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Novo filme de Tata Amaral tem estréia mundial em Roterda
Do Diário do Grande ABC
01/02/2000 | 17:12
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Será nesta quarta-feira, em Roterda, a estréia mundial de Através da Janela, o esperado segundo longa-metragem de Tata Amaral. O filme será visto num dos mais interessantes festivais de cinema independente do mundo. "Aliás, no mais interessante deles", segundo opiniao da diretora, que já embarcou para a Holanda. Para Tata, o mais badalado dos "indies", o Festival de Sundance, mudou de configuraçao. "Já é muito procurado pelos produtores de Hollywood, está hoje mais preocupado com as exigências imediatas do mercado", diz.

O longa de estréia de Tata, Um Céu de Estrelas, foi sucesso de crítica no Brasil e também muito comentado pelos festivais por onde passou, Roterda entre eles. Daí a expectativa pela continuaçao de seu trabalho como cineasta. Em Através da Janela, Tata diz aprofundar a pesquisa em torno do trágico, iniciada com o primeiro longa-metragem. No centro da trama, a delicada relaçao entre mae e filho, Selma (Laura Cardoso) e Raí (Fransérgio Araújo) que vivem sós em um sobradinho de classe média. O pai já morreu. Há algo de levemente edipiano na relaçao. Nada muito explícito. Selma é a provedora. Mas também aquela que pretende assumir controle absoluto sobre a vida do filho. Aquele tipo de opressao familiar comumente disfarçado sob a forma de amor.

"Acho que, no fundo, Através da Janela é mais cruel do que Um Céu de Estrelas", diz a diretora. Afirmaçao surpreendente, pelo menos para quem se lembra do primeiro longa-metragem. Nele, um drama sangrento se desencadeia quando uma cabeleireira da periferia paulistana resolve romper seu noivado ao ganhar uma passagem para Miami. Agora, o que movimenta a trama é outra coisa.

Ao longo de cinco dias, Selma vai notando que existe toda uma parte da história de Raí que desconhece. Essa revelaçao é feita aos poucos - à personagem e ao público. Tata usa um método de repetiçao. Cada dia começa do mesmo jeito que o anterior, com pequenas diferenças, como numa música minimalista. A técnica de filmagem vai surpreender os fas de Um Céu de Estrelas. Neste, Tata caprichava na câmera ágil, instável, acompanhando o desequilíbrio emocional das figuras em cena. Em Através da Janela , vê-se quase todo o tempo uma câmera "tranqüila", estável, bem-comportada sobre o seu tripé.

"O método de filmagem é determinado pela história a ser contada, nao um valor em si", afirma a cineasta. De fato, afinar seu instrumento de trabalho em funçao daquilo que a temática pede é obrigaçao número um de um diretor. Mas nao se pense que à "estabilidade" visual das cenas corresponda um mundo plácido e seguro. Ao contrário. A cada volta do ponteiro, a cada dia que passa e na aparência começa do mesmo jeito, percebe-se um mundo prestes a desmoronar.

O quietinho Raí começa a sair do regaço materno. A mae nao tem elementos para decodificar - e menos ainda para evitar - esta fuga. Ao mesmo tempo, os indícios a levam a pensar no pior, o que nao chega a ser pessimismo da sua parte. Esse mundo em instabilidade, no qual os personagens nao dominam seus destinos, é o da tragédia, uma opçao estética da diretora e da equipe que trabalha com ela, em especial os escritores Fernando Bonassi e Jean-Claude Bernardet.

Participantes - A estréia mundial de Através da Janela nao será a única atraçao brasileira em Roterda: outros 16 filmes nacionais participam do evento. Entre eles, os longas-metragens Santo Forte, de Eduardo Coutinho, Dois Córregos, de Carlos Reichenbach, e Orfeu, de Cacá Diegues. O diretor Julio Bressane ganhará uma retrospectiva com seis filmes de sua autoria, do clássico Matou a Família e Foi ao Cinema, aomais recente, Sao Jerônimo.




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