Com entrega prevista inicialmente para 2022, obras ficarão prontas só em dezembro de 2025; ao todo, serão 16 paradas
O prazo para entrega do BRT-ABC (sistema de ônibus de alta velocidade, na sigla em inglês) parece cada vez mais distante para as pessoas que aguardam o encerramento das obras na região. Desde o início das intervenções, em fevereiro de 2022, o Diário já noticiou quatro mudanças no prazo para conclusão. A princípio, as obras seriam entregues em dezembro daquele ano, mas agora estão estimadas para dezembro de 2025. Segundo relatos, a demora tem prejudicado o trânsito nos centros urbanos e, consequentemente, a rotina de trabalho de moradores na rota.
As intervenções são gerenciadas pela EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos) e realizadas pela concessionária Next Mobilidade. O começo das operações será em 2026 – inicialmente, a capacidade ficará em torno de 173 mil passageiros por dia.
O projeto, que chega a R$ 920 milhões, engloba 92 ônibus elétricos da empresa Eletra, 16 paradas e 18 quilômetros de extensão, afirma a EMTU. Serão veículos de tração elétrica que podem ser a bateria ou com pantógrafo (dispositivo montado no teto do ônibus).
“(As obras) só têm atrapalhado. Trabalho em um galpão e tivemos que mudar o local do portão de entrada porque o pessoal da obra pediu. Era mais próximo da rua e foi solicitado para que recuasse. Virou uma bola de neve. Fecharam uma das ruas da Afonsina com a Lauro Gomes e isso tem prejudicado muito, principalmente à noite”, relata o gesseiro Dogivaldo Nunes, 45, morador do Batistini, em São Bernardo.
A primeira fase do BRT compreende três paradas, começando pelas Avenidas Aldino Pinotti e Lauro Gomes e finalizando na Avenida Winston Churchill. Na segunda etapa, que iniciou em março deste ano e vai até dezembro de 2025, outros 13 pontos serão elaborados.
A região terá estações em São Bernardo (Metrópole, Aldino Pinotti, Abrahão Ribeiro, Afonsina, Rudge Ramos, Senador Vergueiro, Winston Churchill e Vila Vivaldi); Santo André (Fundação do ABC); e São Caetano (Instituto Mauá, Vila Império, Jardim São Caetano, Estrada das Lágrimas, Cerâmica, CEU Meninos, Goiás e Almirante Delamare).
“De quinta-feira, costumo vir trabalhar de trólebus. Percebo que o congestionamento piorou muito depois que começaram as obras na Afonsina. Os veículos ficam sem opção, principalmente nos cruzamentos”, relata o programador de máquinas Almir Borges, 61, morador do Parque das Nações, em Santo André.
Para ele, o projeto deveria considerar que a mudança nos prazos é ainda mais prejudicial para a população. “Tenho usado os trólebus, mas quando tiver o BRT, vou vir trabalhar com ele. Acredito que vai facilitar a vida de muitos, mas eles precisam entregar logo. Se tinha essa ideia de colocar o corredor de ônibus elétrico, poderiam ter pensado em uma forma que não atrapalhasse tanto.”
Assim como Borges, o gesseiro Maurilio Lopes 51, do bairro Terra Nova, em São Bernardo, tem criticado as intervenções. “Tem sido péssimo, bem difícil, ainda mais para mim que trabalho com embarque e desembarque. Faz um tempo que começaram com a segunda fase das obras, mas percebo que fazem um pouco, depois param. As coisas não podem ficar largadas”, complementa.
Em maio, o Consórcio Intermunicipal do Grande ABC recebeu comitiva da Next Mobilidade na sede da entidade regional com o objetivo de aproximar os municípios do processo de implementação. Segundo o secretário executivo do Consórcio, Aroaldo da Silva, nenhuma atualização foi feita desde então.
“Estamos aguardando (um retorno). Ficou firmado o compromisso tanto com o pessoal que está tocando a obra quanto com o governo do Estado para a criação de um GT (Grupo de Trabalho) para acompanhar essas fases. Essa formação ainda não ocorreu. Estamos observando, mas ninguém entrou em contato conosco novamente. Sabemos que é um período eleitoral, mas temos cobrado, inclusive o Estado. Ficamos de tentar fazer uma reunião com a Secretaria de Transporte Metropolitanos para voltar com esse tema, mas ainda não temos uma previsão.”
Licença ambiental e julgamento no STF são justificativas
O BRT-ABC prevê três modelos de transporte: o trajeto em que o ônibus faz 16 paradas; o que realiza apenas seis pontos; e o expresso, que faz o caminho São Bernardo até Sacomã em 36 minutos. Questionadas pelo Diário, a EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), que gerencia as obras, e a Next Mobilidade, que opera as intervenções, indicam que as mudanças nas datas de entrega ocorreram por causa de licença ambiental e julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal).
“A atual fase tem etapas de pavimentação e dois terminais com obras em fase inicial: São Bernardo e Tamanduateí. A reformulação dos prazos do empreendimento deveu-se a alterações no projeto original e aprovações de licenças ambientais em âmbito estadual e municipal, necessárias devido à complexidade da obra”, explicou a EMTU, em nota.
A Licença Ambiental de Instalação, emitida pela Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) no fim de janeiro, compreende a Avenida Lauro Gomes, a Avenida Marginal, a Rua Michel Saliba, a Rua Aida e a Rua do Grito, situadas em São Bernardo, Santo André, São Caetano e São Paulo.
Com o início das intervenções na Avenida Lauro Gomes, após o cruzamento da Avenida Winston Churchill, em São Bernardo, a segunda fase das obras do BRT-ABC começou com a remoção do piso asfáltico.
“Essa fase, com extensão de aproximadamente 15 quilômetros, inclui 13 paradas, três viadutos, quatro pontes e cinco passarelas. Nessa etapa, será construída a pista a partir da divisa de São Bernardo até o terminal Sacomã. O principal motivo (da demora) foi uma Ação Direta de Inconstitucionalidade apresentada ao STF por um partido político, em outubro de 2022, que só foi julgada pelo Tribunal – favoravelmente ao BRT-ABC – em agosto de 2023. A partir daí, o projeto retomou a tramitação normal dos processos de licenciamentos ambientais”, detalhou a Next Mobilidade.
Em agosto do ano passado, o STF validou dois contratos firmados pelo ex-governador de São Paulo João Doria para que a empresa Metra tivesse o direito de operar o BRT-ABC por 25 anos. As contratações custaram R$ 22 bilhões e foram feitas sem licitação em 2021.
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