‘Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?’ é o lema de 2024; evento ocorre desde 1995 no País, sempre no 7 de setembro
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A 30ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas, tradicional ato que denuncia injustiças sociais no País desde 1995, terá manifestação promovida amanhã em Diadema por movimentos sociais, entidades religiosas e pastorais católicas da região. Com o tema ‘Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?’, o evento está previsto para ocorrer em pelo menos 20 estados brasileiros.
O primeiro compromisso deste sábado será às 8h, na Igreja Matriz de Diadema, com missa presidida pelo padre Ryan Holke, vicariato episcopal para a caridade social. A concentração será às 9h30, em frente ao templo religioso e, às 10h, os participantes partem em caminhada com carro de som até a Praça da Moça. Na sequência, ocorre um ato inter-religioso com lideranças locais e, às 12h, o encerramento será marcado por apresentações culturais.
O Grito ocorre há 30 anos, sempre no dia 7 de setembro. De acordo com a organização, a realização do ato nesta data busca fazer um contraponto ao Grito da Independência proclamado em 1822 por Dom Pedro I. “Desde 1995, o Grito dos Excluídos e Excluídas tem como objetivo levar às ruas e praças os gritos ocultos e sufocados, silenciosos e silenciados, que emergem dos campos, porões e periferias da sociedade”, define.
Maria Carolina Martins, procuradora do município andreense e integrante da coordenação da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Santo André, uma das entidades organizadoras, explica que a realização dos atos nesta data questiona e provoca a sociedade sobre a “verdadeira independência do povo brasileiro”.
“Trata-se de uma ocasião que nos convida a superar um patriotismo passivo em vista de uma cidadania ativa para construção de uma sociedade democrática, plural e fraterna. Por meio de uma nova política, um caminho de paz e cuidado, de distribuição dos recursos, acesso aos direitos básicos e preservação da vida. Em 2024, mais do que nunca, o evento busca ser uma voz que ecoa por todo o País, clamando por uma independência que seja inclusiva, justa e que priorize a vida em todas as suas formas”, afirma Maria.
A coordenadora do CNLB (Conselho Nacional do Laicato do Brasil) na Diocese de Santo André, Ana Paula Silveira Pereira, diz que o lema deste ano reflete a urgência de enfrentar um sistema que desrespeita a vida e o meio ambiente.
“Esse tema busca denunciar as práticas econômicas que, em busca do lucro a qualquer custo, são responsáveis por agravar as mudanças climáticas e as crises ambientais que ameaçam o planeta e a vida das populações mais vulneráveis”, pontua Ana Paula.
Maria Carolina complementa que a temática de 2024 também denuncia as negações de direitos, como acesso à saúde, educação, moradia, entre outros, de grupos excluídos da sociedade, como mulheres, pessoas em situação de rua, encarcerados, idosos e população LGBTQIA+.
A proposta do Grito dos Excluídos e Excluídas nasceu em uma reunião de avaliação do processo da 2ª Semana Social Brasileira, promovida pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que aconteceu nos anos de 1993 e 1994. O evento surgiu como forma de dar continuidade e concretizar os debates, em 1995, em 170 locais do País, com o tema “A vida em primeiro lugar”.
O padre Dayvid da Silva, da Igreja Matriz de Diadema, ressalta que apesar do movimento ter nascido na Igreja Católica, hoje o Grito dos Excluídos e Excluídas alcançou outras religiões.
“Não tem fins partidários e a iniciativa busca dar voz aos que sofrem qualquer tipo de injustiça. Por isso, no dia da Grito da Independência, a Igreja grita por e com aqueles que vivem em situação de pobreza, de violência, de abandono, etc. Esse é o terceiro ano que o Grito acontece em nossa Diocese de Santo André. Acolhemos a todos com o coração aberto”, pontua o religioso.
Evento foi realizado pela primeira vez na região em 2022
Apesar da tradição de três décadas no Brasil, o Grito dos Excluídos e Excluídas foi realizado pela primeira vez na região em 2022, em Santo André. No ano passado, o evento ocorreu em São Bernardo e teve cerca de 400 pessoas. Com o lema ‘Você tem fome e sede de quê?’, a manifestação de 2023 discutiu sobre o acesso à água e à comida no País.
O encerramento do ato do ano passado foi no Projeto Meninos e Meninas de Rua, em solidariedade à situação de despejo vivida pela entidade, que completou nesta semana 41 anos de história. A iniciativa atende crianças, adolescentes e seus familiares em situação de vulnerabilidade social.
Maria Carolina Martins, procuradora do município andreense e integrante da coordenação da Comissão de Justiça e Paz da Diocese de Santo André, diz que o ato deixou um legado positivo na região. “Nas duas edições teve significativa adesão e participação popular, desde movimentos sociais a povos tradicionais, em caráter ecumênico e inter-religioso. As manifestações dos anos anteriores ficaram marcadas pelo clamor por mudanças estruturais na sociedade, como inclusão social e econômica, por provocar autênticas políticas públicas que ajudem concretamente a população mais carente”, destaca.
A escolha de Diadema para sediar a 30ª edição do evento é simbólica e significativa, afirma a coordenadora do CNLB, Ana Paula Silveira Pereira. “Por ser uma cidade com uma rica história de lutas sociais, sendo um dos epicentros da resistência popular e dos movimentos por direitos trabalhistas, moradia e justiça social. Ao longo das décadas, Diadema se destacou por sua atuação combativa contra a exclusão social e por ser uma voz ativa na defesa dos direitos dos mais vulneráveis”, finaliza.
A expectativa é a de que outros municípios da região recebem o ato nos próximos anos.
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