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Economia sem aventura
Aurélio Alonso
Rede APJ
20/09/2010 | 07:48
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Se eleita, a candidata a presidente da República pelo PV, Marina Silva, vai manter a política econômica do atual governo em relação ao câmbio flutuante e meta de inflação. Marina Silva falou por mais de uma hora na sede da APJ (Associação Paulista de Jornais), na Capital paulista. Ela é a segunda - o primeiro foi o presidenciável tucano José Serra (PSDB) - entrevistada na série de sabatinas do projeto Agenda Brasil da Rede APJ.

A candidata elogiou o governo Lula no fortalecimento da Polícia Federal para o combate de atos de improbidade administrativa.

Marina defende a construção do TAV (Trem de Alta Velocidade, o trem-bala, se custeado com recursos privados, mas se for necessário escolher entre investir em Educação e no TAV, ela diz que prefere que o investimento público seja no ensino.

Na opinião da candidata do PV também é preciso fazer reforma na área de Segurança Pública.

Apesar de comedida e de elogiar o governo Lula na área social, Marina discorda da postura do atual governo no tratamento do episódio da quebra dos sigilos fiscais. Ela criticou o presidente da República ao se pronunciar sobre o caso por ter, segundo entende, se preocupado em fazer a defesa da candidata Dilma Rousseff (PT) e "banalizado" o caso. "A quebra do sigilo fiscal é muito grave. É o descontrole da gestão pública", afirma.

A seguir os principais trechos da sabatina:

CONCENTRAÇÃO DAS CIDADES

"As grandes cidades precisam ser repensadas e há exemplos positivos disso no mundo como Bogotá e Nova York. Há autonomia dos Estados e das cidades, mas alguns investimentos não podem ser feitos sem parceria com o governo federal. Um problema é a questão da mobilidade. As pessoas estão passando três horas do dia dentro de um carro porque não conseguem chegar ao trabalho, à escola e à sua casa. São Paulo, Rio de Janeiro e outras metrópoles são o exemplo cabal disso. As pessoas cada vez mais morando distante do trabalho ou morando onde estudam. É preciso pensar políticas habitacionais já considerando os aspectos de qualidade de vida e da mobilidade e de bem-estar, de vida digna para as pessoas."

ECONOMIA

"Não vamos fazer aventura na política econômica. Temos que aprender a ter uma visão cidadã. As conquistas não podem ser atribuídas como o carimbo de um governo ou de um partido, mas de uma sociedade. Quem assume o governo vai dar um passo a partir do atual momento. Sempre no sentido de melhorar e aperfeiçoar, nunca para retroceder. Nesses 13 a 14 anos com o Plano Real, conseguimos a estabilidade da moeda, a política no famoso tripé: câmbio flutuante, meta de inflação e superávit primário. Vamos fazer os reajustes necessários, porque o controle da inflação elevando os juros é uma política de baixo investimento. Com isso não conseguimos alavancar a economia nos investimentos que gostaríamos de ter inclusive no setor ligado à infraestrutura. Vamos combinar ferramentas de política econômica com ação do governo federal reduzindo o gasto público. Para isso tem que se buscar mais eficiência, evitar o desperdício e limitar o gasto público à metade do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Com isso, acredito que se faz o equilíbrio fiscal e progressivamente vai evitando ter que controlar a inflação com elevação dos juros."

 

CASOS DE CORRUPÇÃO NO GOVERNO LULA

"Sempre tivemos corrupção em todos os governos. Quem não se lembra da aprovação da emenda que possibilitou a reeleição a cargos majoritários (gestão de Fernando Henrique Cardoso). Não é porque eu estou em outro partido que vou dizer que o presidente (Lula) foi conivente. Eu ouvi ele sempre dizer que deveria ser investigado e punidos os culpados. Uma coisa importante que aconteceu foi que durante os últimos anos tivemos um investimento sério na Polícia Federal e aumentaram as investigações e apareceu uma série de questões que estavam debaixo do tapete há anos. No Ministério do Meio Ambiente, a primeira coisa que fiz foi pedir ajuda para a Polícia Federal. Fizemos 25 grandes operações, 725 pessoas foram presas, das quais 120 funcionários do Ibama, envolvidos em corrupção há décadas. Combater a corrupção no meu entendimento é um processo permanente, ninguém vai poder dizer que vai acabar, é uma corrida todo o dia. O que resolve é o funcionamento correto das instituições e a combinação de pessoas e instituições virtuosas. Se pegarmos o que ocorreu na Receita Federal é a falência da instituição, porque não está virtuosa e quem tem a responsabilidade de corrigir está banalizando o que aconteceu. Você ouve do ministro da Fazenda dizendo que isso é corriqueiro, isso é muito grave. A quebra do sigilo fiscal é muito grave. É o descontrole na gestão pública."

