Área ociosa em um dos bairros mais nobres da cidade gera alimento e paisagismo ao apostar na reciclagem e em agricultura responsável
Antes de 2016, quem passava pela Rua Marechal Hermes, bairro Jardim, sequer precisava de esforço para enxergar o matagal que escalava o muro de um terreno peculiar, abandonado à altura do nº 420, justamente em um dos endereços mais nobres e verticais de Santo André. Até que, da calçada mesmo, o designer de produto Evandro Paiva Galhardo, 49 anos, viu potencial no espaço, que deixou de abrigar apenas antenas e fios de uma linha de transmissão da Enel para dar espaço à produção de vegetais, chás, hortaliças e frutas orgânicas – que agora são vendidas à comunidade.
“As pessoas não percebem, mas as caçambas do bairro Jardim estão cheias de preciosidades, com muita coisa útil. Para chegar a esta lógica não precisa nem ver tudo o que reaproveitei dos descartes para estruturar a horta, é só refletir o quanto deve custar um terreno de 2 mil metros quadrados como este, que estava invisível”, afirma Galhardo.
Ele, que depois do achado diz que remodelou seu propósito de vida para ‘designer de plantas’, morava a apenas 400 metros da linha de transmissão. Após solicitação, conseguiu concessão da companhia elétrica para dar utilidade à terra em poucos dias.
Ao que conta, o investimento inicial para mudar o ambiente veio de uma rescisão do emprego anterior e a ideia (e esforço) se pagou já na primeira colheita.
Atualmente, a manutenção da área gira em torno de R$ 500 por mês, produz o próprio adubo e atrai clientes não só do bairro, mas de São Caetano e da Capital.
“Sabia que trabalhar com plantas seria uma possibilidade desde que, 16 anos atrás, meu chefe pediu para jogar fora uma orquídea da qual ainda cuido. Com 10 anos, produzia bonsais (árvores em miniatura) e nem sabia. A horta me dá a certeza de que o planeta agradece os pequenos atos de consciência.”
Hoje, a horta comercializa maços e frutas por R$ 8, orquídeas por R$ 50 e bonsais a partir de R$ 200. O local funciona diariamente: de segunda a sexta, das 8h30 às 11h30 e das 13h30 às 15h30; aos fins de semana, das 8h às 12h30.
A horta de Galhardo é uma das 415 na cidade, segundo o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental), que oferece curso gratuito de extensão agroecológico a interessados e a agricultores urbanos em geral.
VIZINHOS
A região também se destaca com um modelo similar em Diadema, com 49 agricultores profissionalizados só em março deste ano pelo “Formação Agroecológica para Produção de Alimentos e Organização Social”, que visa qualificar a atuação em 1.336 canteiros.
Em São Caetano, a ONU (Organização das Nações Unidas) também reconheceu pelo menos três escolas públicas como referência na agricultura e alimentação, graças ao cultivo e consumo de hortas próprias.
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