estar com os dias contados no Brasil

Proposta que coloca fim à escala com um só dia de folga na semana avança no Congresso

Nilton Valentim
17/11/2024 | 09:06
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FOTO: Agência Brasil

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O fim da jornada 6x1, pela qual se trabalha seis dias por semana com um de descanso, ganhou destaque nas redes sociais, virou assunto das rodas de conversa e chegou à Câmara dos Deputados. Na quarta-feira a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP) obteve número de assinaturas suficientes para que a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) comece a tramitar no Congresso Nacional. 

A justificativa para a modificação é proporcionar aos trabalhadores maior tempo para atividades de lazer, cultura ou formação intelectual. “A jornada 6x1 tira do trabalhador o direito de passar tempo com sua família, de cuidar de si, de se divertir, de procurar outro emprego ou até mesmo se qualificar para um emprego melhor. A escala 6x1 é uma prisão, e é incompatível com a dignidade do trabalhador”, justifica a deputada.

A proposta é apoiada por entidades sindicais. “A redução de jornada de trabalho é uma luta histórica”, afirmou Moisés Selerges, presidente do Sindicato dos Metalúrgi-cos do ABC. 

“A ‘viralização’, como se diz no jargão das redes sociais, do tema mostra que se trata de um forte anseio da classe trabalhadora. Os brasileiros querem mais qualidade de vida, bem-estar e menos doenças ocupacionais. Querem, enfim, trabalhar com base em relações mais humanizadas. Isso é possível e é mais do que justo”, afirma Sérgio Nobre, presidente da Força Sindical.

Especialistas vão na mesma linha. “O Brasil tem um potencial muito grande de ganho produtivo dando mais liberdade, tempo livre, ajudando as pessoas a encontrar mais felicidade, conquista-se produtividade. Claro que isso não significa simplesmente cortar um dia de trabalho das pessoas. Para ser bem-sucedida, a mudança deve ser acompanhada de alguma transformação na organização do trabalho”, afirma Francisco Nogueira, psicólogo e psicanalista.

“Em primeiro lugar, esse esquema oferece pouco tempo para que o corpo e a mente se recuperem plenamente dos dias trabalhados – o que pode levar a um acúmulo de fadiga física e mental. Com poucos dias de descanso, o trabalhador fica exposto a um ritmo acelerado constante, o que aumenta os níveis de estresse e eleva o risco de esgotamento”, afirma a psicóloga e psicanalista Luciana Inocêncio, citando a Síndrome de Burnout como exemplo.

Criada em 1943, a escala 6x1 visava garantir minimamente os direitos dos trabalhadores. Ao longo de oito décadas muita coisa mudou e essa forma de trabalho – que inclusive sobreviveu à Reforma Trabalhista de 2017 – continua a ser utilizada no País. Mas vale lembrar que não é a única que regula o tempo que o trabalhador deve dedicar ao empregador.

A modernização do trabalho e das formas de se trabalhar, entretanto, não trouxe benefícios aos trabalhadores, segundo o professor de Direito  da Strong Business School.

Tarso de Melo. 

“O que a gente vê hoje em dia é que cada vez menos pessoas têm a jornada respeitada. Mesmo o trabalhador formal, CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ele vive uma realidade paralela, porque faz bancos de horas infinitos, não recebe por essas horas extras. Elas vão sendo trocadas por outras horas dentro da dinâmica do trabalho. Então, isso toca em questões muito importante porque o trabalhador que ainda não está sofrendo com a desregulamentação completa”, afirma Tarso.




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