Paulo Serra (PSDB) aparece de alma lavada em sua primeira entrevista após o pleito que elegeu seu indicado, Gilvan Junior (PSDB), ao Paço de Santo André, com 60,98% dos votos, sem necessidade de segundo turno. “É bom ter este sentimento de que a boa política prevaleceu”, diz o tucano, que revelou que manterá o telefone ligado para aconselhar o sucessor. A leveza do prefeito só desaparece quando ele fala do vice Luiz Zacarias (PL) e do vereador Eduardo Leite (PSB), adversários da campanha. Sobre o liberal, chegou a dizer que se arrependeu de tê-lo convidado ao cargo, em 2016.
RAIO X
Nome: Paulo Henrique Pinto Serra
Aniversário: 6 de maio
Onde nasceu: Santo André
Onde mora: Santo André
Formação: Direito e Economia, com especialização em Gestão Pública
Um lugar: Paço Municipal de Santo André
Time do coração: São Paulo e Santo André
Alguém que admira: Paulo Américo Pinto Serra, seu pai
Um livro: Diários da Presidência, por Fernando Henrique Cardoso
Uma música: Tá Escrito, pelo Grupo Revelação
Um filme: Coração Valente, de Mel Gibson, de 1985
Qual balanço o sr. faz da eleição municipal, no qual conseguiu eleger o candidato de seu grupo no primeiro turno?
Ficamos muito felizes. Já tinha acontecido em 2020, quando conseguimos uma reeleição depois de 20 anos em que a cidade não reelegia o prefeito, com recorde de votação, 77% dos votos, no primeiro turno. E aí o desafio seguinte era fazer a sucessão de um prefeito, que não acontecia há mais de meio século. Além dessa questão histórica, para nós ficou claro que a boa política, quando ela toca a vida das pessoas positivamente, é reconhecida. A vitória do Gilvan, a continuidade desse modelo de gestão, que está na Prefeitura há oito anos, é a vitória da boa política. É um exemplo que a gente dá para o Brasil. Enfrentamos os extremos, o PT e o PL, e a cidade escolheu o estilo de governar com transparência, olho no olho. E ficamos felizes também porque a campanha propositiva venceu. O Gilvan fez uma campanha limpa.
Quais os principais desafios da campanha?
Tínhamos uma grande vantagem, além de um governo bem avaliado e uma grande equipe: só precisávamos falar a verdade, comparar como estava Santo André em 2017 com a Santo André de hoje. E fizemos isso sem criticar ninguém. E enfrentamos campanhas de muita baixaria.
Ficou alguma decepção de sua parte com o vice-prefeito Luiz Zacarias e com o vereador Eduardo Leite, por causa do nível da campanha que ambos conduziram?
Não é uma questão pessoal. É claro que foi uma decepção para muita gente. Eles saíram muito menores do que entraram, não tenho dúvida. Um porque foi vice muito tempo e, de repente, esqueceu tudo isso. Traiu o grupo para criticar algo de que participou. Virou um neobolsonarista esquizo-frênico. E as pessoas não toleram mais essa falta de coerência. Como é que fica? Uma hora era a melhor gestão, ‘eu faço parte’; em seguida, criticava... É falta de caráter. Usou dos piores artifícios para tentar, de maneira oportunista, ter votos.
E sobre o Eduardo?
Da mesma forma. Foi também uma profunda decepção para a cidade. Esse, não só pelas baixarias que utilizou, mas também pela falta de equipe, de conteúdo, despreparado. Foram campanhas rasas que tiveram desempenho muito abaixo do esperado por causa disso. Ele falou aqui mesmo, neste jornal, que era perseguido pelo PT porque achava a gestão bem avaliada, bem feita, e não foi isso que ele demonstrou na campanha. Pelo contrário. Foi um crítico contumaz da cidade, mentindo, inclusive, várias vezes.
Sua decepção com o Zacarias chega ao ponto de o sr. estar arrependido de tê-lo convidado para ser vice-prefeito?
Deste Zacarias que existe hoje, sim. Agora, o Zacarias de oito anos atrás não era esse cara de hoje. Quem mudou foi ele, não eu. Esse Zacarias de hoje não tem nada a ver com aquele cara que gostava de gente, que demonstrava bom caráter, um bom coração. Quem cria, e os dois criaram, o Zacarias e o Eduardo Leite, gabinetes do ódio para detratarem não só a gestão, mas a mim pessoalmente, a Ana Carolina (Serra, primeira-dama e deputada estadual), o Gilvan, motoboys, balconistas, não é o mesmo cara que lá em 2016 eu convidei para fazer parte de um projeto.
Como fica a sua relação com ele a partir de agora?
Institucional, até porque tenho educação, tenho berço. Ele ainda é o vice, até 31 de dezembro. A partir daí, não sei qual será o futuro dele. Precisa perguntar para ele, se vai ser dirigente partidário, pai de vereador...
O resultado das urnas encerra as divergências ou fica uma mágoa pessoal?
Da minha parte, supera. Mas é preciso deixar claro que não se pode simplesmente dizer que nada aconteceu. Mas a própria sociedade viu essa decepção, porque, se não fosse uma decepção talvez o resultado teria sido outro e eles não teriam, somados, menos de 20% (dos votos). Criticaram as pesquisas, que estavam todas corretas. Acertaram na mosca. Aliás, se alguém tivesse que reclamar das pesquisas, seria o Gilvan, porque nenhuma deu ele com 60%.
