Internacional Titulo
Irmão menor afirma ter visto Jackson ‘tocar’ a vítima
Da AFP
08/03/2005 | 18:24
Compartilhar notícia


Os advogados de Michael Jackson contra-atacaram, nesta terça-feira, o explosivo depoimento dado na véspera pelo irmão caçula da suposta vítima, levantando dúvidas sobre a veracidade das declarações da testemunha mais importante da acusação.

O chefe da defesa de Jackson, o advogado Thomas Mesereau, deu início ao severo interrogatório do adolescente de 14 anos, um dia depois de ele declarar em depoimento à promotoria que viu duas vezes o astro pop molestar o irmão em sua própria cama. O jovem disse aos jurados que o astro alertou a ele e a seu irmão que nunca falassem sobre o que aconteceu em seu rancho, ‘Neverland’, nem mesmo com uma arma contra a cabeça.

Mesereau começou imediatamente a procurar lacunas na versão do adolescente. Na véspera, o rapaz havia dito que entrou no quarto de Jackson, protegido por um sofisticado sistema de segurança, em fevereiro de 2003, e surpreendeu o astro molestando seu irmão, então com 13 anos, que se recuperava de um câncer.

Mas o advogado conseguiu que o jovem reconhecesse que um alarme no corredor que leva ao quarto de Jackson disparou nas duas ocasiões em que ele teria testemunhado o suposto abuso, alertando o cantor da aproximação de alguém. "É verdade que o alarme soou nas duas vezes que você viu seu irmão com Michael Jackson?", perguntou Mesereau ao jovem, considerado uma ‘testemunha-chave’ no caso contra o réu mais famoso do mundo. Única pessoa a testemunhar o abuso sexual, o rapaz confirmou que o alarme realmente soou, anunciando sua chegada, mas insistiu que o barulho só poderia ser ouvido dentro do quarto com a porta aberta.

Mesereau também levou o jovem a admitir que mentiu sob juramento cerca de cinco anos atrás, quando tinha oito ou nove anos, ao depor em um processo apresentado por sua mãe contra uma loja de departamentos. Ele admitiu que as declarações de que seus pais nunca tinham brigado e que nunca apanhou do pai não eram verdade. "Alguém disse para você mentir?", perguntou Mesereau, que retratou a mãe dos rapazes como uma predadora financeira que treinou os filhos a tramar histórias para obter dinheiro em processos judiciais. "Eu não me lembro", respondeu o menino.

O adolescente também afirmou que o rei do pop desfilava nu e excitado na frente dos irmãos, mostrava a eles material pornográfico, dava-lhes vinho e simulava fazer sexo com um manequim. Sob o olhar fixo do cantor, que o observava do banco dos réus, o jovem contou sobre o dia em que flagrou o irmão com Michael Jackson na cama do cantor. Ao entrar no quarto, ele viu Jackson deitado de barriga para cima em sua cama, ao lado do seu irmão, que estava com o rosto virado para o lado contrário do de Jackson, com os olhos fechados.

"Eu vi a mão esquerda de Michael dentro da roupa íntima do meu irmão e sua mão direita dentro de sua própria roupa íntima", disse o jovem na segunda-feira. "Ele (Jackson) se masturbava. Ele se acariciava. Ele estava com a mão dentro de suas calças, e fazia movimentos para cima e para baixo", disse aos jurados que poderão mandar Jackson, 46 anos, para a prisão por até 20 anos. O adolescente contou ainda ter visto uma cena quase idêntica quando entrou no quarto do cantor cerca de dois dias depois.

Os supostos atos de abuso ocorreram dias após a exibição do documentário ‘Living with Michael Jackson’, no qual o astro pop aparece de mãos dadas com aquele que hoje o acusa. Embora tenha vacilado algumas vezes durante seu depoimento e se mostrado freqüentemente confuso sobre datas específicas, deu sua versão do suposto abuso claramente e sem qualquer hesitação.

Ele também contou que Jackson teria aparecido por alguns momentos nu e com uma ereção na frente dos irmãos, enquanto estes assistiam televisão na imensa cama do cantor. Além disso, afirmou que Jackson mostrou a eles sites e revistas pornográficas e freqüentemente dava a eles vinho branco e tinto - o qual, segundo ele, Jackson apelidou de ‘suco de Jesus’ -, disfarçado em latas de refrigerante. Segundo o adolescente, enquanto o cantor mostrava aos jovens os sites pornográficos, vendo dois de seus filhos, Prince Michael e Paris, dormirem, ele afirmava: "Não sabem o que estão perdendo".

