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Auricchio faz mutirão de consultas em meio a problemas na Saúde

Atendimentos extras visam a reduzir demanda reprimida na clínica geral; prefeito já admitiu longas filas de espera no Hospital de Emergências e UPA

Wilson Guardia
16/07/2024 | 22:15
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FOTO: Celso Luiz/DGABC

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A Saúde de São Caetano, alvo de reclamações de moradores e problemas, parte deles já admitidos pelo prefeito José Auricchio Júnior (PSD), agora está diante de demanda reprimida, ou seja, há mais pacientes na fila de espera para uma consulta do que a existente capacidade de atendimento da rede municipal. A deficiência foi sinalizada pelo médico e prefeito em um vídeo publicado, ontem, em suas redes sociais. “Neste próximo sábado e domingo, a Prefeitura vai realizar o Atende Fácil Saúde Extraordinário com o objetivo de acelerar atendimento em clínica geral”, disse.

O clínico geral é a porta de entrada para a maioria dos atendimentos médicos. Sem passar pelo médico generalista, o paciente não consegue atendimento com os especialistas.

Esta é a segunda medida adotada, em menos de um mês, para tentar reduzir filas de atendimento. Nos dias 29 e 30 de junho, além das consultas em especialidades, o mutirão recebeu pacientes para clínica geral, o que reafirma a alta demanda na busca por médicos de forma eletiva. Foram distribuídas duas mil senhas para consultas em especialidades, clínica geral e exames.

Os mutirões indicam que a rede – composta por pouco mais de uma dezena de UBSs (Unidades Básicas de Saúde) distribuídas nos 15 bairros da cidade – não consegue absorver a demanda de pacientes e, por isso, se faz necessário criar ações extraordinárias com consultas extras para reduzir filas de espera com pacientes que aguardam o agendamento, mas não conseguem.

Os números divulgados por Auricchio chamam a atenção. Para este fim de semana serão oferecidas duas mil senhas para atendimentos de livre demanda, ou seja, sem agendamento. Qualquer morador da cidade com idade igual ou superior a 14 anos poderá passar pelo clínico geral. O prefeito faz questão de gravar vídeos nos quais enaltece a medida. 

A gestão do prefeito José Auricchio Júnior foi procurada e questionada sobre qual o tamanho da demanda reprimida em especialidades e em clínica geral e quantas pessoas foram atendidas no último mutirão, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

PROBLEMAS

Há tempos a Saúde em São Caetano tem se tornado o calcanhar de Aquiles da gestão Auricchio. Aliás, o vice-prefeito Humberto Seraphim (PL) também é medico. As queixas, inclusive, se acentuaram nos últimos meses de gestão da até então secretária de Saúde, Regina Maura Zetone (PSD), ginecologista e pré-candidata a vice-prefeita em chapa encabeçada pelo vereador Tite Campanella (PL).

Entre as principais queixas dos moradores estão as relacionadas ao não agendamento de consultas em especialidades e marcação de exames, além do tempo, considero excessivo, de espera nas unidades de portas abertas da rede, como no Hospital Municipal de Emergências e na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), com filas superiores a quatro horas.

Em prestação de contas no bairro Nova Gerty, no mês passado, o prefeito tentou minimizar os problemas e afirmou que “tempo não é indicador de qualidade” . Dias após a declaração, Auricchio, em vídeo nas redes sociais, respondeu a uma morada que reclamava da demora. Na gravação, o pessedista ainda a desafiou testar os serviços e garantiu que a validação dos atendimentos como bons ou ruins deve ter como premissa a “quantidade de vidas salvas”.

Especialista rebate afirmação do prefeito

Adônis Lima, especialista em projetos de TI (Tecnologia da Informação) e em lean healthcare (saúde enxuta), rebateu a afirmação do prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSD), sobre tempo de espera não ser indicador de qualidade na área da Saúde. Este ponto é o mais contraditório. Entre os diversos conceitos preconizados para definir se o atendimento é considerado bom ou ruim está a eficiência. “É importante que os serviços de Saúde usem os recursos de maneira inteligente, sem desperdício de tempo ou dinheiro”, explica Lima, que é chefe-executivo da empresa Soultechno Soluções Tecnológicas, empresa prestadora de serviços de TI e qualidade hospitalar.

Os critérios de avaliação aplicados por técnicos, quando o sistema é analisado de forma macro, além da eficiência envolvem a eficácia, balizada nos resultados positivos de tratamento aos pacientes; na segurança, com a redução de riscos e danos; acessibilidade, conceito que prevê cuidados em saúde independentemente de barreiras como distâncias e custos; além da equidade, centralização dos pacientes e continuidade dos cuidados, com terapias e ações de médio e longos prazos, bem como do acompanhamento médico contínuo.

Segundo Adônis, a definição destes critérios citados partem de “pesquisas científicas: sobre quais tratamentos e práticas são mais eficazes para melhorar a saúde”. A partir dos estudos, padrões e diretrizes são aplicados pelos profissionais buscando indicadores de desempenho. “De maneira geral, seguimos essa linha de pensamento na hora de avaliar o serviço de saúde hospitalar”, explicou o especialista.

Por fim, quando o prefeito usa o argumento de que a qualidade do serviço é atrelada ao “quanto de vidas são salvas”, a tese se torna rasa porque nem sempre o pronto atendimento recebe pacientes em iminência de morte. “Não se pode usar somente um indicador (taxa de mortalidade) para dizer que o serviço prestado é de qualidade. Obviamente, se a taxa de mortalidade é alta, ninguém vai querer ser atendido naquele local”, discorreu Adônis Lima.

Procurado, o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior, manteve-se em silêncio até o fechamento desta edição.




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