Presidente da ApexBrasil diz que setor de autopeças tem sobrevida maior com essa tecnologia do que com os 100% elétricos
O mercado automotivo no Brasil passa por um momento histórico de investimentos e uma revolução na adaptação das montadoras aos novos modelos de veículos. Mas para o presidente da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), Jorge Viana, se o País focar apenas nos elétricos, toda uma cadeia produtiva será afetada. “A transição da mobilidade do Brasil para o carro elétrico, em um país que tem o biocombustível, o etanol, não seria boa para o país e muito menos para o Grande ABC. Se a gente ficar vendo a chegada de navios carregados de veículos elétricos vindos da China isso vai se tornar uma grande furada para o Brasil”, afirmou.
Em uma conversa exclusiva com o Diário durante evento da agência em Bangkok, capital tailandesa, Viana explicou que um carro elétrico tem de 500 a 600 componentes, enquanto um a combustão tradicional tem cerca de 6.000 peças. Ressaltou também que cada cidade do Brasil tem pelo menos uma rua de lojas de autopeças. “A alta capilaridade, já que o Brasil fez a opção pelo carro e não pelo trem, é algo que vai mudar muito e isso afeta diretamente o Grande ABC, porque toda uma indústria de reposição vai ter uma sobrevida de 15 ou 20 anos no máximo, até vir completamente o carro de hidrogênio e o elétrico”, justificou.
Viana não está só. Um estudo do Boston Consulting Group, Anfavea e Sindipeças divulgado em 2023 já apontava que 83% das empresas automotivas brasileiras acreditam que o Brasil deve manter o foco em veículos flex fuel, enquanto avança na transição para a eletrificação. A pesquisa ouviu mais de 65 indústrias do setor, incluindo montadoras e fabricantes de peças.
O fato é que as montadoras vêm investindo pesado no desenvolvimento de tecnologias de descarbonização, em especial a chamada tecnologia bio-hybrid — modelo que combina a eletrificação com motores flex movidos a etanol. O nome é em inglês, mas se trata do híbrido flex, uma inovação de origem brasileira.
Mas por que o mundo está correndo então para o elétrico? Por causa dos gases poluentes. “Mas as emissões do Brasil estão mais ligadas às queimadas e desmatamentos do que as geradas por matrizes energéticas”, lembrou o presidente da ApexBrasil, que citou a nova fábrica da Toyota em Sorocaba, no Interior de São Paulo, como sendo uma possível tábua de salvação para muitas empresas. “Quando ficar pronta, vai dar uma sobrevida maior para as fábricas de autopeças do Grande ABC”, previu.
A montadora japonesa anunciou no início de março um plano de investimento de R$ 11 bilhões no Brasil até 2030. A nova planta, que deve ficar pronta até 2026, terá condições de montar baterias para veículos híbridos flex no Brasil nos próximos anos.
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