Grande ABC teve incremento de 1,62% de vegetação nativa desde 2008; especialista alerta para locais ameaçados por construções
ouça este conteúdo
|
readme
|
Desde 2008, o Grande ABC ganhou 632 áreas naturais, ou 1,62% de vegetação nativa, e passou de 39.145 em 2008 para 39.780 em 2023, segundo dados da MapBiomas, que também incluem, além da vegetação nativa dos biomas, superfície de água e locais naturais não vegetados, como praias e dunas. Santo André (2,75%) e São Bernardo (1,75%) foram as cidades com o maior ganho na região.
Apesar do tímido aumento, a região vai na contramão da realidade nacional, que contabilizou perda de 5% de áreas naturais de seu território em 16 anos. A MapBiomas fez também recorte mais amplo para os dados do País e apontou que o Brasil contabilizou perda de 33% de áreas naturais de 1985 até o ano passado – diminuição de 110 milhões de hectares, o que equivale a 13% do território.
Esse resultado já leva em consideração o mapeamento de vegetação nativa recuperada a partir de 2008, quando o Código Florestal foi regulamentado pelo decreto de número 6.514, que estabeleceu mecanismos de sanção e compensação por danos ambientais. O levantamento por cidades é feito a partir desse ano justamente por conta da implementa-ção da norma.
Mas por que os municípios da região ganharam áreas vegetais enquanto o Brasil perdeu? Uma das explicações, segundo a rede colaborativa formada por ONGs, universidades e startups de tecnologia, é a implementação de políticas de reflorestamento. O aumento da fiscalização nessas áreas, conforme as leis ambientais, também pode ter ajudado a proteger áreas de mata nativa, publicas ou privadas, fazendo com que a vegetação fosse regenerada espontaneamente sem a intervenção humana.
Além disso, o estudo do MapBiomas aponta que a Mata Atlântica, onde está localizado o Grande ABC, foi o bioma com maior crescimento no período, com 56% de ganho de vegetação. O levantamento mostra ainda que quase metade (45%) dos municípios brasileiros perdeu vegetação, sendo o Pantanal o bioma com a maior redução de áreas.
Outro ponto importante para entender a estabilidade regional em relação à manutenção das suas áreas naturais é o viés econômico do Grande ABC. “Não temos características de atividades do agronegócio, o principal responsável pela perda da vegetação nativa, incluindo madeireiras e mineração. Muito do que ainda existe de vegetação na região é garantido pelas lutas constantes da sociedade civil, organizada ou não”, explica a bióloga e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano), Marta Marcondes.
Porém, a docente alerta para áreas naturais da região que estão em risco de supressão de vegetação por causa de empreendimentos, como centros logísticos e imobiliários. Entre os locais citados por Marta, que também é coordenadora do IPH (Índice de Poluentes Hídricos), estão serra do mar de Paranapiacaba; região do pós-balsa, em São Bernardo, áreas de recarga do reservatório Billings, em Rio Grande da Serra e Ribeirão Pires.
As sete cidades contabilizam 3.089 áreas não vegetadas, sendo São Caetano com 100% do município sem vegetação nativa. Cerca de 10,7% da região estão ocupados pela agropecuária e outros 10,3% do território são referentes a corpos d’água.
“Nossa região é uma área de Mata Atlântica e suas diversas fisionomias, especificamente florestas ombrófilas densas montana (também conhecidas como florestas pluviais tropicais) e submontana (situada nas encostas dos planaltos ou serras), pois temos os contrafortes da Serra do Mar. Com áreas específicas de mananciais, temos muitas nascentes, inclusive as nascentes de rios importantes como Rio Pinheiros, Rio Tamanduateí, Rio Guaió, Rio Cubatão entre outros. Vale salientar que no Grande ABC existem porcentagens significativas de áreas remanescentes de Mata Atlântica”, diz Marta.
MEIO AMBIENTE
O coordenador geral do MapBiomas, Tasso Azevedo, acrescenta quais são os principais impactos da redução de vegetação nativa no País. “A perda nos biomas brasileiros tende a impactar negativamente a dinâmica do clima regional e diminui o efeito protetor durante eventos climáticos extremos. Em síntese, representa aumento dos riscos climáticos.”
Marta complementa que a chuva registrada em maio no Rio Grande do Sul e a estiagem vivida neste mês em São Paulo são alguns dos reflexos da perda de vegetação nativa. “O que antes vinha da Amazônia eram rios voadores (com água para a região Sudeste) e agora vamos receber nuvens de fumaça sem nenhuma água. Outra coisa é o aumento excessivo da temperatura em áreas que eram mais frias, e isso afeta diretamente o ciclo de doenças, principalmente aquelas transmitidas por insetos, como a dengue.”
O Brasil tem 64,5% de seu território coberto por vegetação nativa – em 1985 eram 76%. As florestas cobrem atualmente 41% do Brasil, mas foi o tipo que mais perdeu área de 1985 até 2023, cerca de 61 milhões de hectares, queda de 15% no período.
No Grande ABC, a cobertura florestal é de 48%, sendo Rio Grande (64,50%), São Bernardo (53,95%) e Santo André (51,52%) os municípios com maior dimensão verde.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.