Em Mauá, Sene Vídeo guarda cerca de 10 mil títulos de mídias físicas de filmes e séries; streaming e pirataria são apontados como vilões
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Em um mundo do entretenimento cada vez mais dominado pelos streamings, uma pequena porta de vidro no número 107 da Rua Décio de Assis Pedroso, na Vila Assis Brasil, em Mauá, abriga 10 mil títulos de filmes e séries, de diversas décadas, em mídias físicas, enfileirados em suas prateleiras. Com um catálogo que vai do clássico de ficção científica Blade Runner (1982) ao remake da animação O Rei Leão (2019), a Sene Vídeo é uma entre as 19 locadoras de vídeo que sobreviveram no Grande ABC após o avanço dos serviços por assinatura – e da pirataria.
Segundo levantamento realizado por meio do IPC Maps 2024, na região, Santo André concentra ainda nove unidades de videolocadoras, seguida por São Bernardo, com cinco. Em São Caetano e Mauá sobreviveram duas em cada município, e em Diadema, apenas uma. Em Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, as locadoras de vídeo estão extintas. Na cidade mauaense, a Sene Vídeo resiste com uma história de 31 anos de serviço, além dos 10 mil títulos disponíveis para compra e aluguel.
“Sigo andando nos meus passos, de repente veio a pandemia, parou o cinema, as distribuidoras pararam de lançar as mídias físicas e agora estou tentando me reinventar vendendo para colecionadores”, relata Luiz Sene, 56 anos, um dos proprietários do espaço. Segundo ele, nos últimos anos, as distribuidoras passaram a não lançar títulos em DVD e Blu-ray no Brasil. A situação, que já era ruim após o avanço do streaming e pirataria, piorou, já que Luiz passou a trabalhar integralmente com seu acervo.
“Para se ter uma ideia, estava alugando bem até a pandemia, porque estava recebendo os lançamentos. A cada 15 dias tinha quatro lançamentos, hoje eu não tenho mais nenhum. Agora em 2023 tiveram dois, o Adão Negro e A Baleia, que foi último lançamento de cinema que saiu em mídia física”, explica o comerciante. Luiz Sene avalia que a queda no mercado começou nos anos 2010, após avanço da pirataria, por meio de downloads e da venda ilegal em comércios livres, mas a falta de lançamentos foi o mais recente e forte golpe contra o setor, de acordo com ele.
Mesmo alugando pelo mesmo valor de dez anos atrás, em uma média de R$ 6 a R$ 10, dependendo do título, Luiz ainda tem dificuldades, já que a atual clientela, na casa dos 200 clientes – a maioria na busca por títulos fora dos streamings –, está longe das cerca de 10 mil pessoas atendidas nos anos 2000. Por conta disso, ele tem participado de bazares e feiras de mídias físicas, como os DVDs, fitas VHS e Blu-Ray, e revela a intenção de realizar uma edição de evento semelhante no Grande ABC durante o segundo semestre.
“Nunca cheguei a pensar em fechar para valer, porque temos um gosto por aquilo que fazemos, mas uma hora que tenho que tirar um ganha-pão. Entrar no trabalho às 9h da manhã, sair às 19h e não vir ninguém… Você começa a pensar. Se eu não estivesse, de 2023 para cá, envolvido com esse negócio de venda e feiras, teria parado, sim. Talvez guardado as coisas, atendido um ou outro combinado, mas procurava outra coisa para fazer”, desabafa o comerciante, que tem como sócia na loja a irmã, Ligia Sene.
SINDICATO
Luciano Tadeu Damiani, ex-presidente do Sindemvideo (Sindicato das Empresas Videolocadoras do Estado de São Paulo), relembra os dias de glória e o declínio das locadoras de vídeo. Há duas décadas, o mercado era promissor, com muitas lojas em ascensão, apesar dos desafios da pirataria. No entanto, para ele, a chegada da TV a cabo e dos serviços de streaming marcou o fim desse segmento.
“Os filmes eram uma diversão de final de semana, a população ia até a videolocadora para pegar seu filme para assistir. Depois que tiveram esse serviço em casa sem precisar sair, acabaram parando de ir e foi o fim do mercado”, diz Damiani.
Com a decadência do setor, o sindicato que as videolocadoras foi fechado. Para Damiani, não há possibilidade de retorno desse mercado.
SOMADOS, STREAMINGS SAEM MAIS CARO
Apontados como um dos principais fatores para a queda no número de locadoras, os principais serviços de streamings, somados, custam quase R$ 200 mensalmente. A Amazon Prime custa R$ 19,90, a AppleTV+, R$ 21,90, e o Globoplay, R$ 27,90 por mês.
A Netflix tem opção mais barata com anúncios (R$ 20,90), enquanto a versão sem custa R$ 44,90. O HBO Max, agora Max, tem plano com anúncios a R$ 29,90 e sem anúncios a R$ 39,90.
A fusão do Star+ e Disney+ resultou em uma queda no preço do combo para R$ 43,90, mas quem assinava apenas o Disney+ viu o preço subir para R$ 33,90 desde abril de 2023. Atualmente, assinar todos esses streamings nas versões mais baratas, que incluem anúncios, custa R$ 161,40. Para assistir sem comerciais, o custo é de R$ 195,50.
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