As mudanças climáticas, manifestadas no aumento da temperatura global, nas inundações, ondas de calor, seca, eventos climáticos exacerbados, exposição de novas doenças, fome, imigração e prejuízo aos recursos naturais que são sustento a vida, se tornaram o maior determinante de saúde do século, pois impactam diretamente a saúde humana e não humana. Por isso é urgente que profissionais de saúde compreendam e estejam preparados para adaptar, gerenciar, mitigar e qualificar o seu cuidado às pessoas e comunidades de acordo com a condição de Emergência de Saúde Climática, Humana e Planetária que vivemos, como alertado em carta pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, publicada em 17 de setembro de 2024.
A poluição do ar, que tem como um dos grandes contribuintes as emissões de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis, e também das queimadas florestais, exacerbam transtornos respiratórios como asma, bronquite, doença pulmonar obstrutiva crônica e outras doenças de caráter cardiovascular, dermatológico, neurológico, mental, infectocontagiosas e relacionados a fertilidade. A poluição do ar já é considerada a segunda maior causa de mortes no mundo.
O calor intenso, por exemplo, pode agravar casos de pressão alta e aumentar o risco de alterações cardíacas, especialmente entre os idosos e crianças, pessoas com doenças crônicas, usuários de determinados medicamentos, pessoas que trabalham ao ar livre e populações mais vulneráveis. Transtornos como desidratação, estresse por calor e insolação fazem cada vez mais parte da rotina clínica e merecem atenção dos serviços e profissionais de saúde para realizarem o plano terapêutico mais adequado.
Além disso, doenças transmitidas por mosquitos, como dengue, zika e chikungunya, também estão se espalhando por conta das mudanças no clima. O calor e o aumento das chuvas favorecem o aumento da carga vetorial e, logo, o risco de surtos. Isso significa que, além de tratar essas doenças, os médicos devem orientar as pessoas sobre como evitá-las, indicando o uso de repelentes, a eliminação de locais onde a água parada pode servir como criadouro de mosquitos, dentre outras ações.
A saúde mental é outra área que sofre com a crise climática. Desastres socioambientais, como enchentes e deslizamentos de terra, causam traumas e aumentam casos de ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Além da solastalgia, termo que define o adoecimento mental relacionado as mudanças negativas no ambiente. E isso também exige conhecimento dos profissionais para o apoio a estas condições.
Para enfrentar esses novos desafios, a formação médica precisa incluir em sua grade a Saúde Planetária, campo transdisciplinar que discute os impactos das mudanças climáticas na saúde e suas formas de mitigação e adaptação. Cursos, palestras e atualizações sobre o tema são essenciais para que os médicos e médicas entendam como o clima interfere no ecossistema e as vidas de uma forma geral, e para que saibam lidar com essas situações. A medicina de família e comunidade, em especial, tem um papel fundamental, pois acompanha os pacientes em seu território e pode observar de que forma esses fatores ambientais afetam o dia a dia das pessoas, além de orientá-las através da resiliência climática em como se protegerem, adaptarem e recuperarem diante das mudanças do clima.
É papel dos médicos e médicas saberem orientar sobre as informações mais simples como hidratação nos dias quentes, evitar longos períodos exposto ao sol, até as medidas de caráter de emergência como em casos de estresse por calor, e medidas baseadas na realidade de cada pessoa e comunidade, relacionadas a adoção de hábitos saudáveis, transporte ativo, consumo consciente, reconexão com a natureza, atenção a qualidade do ar e organização coletiva para buscar apoio através de políticas públicas.
As mudanças climáticas são um desafio global, e seus efeitos se refletem na saúde das pessoas. Para que a saúde pública consiga enfrentar essa nova realidade, é essencial que os médicos e médicas estejam preparados para entender e lidar com os impactos climáticos na saúde dos seus pacientes. Dessa forma, estarão melhor capacitados para oferecer um cuidado adaptado e equitativo às necessidades de cada um, como das populações mais vulneráveis, apoiando as pessoas ao enfrentamento das ameaças do mundo de forma mais saudável, segura e com respeito ao planeta.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.