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As bets e nossas fraquezas
Antonio Carlos do Nascimento
07/10/2024 | 21:33
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O padrão de consumo de qualquer produto se estabelece por muitos motivos, mas sua origem antropológica é a relação entre a necessidade e a oferta, contexto que explica diferentes perfis alimentares pelo mundo.

A mesma relação supracitada, associada a evolução da inteligência humana, gerou demandas adicionais, como vestes, calçados, moradias com todos os seus adendos, entre outras, estimulando um processo que evoluiu para contemplar estas exigências, mas também, criar desejos.

Esse movimento criativo de ambição é igualmente bastante amplo e provém de inúmeras estratégias, porém, alcança níveis extraordinários de eficácia consumista, mesmo que o item em questão não possua qualquer atributo vital evidente.

O hábito de fumar não atingiria o patamar alcançado não fosse a dinâmica de marketing impulsionada pelo cinema americano, e ainda que as consequências desse costume tenham se mostrado rapidamente danosas, sócio e economicamente, demoraria muito até que o tabagismo fosse universalmente enfrentado.

Arriscar a sorte em jogos de azar também não é componente imprescindível para permanecermos vivos, e assim como o cigarro, não existe obrigatoriedade fisiológica para seu consumo, porém, será apenas uma opção até que tenhamos desenvolvido essa necessidade, conhecida como vício.

Entre tantos possíveis caminhos cerebrais para desencadear tal comprometimento, parece que o centro da recompensa, produtor de dopamina, estabeleça papel crucial, similarmente a outras drogas.

A liberação de apostas online, as conhecidas Bets, promoveram em pouco tempo uma verdadeira devassa econômica em uma vastidão de lares brasileiros, em cenário que promete expansão progressiva inevitável, pois, uma vez gerada a dependência haverá o desespero pelo consumo.

As Bets não recorreram a Hollywood para serem experimentadas, buscaram pelo mundo governos ávidos por arrecadação e obtiveram autorização para oferecer seu produto no universo digital e midiático convencional, receita básica para estimular umas das mais notórias particularidades humanas, a curiosidade.

Caminhamos novamente para drama socioeconômico desencadeado por problema de saúde pública, desta vez mais célere e avassalador, deflagrado pelos desejos de lucro, arrecadação, e curiosamente, de sorte.

Que Deus nos ajude!




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