Perguntado pelo promotor Thomas Sneddon se Jackson alguma vez os alertou sobre os fatos ocorridos no rancho ‘Neverland’, o jovem disse que ele pediu que mantivessem segredo. "Uma vez Michael avisou a mim e a meu irmão que não falássemos nada sobre o que aconteceu, nem mesmo se colocassem uma arma contra nossa cabeça", afirmou. Jackson negou todas as dez acusações apresentadas contra ele, entre elas a de abuso sexual de um menor, fornecimento de álcool ao menor com o intuito de seduzi-lo, conspiração para o seqüestro do menor e sua família e de mantê-lo prisioneiro no rancho até a realização de um vídeo livrando o cantor de qualquer alegação de abuso sexual.

Imprensa - O exército de jornalistas que cobre o julgamento de Michael Jackson precisa usar suas melhores armas para manter o interesse do seu público numa cobertura com poucas imagens de televisão, que afeta a sensibilidade do público e continua, em parte, mergulhado em segredo. Para driblar os obstáculos, a rede de ‘TV E! Networks Television’ está reconstituindo o julgamento com a ajuda de atores. O programa é transmitido nos Estados Unidos e Grã-Bretanha em uma série diária do canal e está sendo produzido em formato de docudrama, tipo de documentário cujo tema é ilustrado com cenas de ficção.

O julgamento que transcorre na tranqüila e agrícola comunidade de Santa Maria (Califórnia, oeste) tem todos os ingredientes para se tornar um sucesso de público: é protagonizado por um astro internacional, que tem uma reputação polêmica e trata da suspeita de abuso sexual de um menor.

Centenas de jornalistas de todo o mundo ‘montam guarda’ desde 31 de janeiro passado, quando começou o julgamento, na pequena corte da cidade de 85 mil habitantes, que lembra mais uma escola do que um tribunal de Justiça.

Apesar desta mobilização da mídia, o julgamento que o astro pop enfrenta não suscitou o mesmo interesse que o do astro de futebol americano O.J Simpson, dez anos atrás.

A maioria dos meios de comunicação, já um pouco decepcionados e frustrados com os altos custos que o julgamento representa para seus bolsos, trava nestes dias uma dura batalha para captar imagens de um caso em que as câmeras de televisão não podem entrar no interior da corte.

"É realmente muito difícil para nós (trabalhar desta forma), gostaríamos de mostrar o julgamento de dentro do recinto da Corte de forma que as pessoas possam julgar por si mesmas", disse Tim Sullivan, vice-presidente da emissora de televisão ‘Court TV’, cuja programação é dedicada a problemas legais de celebridades. "Até o momento há um pouco de interesse. Mas nada que supere o do (jovem empresário acusado no ano passado de assassinar sua esposa) Scott Peterson, por exemplo", acrescentou.

Sullivan, assim como muitos outros diretores de mídia, espera que o caso ganhe vulto para justificar seus gastos quando comparecerem estrelas como a lenda viva do cinema Elizabeth Taylor.

Por enquanto, as câmeras de televisão devem se contentar em ilustrar o caso com uma imagem repetitiva: um "austero" Jackson que desce de uma caminhonete, saúda os fãs, entra na Corte e passa pelo detector de metais. Esta rotina é a única imagem de Jackson que as câmeras têm à disposição, depois que o juiz impediu que o processo seja filmado.

Nem mesmo o primeiro dia do julgamento conseguiu ocupar as primeiras páginas dos jornais americanos. O dia em que os advogados da defesa e da acusação apresentaram seus "argumentos iniciais", considerado uma das etapas cruciais de um processo judicial, o jornal ‘USA Today’ deixou a página dois como espaço para o julgamento. Para nós, "é um processo importante", disse Marcy McGinnis, vice-presidente da emissora americana CBS, que tem instalado um forte comboio em Santa Maria para os seis meses que o julgamento deverá durar. "Mas não nos comprometemos a cobri-lo de forma diária. Só se acontecer algo importante", acrescentou.

O caso Jackson "não é um assunto de interesse nacional, mas uma grande telenovela", disse Robert Thompson, especialista da Universidade de Syracuse. Nada comparável ao que aconteceu com "o caso O.J. Simpson, que se transformou em ícone da nossa sociedade". O processo contra Simpson "falava por si só do nosso sistema judicial, do casamento, do amor, do racismo, do papel da polícia. Era quase 'shakespeariano'", disse.

O caso Scott Peterson, que no ano passado foi condenado pela morte da mulher, grávida de oito meses, "tinha mais a ver com o grande público: uma mulher grávida da classe média", disse o diretor da emissora. "E Michael Jackson não é mais a mesma estrela de dez anos atrás", acrescentou. "E também devemos pensar que o crime de abuso sexual de menores é um tema que incomoda as pessoas e não é fácil falar disso", concluiu.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;