Delegados da Civil destacam que parte da criminalidade migrou para ambiente virtual
Os crimes que ocorrem no universo virtual passaram a estar entre as prioridades das delegacias seccionais do Grande ABC. De acordo com os titulares dessas unidades, parte da criminalidade deixou as ruas para ganhar a internet. No mundo cibernético, até mesmo as pessoas mais familiarizadas com o funcionamento das redes sociais estão suscetíveis aos golpes, como os que ocorrem em aplicativos de relacionamento, em jogos de azar e mediante o uso de Pix.
A avaliação foi feita pelos delegados Francisco José Alves Cardoso, titular da Seccional de Santo André (inclui Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), Kelly Sacchetto de Andrade, de São Bernardo (abrange São Caetano), e Marcelo Francisco Augusto Dias, de Diadema.
Na consideração de Júlio Gustavo Vieira Guebert, chefe do Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), a lavagem de dinheiro realizada por meio de crimes no ambiente on-line também é bastante preocupante.
“A criminalidade migrou para o mundo virtual. O dinheiro está lá. A pessoa clica onde não é para clicar, passa dados pessoais e coloca muita coisa em jogo. Todos estão expostos a isso. As investigações têm se modernizado, ainda mais quando se trata de lavagem de dinheiro”, declara Guebert.
O delegado Marcelo Dias observa que esses delitos têm aumentado ainda mais depois da pandemia. “O que nos incomoda muito e que apresenta índices crescentes são os golpes. Estamos dando prioridade aos estelionatos porque qualquer pessoa está caindo. Os criminosos são convincentes e criam jogos para todas as idades.”
No Estado, a Delegacia Antissequestro registrou, no primeiro semestre, dois casos do “golpe do amor”, crime em que os bandidos utilizam aplicativos de relacionamento para atrair vítimas para roubos e sequestros. Houve recuo, já que no mesmo período de 2023 foram 25 notificações.
Apesar de esse número ter diminuído, observou-se uma crescente nos delitos do Jogo do Tigrinho. Entre 2023 e 2024, foram mais de 500 boletins de ocorrência contra o Fortune Tiger em todo São Paulo. Os casos podem envolver estelionato, crime contra a economia popular, associação criminosa e lavagem de dinheiro, de acordo com a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado).
“As pessoas realmente acreditam que terão alguma vantagem. Isso faz com que o prejuízo seja grande”, considera Francisco Cardoso.
Kelly Sacchetto afirma que a Polícia Civil teve que se modernizar para acompanhar a disseminação dos delitos virtuais. “O doutor Júlio Guebert promoveu curso na sede do Demacro especificamente sobre isso. Existem os golpes de aplicativos de relacionamento, que são seguidos de sequestros. As propostas mexem muito com o psicológico das pessoas, porque envolvem a promessa de encontrar o amor da vida ou de ganhar dinheiro fácil, como são os casos de jogos de azar. Tudo envolve as vaidades humanas. Temos que estar sempre um passo à frente (dos criminosos).”
Segundo os delegados, ter um olhar atento para os crimes cibernéticos não elimina a preocupação com outros delitos. “Reduzir a incidência dos crimes contra o patrimônio, como roubos e furtos, é essencial porque a queda deles é o que gera a tal de sensação de segurança. Eles são o calcanhar de Aquiles de qualquer região”, diz Kelly.
Além dos riscos da internet, Júlio Guebert, do Demacro, entende que os latrocínios também podem ocorrer com qualquer pessoa, a qualquer momento. “Ele alia o crime contra patrimônio com o crime contra a vida. Sempre que recebo um caso desse tipo, ele se torna prioridade”, revela.
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