O tempo consome as horas e os dias.
O tempo consome as coisas e todos os anseios para adquiri-las.
O tempo consome a alegria e a tristeza.
O tempo consome a dor, que se transforma em nada.
Apesar de que o nada sempre aspira a tornar-se algo com o passar do tempo. Às vezes consegue, só pelo capricho de, posteriormente, ser consumido. Talvez lhe cause regozijo nascer, mesmo sabendo que terá de perecer um dia. Assim, aliás, é o ser humano. Justamente porque vem do nada, ao nada deve retornar. E a consciência dessa realidade, por certo, não lhe causa conforto, embora saiba que não há outra alternativa senão aceitá-la.
O tempo ri de todos. Faz chacota do poder de homens que têm a pretensão de vencê-lo.
O tempo zomba da beligerância que aterroriza e que se consome, pouco a pouco.
O tempo abusa do seu poder, porque lhe fora concedido o direito de, simplesmente, passar, segundo a segundo, hora a hora, dia a dia...
O tempo não faz barulho. Antes, caminha silenciosamente, arrastando consigo coisas e gente.
A Terra gira em torno de si mesma e em torno do Sol. Isso aprendemos desde cedo na escola. Só não aprendemos que o tempo que leva esse bailado é o mesmo que nos conduz ao fim em poucos movimentos de translação.
E o homem, a quem cabe desfrutar deste paraíso enquanto há tempo, consome sua natureza, que nem cupim, que devora a madeira e o papel, no afã de também engolir o que mais estiver por perto.
O tempo é implacável e leva consigo seres devoradores de todos os tamanhos, cores, credos, gêneros e castas. Sobram apenas suas histórias, em parte, consumidas pelo tempo.
O tempo consome a beleza.
O tempo consome as paixões.
O tempo consome o desalento e não poupa a esperança.
O tempo produz a saudade, mas também acaba por consumi-la, assim bestamente.
O tempo consome a tecnologia só para colocar outra no lugar, esta que, não demora, também se tornará nada, até que nada reste do que se produziu.
O tempo está fechado para acordos e está aberto para dar fim a tudo aquilo que um dia começou.
Não se negocia com o tempo, tampouco se usa de chantagem ou suborno para extrair-lhe a benevolência da eternidade.
O tempo é justo e determinado.
O tempo soa até irônico e sarcástico.
O tempo propicia as lembranças, só para depois, debochado que é, desbotá-las e, por fim, apagá-las.
O tempo consome o sentimento humano repleto de apego, de posse, de domínio, de poder sobre o outro, embora este mesmo sentimento continue a brotar como erva daninha em outras gerações, com ainda mais vigor.
A estupidez resiste ao tempo, embora tenda, em curto espaço de tempo, a sucumbir ao seu poder, uma vez que conduz o planeta à ruína, ou melhor, conduz as civilizações ao desastre, já que a Terra, extinta a humanidade, há de seguir o seu curso, assim como começou. E, quem sabe, possa, com o tempo, renovar-se.
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