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Crianças palestinas preferem prisão à viver na pobreza
Da AFP
30/11/2005 | 11:58
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Levadas pelo desespero e a pobreza, crianças palestinas preferem arriscar a vida com falsos ataques a postos de controle do exército israelense na Cisjordânia e acabar, assim, na prisão, onde poderão estudar e conseguir dinheiro para suas famílias.

O exército israelense anuncia regularmente a prisão de crianças e adolescentes palestinos que, com armas de fabricação local, a maioria falsa, aproximam-se do posto de controle militar de Hawara, na entrada de Nablus, Cisjordânia, com a intenção de atacá-lo.

Mohammad, 14 anos, originário do campo de refugiados de Balata, é um desses adolescentes. Preso em Hawara no último dia 15, "armado" com um tubo metálico cheio de açúcar e pó de café, foi libertado no mesmo dia. "Queria ir para a prisão porque estou farto dessa vida. Prefiro a prisão porque ali posso estudar e, além disso, receberia uma ajuda mensal", disse, referindo-se aos US$ 300 que o ministério palestino responsável pelos prisioneiros paga por mês às famílias dos detidos em prisões israelenses.

Uma fonte militar israelense informou que 49 palestinos, a maioria jovens, foram presos no posto de Hawara desde o começo de 2005, por tentarem apunhalar soldados ou portarem "pistolas artesanais". "A maior parte dessas crianças são de famílias pobres e têm problemas com os pais ou na escola. As organizações terroristas lhes prometem dinheiro e as fazem acreditar que serão heróis ou mártires no paraíso".

Alaa Sanakra, chefe em Nablus das Brigadas dos Mártires de Al Aqsa, formação radical nascida do movimento Fatah, negou que os grupos armados usem crianças em atentados. "A maioria dos jovens vive na pobreza dos campos de refugiados e para eles nada tem valor, mas nós não os enviamos para realizar atentados, porque isso é proibido por nossa religião", destacou. "Quando queremos realizar um atentado, não enviamos os homens-bomba para atacar postos de controle israelenses".

Uma autoridade dos serviços palestinos de segurança, que pediu para não ser identificada, disse que alguns pais de origem humilde enviam os filhos para Hawara com armas artesanais para que os soldados israelenses os prendam. "Ao chegar ao posto de controle, a criança grita que está armada com uma faca ou explosivos sabendo que, a partir do momento em que ela estiver na prisão, sua família receberá o subsídio palestino", explicou. "Não percebem que colocam a vida em risco, porque os soldados podem atirar e matá-los sem verificar se eles estavam realmente armados."

Outra autoridade da área de segurança palestina confirmou que crianças e jovens deixam-se prender em Hawara antes dos exames de acesso ao ensino universitário, porque "eles são mais fáceis para os que estão na prisão". Para tentar acabar com esse costume, as Brigadas de Al-Aqsa pediram ao presidente da Autoridade Palestina e líder do Fatah, Mahmud Abbas que autorize apenas aqueles que estão há mais de um ano presos a fazer os exames na prisão, informou Nasser Abu Aziz, um dos chefes do grupo radical.




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