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Enquanto o ganho de peso foi compreendido como um transcurso reversível pela adoção de novos comportamentos, a obesidade se alastrou pelo mundo afora sem qualquer contenção objetiva e muito além das questões estéticas, multiplicou a ocorrência de inúmeras doenças.
Para deleite da indústria farmacêutica e fabricantes de materiais médicos o mundo obeso ofertou aumento extraordinário de problemas articulares de coluna, quadril e joelhos, distúrbios gastrointestinais, transtornos psicológicos, diabetes tipo 2, coronariopatias a acidentes vasculares cerebrais, para deixar os exemplos nas consequências mais óbvias.
A relação entre excesso de gordura e cânceres esteve apenas sob as sombras das estatísticas por bastante tempo, mas há pelo menos duas décadas vem tomando muita atenção. Um estudo sueco publicado recentemente associou obesidade como fator de risco para 32 diferentes tipos de cânceres e esses achados explicam, em parte, a incidência crescente dessas graves doenças atualmente.
O acúmulo de tecido gorduroso que propicia danos orgânicos é aquele que se instala dentro de nosso abdômen, conhecido como obesidade visceral e as vias que credenciam o obeso a maiores riscos de desenvolver doença cancerosa, ao menos para alguns tipos, coincidem com os caminhos que levam ao diabetes tipo 2.
As células gordurosas são capazes de acumular grande quantidade de gordura e aumentar substancialmente o universo gorduroso visceral, porém, sua vascularização não aumenta proporcionalmente, o que faz com que haja comprometimento da oxigenação e com isso ocorra sofrimento desse tecido, desencadeando processo inflamatório.
Esse sofrimento celular promove a produção de substâncias inflamatórias que irão para a corrente sanguínea e se distribuem por todo o corpo, atrapalhando diversos eventos fisiológicos, incluindo a interferência na ação da insulina na entrega da glicose, determinando a resistência insulínica.
A partir de então, o pâncreas passará a produzir mais insulina para vencer essa dificuldade, em um moto contínuo progressivo que caminhará até a exaustão pancreática e diabetes tipo 2.
Mas, esse excesso insulínico promove a maior produção de outros hormônios, entre os quais o estrogênio, justificando a enorme incidência de câncer de mama, endométrio e ovário em pacientes obesas.
Outra rota provável para o desencadeamento de cânceres em obesos é o acúmulo destas substâncias inflamatórias nos órgãos, prejudicando o sistema imunológico na identificação e eliminação de células defeituosas e fontes potenciais de evolução maligna.
Embora saibamos na intimidade a associação entre obesidade muitas doenças, não possuímos esta certeza para a origem de todos os tipos de cânceres, mas parece claro que tratar o excesso de peso é bem mais inteligente que cuidar de seus desdobramentos!
Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia.
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