O filósofo britânico Bertrand Russel morreu há três décadas, aos 98 anos, mas o conjunto de suas idéias se mantém tao atual quanto boa parte da obra produzida por Francis Bacon (1561-1626), também filósofo e britânico. Bacon, como se sabe, iniciou o processo de articulaçao entre duas das muitas instâncias que dividem o homem: o senso comum e o incomum. No primeiro grupo estao os seres que desconhecem as vertentes de segredos que conduzem ao conhecimento puro. No segundo, por exclusao, simplesmente eles, os donos dos tais segredos. Mas Russel é diferente. Para ajudar a conhecê-lo, chega ao Brasil - muito oportunamente - O Melhor de Bertrand Russel: Silhuetas Satíricas (Bertrand Brasil, 176 págs., R$ 23,50).

Por meio desse livro, aliás, é possível identificar uma faceta importante desse pensador que sonhou substituir a lógica - uma das mais fortes disciplinas da filosofia - pela matemática. Assim, além de suas geniais contribuiçoes para a lógica e para a matemática, Russel se debruçou sobre psicologia, religiao, sexo, casamento, educaçao, política e ética. Ou seja, produziu ensaios que também o transformaram em um dos mais atentos pensadores da moral e da cultura.

O livro cumpre exatamente o que promete seu título. O mérito da seleçao cabe ao editor responsável, Robert Egner. Em O Melhor, nao se tem o Russel matemático - cientista experimental -, crítico social ou ativista político. Aqui, a segunda metade do título também é perfeita, pois define o filósofo como satirista.

Ao longo dos textos eleitos, o leitor tem uma chance ideal para conhecer a instigante - e algumas vezes cáustica - visao de mundo de Russel. Quando fala de educaçao, por exemplo, mostra como isso resulta em perda de independência e de criatividade - para adultos e crianças. Quando o tema é sexualidade, surge como efeito perverso o rebaixamento da personalidade da mulher. E por aí vai Russel, um filósofo de vasta e muitas vezes impenetrável produçao intelectual, mas macerado de forma competente e honesta nesta obra que informa muito bem.