Cultura & Lazer Titulo
Straight-edges: os punks corretos e contestadores
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
06/10/2001 | 19:08
Compartilhar notícia


Caretas, corretos e engajados, straight-edges formam uma divisão dentro do movimento punk. A idéia básica é se dissociar da autodestruição: não comem carne e derivados, não bebem álcool, não usam drogas, não fumam e não querem que injustiças sociais perdurem. Sua vontade é mudar o mundo para melhor, livre de violência contra animais e contra os menos favorecidos. Estão ligados à preservação ambiental e a manifestações políticas.

O straight-edge começou há pouco mais de 20 anos nos Estados Unidos. Está em crescimento no Brasil e tem representantes no Grande ABC, onde já é grande a participação social dos punks. Straight-edge é uma gíria para careta, mas também significa “punk livre de drogas que não faz sexo irresponsável”. Mas essas são posturas que variam.

Um straight-edge não tem rótulo visual como os cabelos moicanos dos punks. A roupa é básica, calça e camiseta. Porém, não vestem nada de couro ou peças que tenham origem animal. Um “X” tatuado ou desenhado na mão é o símbolo do movimento – com a proibição severa de venda de bebidas alcoólicas para menores de idade nos Estados Unidos, essa marca era feita nos garotos pelos donos de bares e os bartenders logo os reconheciam.

Não querem realçar atitudes proibitivas nem inaugurar um moralismo velado. O comportamento é com cada um, o que vale é a atitude: levar uma vida coerente, livre de crueldades. “Os straight-edges participam das reivindicações contra o FMI (Fundo Monetário Internacional), contra a globalização”, diz Fanny de Oliveira, 21 anos, estudante de Fisioterapia, de Santo André.

Fanny também é “vegan”: não consome nada de origem animal ou produto testado em animais. A diferença entre os vegan e os vegetarianos é a atitude: “Os vegetarianos não comem carne por questão de saúde. Nós, por postura ética. O straight-edge não vive só defendendo animais. Defendemos os seres vivos. Não adianta lutar pelos animais se tem criança passando fome”.

Mas nem todo straight-edge é vegan, e nem todo vegan é straight-edge. Fanny é vegetariana há seis anos, três deles no movimento. Seu namorado é o punk Maurício, 23 anos, guitarrista e vocalista da banda Terceira Classe. O casal tem em comum o fato de não consumir carne.

Maurício é vegetariano há dois anos. “É minha escolha: entre matar um animal para me alimentar ou não, optei pelo não”. Antes, não recusava churrasco. Hoje, é contra o que chama de manipulação carnívora mundial. “O ser humano não tem sistema digestivo para digerir carne. No início, eu tirava sarro de quem não comia carne. Depois, percebi que não era bem isso. Ser vegetariano é uma atitude correta e até barata”.

Cabelos moicanos, jaquetas de couro, coturnos, piercings, calças rasgadas ainda podem ser encontrados entre os punks, mas já não são preferências. Formado em Propaganda e Marketing, Maurício trabalha com roupa social, mas nos shows adota visual agressivo. Ou não. “Hoje, os movimentos dependem mais da atitude do que do visual”, afirma. O anarquismo – que não quer dizer baderna – é a ideologia predominante.

Punk rock, hardcore, heavy metal são estilos musicais em comum, mas punks ouvem mesmo o primeiro. Músicas que falam de drogas, álcool e maconha são evitadas pelos straight-edges. Planet Hemp, por exemplo, não passa pelo CD player de Fanny. “Particularmente, eu não gosto, porque incentivam o consumo de maconha. Mas depende de cada um”, diz.

Os dois movimentos foram detonados por bandas. O punk, em 1976, nos Estados Unidos, com Ramones, e, um ano depois, na Inglaterra, com Sex Pistols. O straight-edge começou a ser delineado nos anos 80 com a independente Minor Threat. Na letra de Out of Step, o vocalista Ian MacKaye diz: “...eu não bebo, eu não fumo, eu não trepo, mas ao menos eu posso pensar”.

As festas que reúnem straight-edges são as “verduradas”. Acontecem uma vez por mês (a última foi domingo passado, no Jabaquara, em São Paulo). Bandas se apresentam, são vendidos CDs, camisetas, comidas e, no fim, é servido um jantar. Só com vegetais.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;