 

QUEBRA DOS SIGILOS E ENVOLVIMENTO DO PT

"Não vou fazer prejulgamento, eu quero que sejam investigados e punidos os culpados. Obviamente, tem pessoas que estão sendo atingidas diretamente ligadas ao governador José Serra. O sigilo fiscal das pessoas é protegido por lei. E o ministro vem a público para dizer que era corriqueiro. Lamentavelmente, todos ficam se sentindo desamparados. O presidente quando se pronunciou foi para defender sua candidata e não para defender o cidadão brasileiro. Esse tipo de situação não pode ser banalizada. Ninguém se beneficia eleitoralmente de uma coisa como essa. Não vou pelo discurso fácil. O tempo todo tenho dito que não vou fazer acusações sem provas, não vou ficar numa postura eleitoreira. Quero que haja investigação, punição e transparência em relação ao que está acontecendo. Essa é a minha atitude independentemente de render ou não render votos."

 

ELEIÇÃO PLEBISCITÁRIA (ENTRE O PT E O TUCANATO)

"Acho que isso já foi rompido. Os dois candidatos, tanto a candidata oficial e o oficialmente de oposição, tentaram, mas rompemos o plebiscito. Temos três candidaturas que estão participando dos debates. Segundo as pesquisas, temos 10% e representam de 13 a 14 milhões de votos. Acho que é possível apresentar propostas, respeitar a pró-atividade do eleitor para que ele possa vir à cena. A única pessoa que se for para o segundo turno será pelas mãos do eleitor sou eu. Outros irão para o segundo turno pelas mãos das coligações, das suas estruturas e pelo seu tempo de televisão. Eu, se for para o segundo turno, pela pouca estrutura e pouco tempo de televisão, só tenho um ator por essa vitória: o povo brasileiro."

 

TREM-BALA

"A questão para ser discutida é se há os recursos para fazer os investimentos ou será feito pela iniciativa privada. Se tivermos de fazer uma opção entre a Educação e o trem-bala a minha opção será pela Educação. Temos problemas de mobilidade e temos que resolver. Com relação à infraestrutura falta um plano e planejamento. Os aeroportos, os portos e o setor energético correm o risco de apagão. Não se pode ser um País que finaliza um crescimento de 7% e fica o tempo todo na berlinda de um apagão se não sair a hidrelétrica da hora. Falta planejamento. Estes investimentos têm de que ser repensados no curto prazo, evitar o colapso. Não é só pensar numa junção de obras. Tem que ter diretriz, em cima dela criar programas e em cima dos programas fazer os investimentos corretos, você busca captar os recursos também junto à iniciativa privada, para que não seja apenas do Estado. Você cria o marco regulatório, inclusive no caso dos aeroportos é preciso ter a parceria da iniciativa privada, e não existe marco regulatório que possibilite isso adequadamente."

 

SEGURANÇA PÚBLICA

"Defendo uma reforma na Segurança Pública, não adianta fazer puxadinho. Fazer um ministério em cima da base que nós temos é fazer um puxadinho. Tem que pensar na reforma para combate ao tráfico de armas e drogas, com a Polícia Federal e o Exército, que está ganhando novas atribuições legais para exercer o poder de polícia em relação aos crimes que são praticados de tráfico de armas e drogas. Isso tem que ser feito adequadamente para que não se desloque das suas funções as Forças Armadas. Tem que ter ação repressiva para combater o tráfico de armas e drogas e coibir essa avalanche que está tomando conta do País. Ao mesmo tempo valorizar as polícias, pagar um salário justo e adequado, ter um olhar para a Polícia Civil e Militar. Hoje um faz o policiamento ostensivo e fardado e a outra faz a investigação, mas os processos não se encontram e não há uma coerência no trabalho das policias. É preciso que as políticas tenham uma atuação de ciclo fechado, completo, onde cada uma faça seu trabalho, como ocorre em vários lugares do mundo. Cada um faz sua atividade com começo, meio e fim. Pensar as políticas comunitárias como forma de envolver a comunidade na prevenção do crime. E alternativas para que nossas crianças e jovens não sejam tragadas pelo tráfico."

 




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