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Presos do PCC tomam cadeias em toda SP; pior situação é no Carandiru
Do Diário OnLine
18/02/2001 | 23:56
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A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) deu neste domingo uma demonstração de sua força no sistema penitenciário de São Paulo e comandou rebeliões em 19 cadeias de todo o Estado. A ação coordenada foi uma resposta ao governo pela transferência de dez cabeças da organização, mandados da Casa de Detenção do Carandiru para cadeias do interior. Pelo menos oito pessoas morreram, a maioria presos, segundo informações do secretário de segurança pública de São Paulo, Marco Vinício Petreluzzi.

A maior de todas as rebeliões foi no Complexo Penitenciário do Carandiru (que inclui a Casa de Detenção e a Penitenciária), na zona Norte de São Paulo. Cerca de sete mil presos mantêm desde as 13h de domingo aproximadamente dez mil pessoas como reféns (incluindo cerca de duas mil crianças), entre familiares e funcionários. Petreluzzi prevê que a situação só seja normalizada na manhã de segunda-feira. Pelo menos três mortos e 19 feridos já foram confirmados dentro Complexo (sendo nove funcionários, quatro parentes, três PMs e dois presos).

Dentro do Carandiru, os presos teriam revólveres, pistolas e até mesmo granadas do Exército Brasileiro, além dos telefones celulares e rádios de comunicação. Dois presos que morreram no Complexo teriam sido alvejados em trocas de tiros com soldados da muralha.

A Penitenciária do Estado é considerada o pior foco de rebeliões por autoridades da segurança pública, devido à presença de membros do primeiro quadro do PCC. No final da noite deste domingo, quatro penitenciárias ainda não tinham a situação controlada: Franco da Rocha, Tremembé, Penitenciária do Estado e Casa de Detenção (ambos parte do Carandiru).

Cerca de cinco mil visitantes (quatro mil adultos e mil crianças) entraram na Casa de Detenção. Na Penitenciária, foram registradas as entradas de 1.250 adultos e quase mil crianças. Reféns de ambas as cadeias começaram a ser libertados durante a noite, saindo em ambulâncias e ônibus da PM. O hospital do Carandiru foi tomado pelos policias, que já libertaram 40 reféns.

A Tropa de Choque tomou o pátio do Complexo por volta das 17h15, mas não avançou aos pavilhões. Os presos condicionam a libertação dos reféns à saída dos PMs de dentro do Carandiru, mas as autoridades se recusam a atender a essa reivindicação.

Em outra cadeia da capital, a Penitenciária do Belém, duas mortes foram confirmadas pelas autoridades da segurança pública. A situação no local foi controlada no início da noite. Na penitenciária feminina, ao lado do Carandiru, também houve rebelião. Pelo menos duas presas ficaram feridas e vários focos de incêndio foram desencadeados dentro da detenção.

A rebelião no Carandiru começou durante o horário de visitas, por volta das 13h. Imagens aéreas mostraram um grande rastro de sangue no pátio externo. Alguns reféns que passaram mal dentro do Complexo foram liberados para deixar o local em ambulâncias. A permanência dos familiares, porém, não seria uma imposição dos presos. Informações dão conta de que os familiares querem ficar para proteger os presos em uma possível ação da PM. Mesmo com o início das libertações, no final da noite, muitos familiares tiveram de sair à força.

Depoimentos de familiares que foram libertados durante a noite coincidem com relação ao tratamento dos presos. Eles teriam liberado a saída de parentes, especialmente as crianças, mulheres grávidas e pessoas com problemas de saúde.

Todo o Complexo foi tomado pelos presos. Eles se concentraram nas quadras de futebol, na parte de trás do pátio da detenção. No local, os rebelados escreveram as mensagens "paz, justiça e liberdade" (lema do PCC), "paz 1533", "reivindicação" e "fim do anexo".

O secretário de segurança pública do Estado, Marco Vinício Petreluzzi, afirmou que o governo não vai negociar com o PCC ou recolocar os dez líderes transferidos em cadeias da capital. "Aqui só existe um comando: o do governo", afirmou o governador em exercício do Estado, Geraldo Alckmin.

Ligações - Com uma rede de comunicação que inclui rádios e telefones celulares, os presos do PCC conseguiram articular rebeliões em Guarulhos, Presidente Venceslau, Presidente Bernardes, Campinas, Sorocaba, Avaré, Hortolândia, São Vicente, Itapetininga, Araraquara e Tremembé, entre outras.

As ações pelo interior foram articuladas por presos da capital, que mantiveram contatos por celular com a orientação de começar rebeliões no auge do horário de visitas, entre o meio-dia e 13h.




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