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Segundo turno tem abstenção recorde de 31,23% no Grande ABC

Deixaram de votar 406,6 mil eleitores aptos em São Bernardo, Diadema e Mauá

Anderson Amaral
28/10/2024 | 20:33
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FOTO: Divulgação/EBC

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Três a cada dez eleitores aptos a votar nas três cidades onde houve 2º turno no Grande ABC (São Bernardo, Diadema e Mauá) não compareceram às urnas, segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral). De 1,301 milhão de pessoas que compõem o eleitorado nesses municípios, 406,6 mil deixaram de votar, ou 31,23% do total. No primeiro turno, o índice médio ficou em 25,6%.

A taxa de abstenção no 2º turno do pleito deste ano é a maior desde a fase final das eleições de 2000 (veja gráfico ao lado) – mais alta, inclusive, do que a do turno decisivo de 2020, realizado durante o auge da pandemia de Covid-19. Naquele ano, a ausência foi de 28,72%. 

Em São Bernardo, o número de faltosos (207.712) superou, inclusive, a votação do prefeito eleito, Marcelo Lima (Podemos, 205.831). Nulos e brancos somaram mais 66.051, o que significa dizer que 42,57% dos eleitores não votaram ou não escolheram nenhum dos dois candidatos no segundo turno na cidade – indicador este que é comumente chamado de ‘não voto’.

Em Mauá, o total de ausentes (97.318) superou a votação obtida pelo segundo colocado, Atila Jacomussi (União Brasil, 86.817). Porém, somados os votos nulos e brancos (32.187), o contingente de eleitores que não votaram em nenhum dos dois candidatos chegou a 129.515 (40,7% do eleitorado), bem acima dos votos obtidos por Marcelo Oliveira (PT, 102.115).

Situação semelhante ocorreu em Diadema. Tanto Taka Yamauchi (MDB, 116.003) como José de Filippi Júnior (PT, 104.556) tiveram mais votos do que o total de abstenções (101.592) no 2º turno. Porém, somados os votos nulos e brancos (18.222), o ‘não voto’ chegou a 119.814, ou 35,2%.

AVALIAÇÃO

Diego Corrêa, professor de Ciência Política da UFABC (Universidade Federal do ABC), explica que, historicamente, a abstenção no 2º turno costuma ser maior que a da fase inicial. “Há uma razão simples para isso: as pessoas que votaram no 1º turno e viram que seu candidato não avançou tendem a se sentir menos motivadas para votar”, explicou. 

O professor, porém, citou como exceção à regra o 2º turno em Fortaleza, onde a taxa de abstenção foi de 15,84%, a menor entre as cidades com a segunda etapa do pleito. “A cidade teve uma eleição muito acirrada, com o candidato do PT (Evandro Leitão) vencendo por pequena margem de votos. Isso motiva as pessoas a votar, porque elas sabem que um voto, para um lado ou para o outro, pode fazer a diferença.”

Corrêa destaca ainda que, como o gráfico mostra, a taxa apresenta tendência histórica de crescimento, que não ocorre só no Brasil, mas no mundo inteiro. “Essa curva ascendente é fruto do desenvolvimento. Nos locais mais desenvolvidos, as pessoas têm mais renda, são mais móveis e têm mais condição de viajar e ir para outras cidades, o que diminui a taxa de comparecimento, porque as pessoas não veem razão para voltar e depositar o voto na urna. É uma relação de custo-benefício”, prossegue.

O especialista ressalta que o custo operacional de não votar no Brasil é baixo – o que, na prática, torna facultativo o voto que, segundo a Constituição, é obrigatório. “Justificar é muito fácil. Hoje, você pode fazer isso pelo e-Título, e a multa é muito baixa. Nos anos 1980, 1990, a abstenção era pequena porque as pessoas ficavam com medo, havia uma série de punições. Agora, as pessoas perderam o medo de não votar.”

Corrêa discorda da tese comumente aceita segundo a qual a taxa de abstenção vem aumentando devido ao crescente desencanto com a classe política. “É uma tendência natural. Pode ter certeza de que, daqui a quatro anos, a taxa vai aumentar, mas isso não significa que as pessoas estão apáticas para a política.”




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