Economia Titulo Empresas
Indústria de vidro dribla chineses
Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
17/06/2012 | 07:04
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Denis Maciel/DGABC


 

Vidro reciclado moído, areia, calcário e barrilha. Estes são os elementos básicos que garantem a existência da Ibravir, pequena indústria de vidros de São Bernardo. Perto dos seus 45 anos, a companhia se reinventou nos últimos anos com o ataque dos produtos chineses no Brasil. E a principal defesa foi investir em desenvolvimento de novas peças e equipamentos que proporcionam menor agressão ao meio ambiente, partindo para nicho específico de mercado, o sustentável.

Mas o impacto dos orientais na empresa foi grande. O gerente comercial, Paulo Sérgio Simões de Souza Júnior, lembra que o aumento evidente de vidro chinês no País derrubou em 40% o faturamento que tinha com blocos de vidro. Muito utilizado em muretas para elevar a iluminação dos ambientes, esse tipo de produto é vendido em todos os países em tamanho padrão, característica que facilita a atuação dos concorrentes do outro lado do mundo.

Em alguns momentos, nos últimos anos, chegaram a até importar blocos da Indonésia. "Mas não conseguimos acompanhar os preços dos produtos chineses", afirmou Souza Júnior. Os blocos importados entram no País com preços de, aproximadamente, US$ 1,50, o que tira toda a competitividade da indústria nacional, já que esse é o custo inicial aproximado para produzir no País.

A solução para a Ibravir foi elevar esforços em outro ramo que é especialista, o de telhas. "Procuramos investir em qualidade e em outros produtos como, por exemplo, os novos modelos de telhas de vidro." Hoje, com 80 trabalhadores, ampliou também a atuação nos ladrilhos, que servem para pisos ou lajes. E inovou os blocos, criando modelos vazados.

Em São Bernardo está localizada uma das maiores empresas nacionais do setor, a Wheaton Brasil. Cerca de 2.750 funcionários atuam na produção de vidros para utilidades domésticas e para áreas de cosméticos e farmacêutica. A empresa ingressou no município em 1962.

Diretor comercial da Wheaton, Renato Massara conta que a companhia tem 70% de participação no mercado nacional de vidros para cosméticos e farmacêuticos e 15% em utilidades domésticas. Essa fatia seria maior, caso os produtos chineses não tomassem tanto espaço. "Somos especialistas em vidro de penicilina (droga que compõe a famosa e dolorosa injeção benzetacil). O Brasil demanda 20 milhões vidros por mês. E os chineses entraram forte nisso. Hoje temos apenas 20% da participação de mercado", revelou.

Massara diz que vende um vidro deste tipo por cerca de R$ 0,10. "Os chineses, não faço ideia de como conseguem, chegam por meio de importadores com o produto à R$ 0,05", explicou. A Wheaton, segundo o gestor, fornecia para 52 países. Hoje, esse número quase zerou. "Precisávamos de mais incentivos do Governo", pede Massara. Ele explicou que para alguns produtos existem proteções, no caso dos utensílios domésticos. Mas especificamente no segmento de copos, por exemplo, não há. A empresa coloca no mercado uma unidade por, aproximadamente, R$ 0,50. "As importações, não só da China, mas da Índia também, chegam aqui no mínimo por 40% menos."

 

Impacto é generalizado, diz associação

 

A indústria de vidros é grande. Há fábricas de vidros float (chapas de vidro comum), temperado e acabado. Sem contar empresas que fazem acabamento e instalações. Segundo o superintendente da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro), Lucien B. Mulder Belmonte, a massificação da entrada de vidro chinês no País prejudica muito a a indústria nacional.

Especialista na área de vidros float, Belmonte não tinha números fechados de empresas, resultados, importações e exportações. Mas garante que o impacto na produção nacional está subindo. "Fechar empresas, na verdade não fechou. Mas está em vias dê."

Gerente comercial da Viton, Clovis Ribeiro comentou que têm acompanhado entrada massiva de produtos chineses no Brasil. E avaliou que tem atingido em cheio os produtores nacionais, como ocorre em vários outros setores. A empresa em que atua, em São Bernardo, fabrica equipamentos e máquinas para a indústria de vidro.

Ribeiro diz que, felizmente, a Viton não sofre com isso. Pois a demanda por máquinas ainda não caiu. "E os chineses não concorrem conosco. A nossa grande concorrente é a indústria europeia de equipamentos o setor."

 

 




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