A flora, ou microbiota intestinal, é o conjunto de microrganismos que habita o trato gastrointestinal e através da produção de inúmeras substâncias, estes microscópicos seres, especialmente bactérias, direcionam os destinos de todos os setores orgânicos.
A formação da flora intestinal começa ainda na vida intrauterina, mas logo ao nascimento e imediatamente após, é norteada por algumas variáveis, tais como o tipo de parto, modelo de amamentação e perfis de higiene.
E durante toda a vida, nossos hábitos alimentares vão estabelecendo versões de microbiota, promovendo diferentes proporções entre os inúmeros tipos de bactérias pertencentes a quatro grupos principais, as quais irão se relacionar com proteções e adversidades orgânicas, cabendo então a apresentação de alguns exemplos.
Dietas ricas em carboidratos, especialmente açúcares simples, com excesso de proteínas e gorduras saturadas, podem promover desequilíbrio dentro de um grupo de bactérias denominado bacteroidetes e criar ambiente favorável para o desenvolvimento de doença inflamatória intestinal, tal qual a doença de Crohn.
De outro lado, o consumo generoso de hortaliças fornece substancial quantidade de fibras, que embora indigeríveis pelo nosso sistema digestivo, são utilizadas por um tipo específico de bactérias produtoras de substâncias que irão para a corrente sanguínea e auxiliarão em vários processos, incluindo o metabolismo da glicose, assim como nos centros cerebrais de fome e de saciedade, protegendo-nos da obesidade e diabetes.
Um estudo laboratorial interessante replicado em alguns centros de pesquisa, demonstrou que camundongos magros que recebem a microbiota de camundongos obesos ganham peso, enquanto aqueles obesos que recebem a microbiota de magros emagrecem.
Muitas investigações estão sendo desenvolvidas buscando comparar a composição da flora intestinal com proteção e deflagração de doenças e não demorará para adquirirmos novos conhecimentos.
Funcionalmente é correto admitir a flora intestinal como um órgão, tamanha a importância desempenhada por sua estrutura e provavelmente, modular sua composição é a melhor maneira de administrar a maior parte de nosso organismo.
Podemos afirmar que os alimentos ultraprocessados são fontes de brutal quantidade de elementos modificadores negativos de nossa microbiota, suscetibilizando-nos a toda sorte de patologias.
Por outro lado, os vegetais, especialmente hortaliças e legumes, são moduladores incontestes para avolumar os melhores tipos de microrganismos, cabendo cuidado estreito com as gorduras saturadas e os carboidratos, especialmente o açúcar.
No restante é fazer exercícios, não fumar, não usar drogas e viver, muito!
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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