Cultura & Lazer Titulo Deusas da Terra
Roteirista andreense critica masculinização no mercado de HQs

Larissa Dias se opõe à sexualização das personagens femininas nos quadrinhos; ‘heroínas e vilãs com seios e quadris avantajados’

Lays Bento
16/11/2024 | 11:31
Compartilhar notícia
FOTO: Divulgação

ouça este conteúdo

“Nos corpos seminus com cintura fina, seios e quadris avantajados, ainda são desenhadas as heroínas e vilãs no universo dos quadrinhos”. A estereotipificação de mulheres ainda é uma das barreiras que desafiam a democratização, em faixa etária e gênero, dos HQs, avalia Larissa Dias, psicoterapeuta vocacional, escritora e roteirista andreense de histórias como a Deusas da Terra – trama contemplada pelo ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), que visa ressignificar a ligação delas com o universo dos quadrinhos.

A criadora, 37 anos, cresceu lendo clássicos de gibi como Turma da Mônica, voltou-se aos livros convencionais na adolescência e retomou o gosto pelos quadrinhos apenas na fase adulta, com as obras poéticas de Edgar Franco e Gazy Andraus. Entretanto, o cenário encontrado foi bem diferente das suas experiências iniciais de leitura. “Tem muita revista que traz o feminino de forma sexualizada. O consumo e a criação ainda são muito masculinos. O que vende nem sempre é bom e as editoras vão olhar o comercial”, detalha. 

Desde então, superar a questão se tornou um desafio para Larissa, que apostou na paixão por mitologia para valorizar as histórias por uma faceta diferente. O primeiro passo foi dado em 2020, quando fundou a revista eletrônica Mitologia Aberta, para debater as crenças que nortearam civilizações, além de indicar, juntamente com um time de comentaristas voluntários, séries, filmes, livros e músicas sobre o tema.

O conteúdo do próprio site se encarregou de facilitar o segundo passo da andreense para humanizar histórias femininas. Em um dos chats de discussão, em 2022, ela conheceu Piero Bagnariol, desenhista responsável pela sua atual HQ Deusas da Terra, de 132 páginas em artes de aquarela, que narram a ficção de uma sacerdotisa, vinda de uma aldeia mágica e sagrada, com a missão de salvar o mundo dos desastres ambientais.

A obra foi lançada em 2023 na Casa do Olhar Luiz Sacilotto e na Livraria Martins Fontes. “Fico orgulhosa porque, assim como outras HQs, tem começado a abrir espaço. Buscamos não sexualizar nossas personagens. Acredito na batalha pela igualdade e não necessariamente no título de feminista. Como mulher, sei dos preconceitos, mas produzir assim não se torna algo só delas”, defende.

No propósito de atrair diferentes públicos, Larissa contou ao Diário que já produz, para lançar em 2025, seu próximo HQ, Xamãs. “Se uma menina pega um livro e vê o nome de uma mulher, também enxerga que é capaz de fazer igual ou melhor. Quando a gente vence as dificuldades das gerações passadas, cria um futuro completamente diferente na geração atual. E é isso que inspira outras pessoas a continuarem o legado para que haja uma diversidade no caminho”, finaliza.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga. Conteúdo acessível em Libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro, Hosana ou Guga.
;