Visto a posteriori, parece que a campanha foi um mar de rosas, sem dificuldades...
Campanha nunca é um mar de rosas, os desafios são grandes. O nosso principal desafio em uma cidade de quase 800 mil habitantes foi fazer com que a mensagem chegasse ao morador. Sabemos que chega, mas em uma campanha em que teve tanta baixaria dos outros candidatos, é claro que ficamos em dúvida. Será que a população vai entender que a continuidade do modelo é por meio do Gilvan? O Gilvan nunca tinha sido político. Foi um secretário muito competente nas cinco Pastas pelas quais passou, mas não era conhecido do grande público. E o outro desafio foi o de aguentar as baixarias de maneira educada e quietos. E fizemos isso, não respondemos a nenhuma provocação. Foi uma determinação: fazer uma campanha 100% propositiva, e foi.
Toda grande empreitada deixa uma lição. Qual foi a desta campanha?
Que a boa política prevalece. Simples assim. Foi muito natural ver o cidadão médio, aquele que não se envolve em política, reconhecer que, se você trabalhou bem, merece continuar lá. É aquela regra de que em time que está ganhando, não se mexe. É bom ter este sentimento de que a boa política prevaleceu. Esta é a lição que fica.
O sr. foi o grande avalista da campanha do Gilvan. Teme que o eleitor cobre o sr. pelos eventuais erros do futuro governo?
Responsabilidade pela cidade e pela gestão, sempre vamos ter. Todo morador da cidade tem, de alguma forma. Mais ou menos, mas tem. Eu vou estar à disposição do Gilvan em todos os momentos. Não diretamente, porque o governo, a partir de 1º de janeiro, vai ser conduzido por ele, a palavra final será dele, as decisões serão dele, mas quero estar junto. Porque representamos um modelo, um time. Ele já disse aqui que o modelo vai ser mantido, claro que com alguns ajustes. Vamos ajudá-lo a cumprir o planejamento que está estipulado. Vamos deixar, por exemplo, dez obras importantes para ele entregar. Sempre que for acionado, vou estar à disposição para ajudar.
Ele disse que o sr. será conselheiro dele. O que exatamente significa isso?
É estar à disposição para participar de alguma tomada de decisão, auxiliando com a experiência que adquirimos no comando da cidade. A decisão é, muitas vezes, solitária, mas você ouve. E o Gilvan tem, antes de tomar uma decisão, a característica de ouvir muito. Ele foi um bom secretário porque ouviu muito. Quem ouve mais, acerta mais – ou erra menos. O telefone vai estar ligado. E faço isso pelo Gilvan e por Santo André. Vou deixar a gestão, mas não a cidade.
O que o sr. vai fazer assim que deixar a administração?
Vou falar do que está definido. Sou presidente estadual do PSDB, que já ganhou Marília e Santo André e está no segundo turno em Piracicaba e cuja federação, com o Cidadania, está no segundo turno em São Bernardo. São cidades importantes. O partido elegeu 23 prefeitos, 32 vices e quase 400 vereadores em São Paulo. Vou me dedicar a organizar o partido, que está saindo de uma tragédia após não ter candidato a presidente e de ter perdido o governo do Estado após 28 anos em 2022. O desafio é reorganizar os quadros do partido para montar a estratégia para 2026.
Qual a estratégia do PSDB para o governo do Estado?
A grande pergunta é saber o que fará o governador Tarcísio (de Freitas, Republicanos). Se ele for candidato à reeleição – e nós temos proximidade com ele, admiro-o muito, faz bom governo e tem se mostrado um grande líder –, todos os meios partidários se movimentarão em uma direção. Se não for candidato à reeleição, e for alçado candidato a presidente da direita, representando o bolsonarismo, muda completamente o jogo. Antes, qualquer discussão é estéril.
Como dirigente partidário, como o sr. vai se comportar no segundo turno aqui no Grande ABC?
Vamos atuar em sintonia com o governador Tarcísio no trabalho do segundo turno. Em São Bernardo, o Alex (Manente, deputado federal) é o nosso candidato e o do governador. Vamos contribuir naquilo que pudermos. A mesma coisa com o Taka (Yamauchi, MDB, em Diadema), que tem uma eleição dura, antiPT. Em Mauá, a situação é um pouco diferente porque o PSDB municipal decidiu pela neutralidade, porque é uma eleição um pouco mais complicada, e nós respeitamos. Sobre a Capital, especialmente nas áreas da divisa com Santo André, nós vamos contribuir com o Ricardo (Nunes, MDB, prefeito paulistano e candidato à reeleição) com muita força. A Capital tem um peso no cenário nacional e acredito que o Ricardo seja o melhor para São Paulo pela integração que tem conosco. Nada pessoal contra o (Guilherme) Boulos (Psol, candidato oposicionista), mas ele representa algo ultrapassado, a esquerda antiga, que pode ser um entrave para a integração da Região Metropolitana.
Por falar em Ricardo Nunes, o sr. vai aceitar o convite para atuar na Capital se ele vencer a disputa pela reeleição?
Se... é duro (risos). Deixa o Ricardo ganhar primeiro; depois a gente conversa.
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