Jeferson Gomes da Silva havia sido dado como desaparecido e foi encontrado dentro de buraco no Parque Guaraciaba, em Santo André
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Jeferson Gabriel Gomes da Silva, de 19 anos, sobreviveu dentro de um poço, sem água ou comida, por quatro dias. O jovem estava desaparecido desde sábado (1º) e foi encontrado ontem, em uma área remota do Parque Guaraciaba, em Santo André. Segundo a família, o jovem tinha costume de fazer trilhas no local.
O resgate de Jeferson mobilizou bombeiros, GCM (Guarda Civil Municipal) e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em uma operação de içamento tensa e que acabou bem-sucedida. No final, o rapaz sofreu “apenas” ferimentos em uma das pernas.
Ele foi atendido pela equipe médica do Samu e encaminhado ao Centro Hospitalar Municipal de Santo André, onde precisará passar por uma cirurgias no tornozelo e joelho esquerdos.
Maria Helena Cordeiro da Silva, 59, mãe de Jeferson, contou que o filho saiu de casa no sábado depois do café da manhã. Segundo ela, o jovem parou de receber mensagens em seu celular por volta das 10h30, provável momento no qual caiu no poço.
Emocionada, Maria expressou sua gratidão e alívio após o resgate bem sucedido. “Chegamos aqui (no parque) por volta das 8h. Só tenho a agradecer a todos, foi um batalhão de gente querendo ajudar e ficar ao nosso lado. Eu só tenho a agradecer por tudo e por todos que nos ajudaram. Para mim foi um milagre depois desse susto. São todos anjos de Deus”, afirmou.
A Secretaria de Segurança Cidadã de Santo André foi informada na tarde de terça-feira (4) sobre o desaparecimento de Jeferson.
Sabia-se que a última localização conhecida pela família indicava o Parque Guaraciaba. Com base nas informações fornecidas pelos familiares, o GCM Roberval, encarregado do COI (Centro de Operações Integrado), verificou o sistema de videomonitoramento do parque e confirmou a presença do jovem no local.
O secretário de Segurança Cidadã de Santo André, o coronel da PM (Polícia Militar) Temístocles Telmo Ferreira Araújo, orientou os primeiros passos da procura pelo rapaz.
“Quando a informação do desaparecimento chegou para nós, por volta das 17h, escurecendo e encerrando o horário de funcionamento. Eu orientei o pessoal da guarda a manter o policiamento em torno do parque e, na manhã seguinte, a partir das 6h, realizamos uma incursão na mata para verificarmos e dar certeza que ele ainda permanecia no parque.”
A GCM organizou uma busca. Durante a incursão na mata, os GCMs Lacerda e Rodarte localizaram o jovem no interior de um poço, consciente, porém ferido e desidratado.
Origem do poço na mata é incerta
O poço onde Jeferson foi encontrado fica em um espaço de reflorestamento, localizado aproximadamente a meio quilometro da área de uso geral dos frequentadores do Parque Guaraciaba – ou seja, em uma área bastante isolada do equipamento, em meio à mata fechada e de difícil acesso.
A Secretaria de Meio Ambiente de Santo André afirma que já iniciou trabalhos de fechamento do poço, para evitar futuros incidentes.
“Assim que tomamos ciência do ocorrido, entramos em contato com a Secretaria de Meio Ambiente para avaliar o melhor a ser feito. Por ser uma área invadida em períodos anteriores, há a possibilidade de existirem mais poços como este nos arredores da trilha”, disse o secretário de Segurança Cidadã de Santo André, Temístocles Telmo Ferreira Araújo.
A reportagem do Diário esteve presente no local e constatou que a perfuração no solo tinha uma circunferência muito bem definida, aparentando ter sido feita por uma máquina, porém não havia tijolos, pedras nem nenhum tipo de calçamento ou concreto – o poço era todo de terra.
A origem do poço (ou para que servia) é um mistério, já que a prefeitura do município afirma que não tinha conhecimento de sua existência até o momento.
O Parque Guaraciaba teve suas obras de construção iniciadas em 2019 e foi inaugurado em dezembro de 2022. Antes, o terreno sediou até 1984 uma empresa que atuava na área de mineração. Em 1989, o local foi desapropriado a pedido da comunidade. Por décadas a área carregou o estigma das tragédias ocorridas em seu “tancão da morte”’, um lago de quase 75 mil m² situado dentro da área verde. Pelo menos 33 pessoas morreram por afogamento no “tancão”, fechado em 2014, a pedido do MP (Ministério Público).
Sobrevivência de jovem foi atípica
Sobreviver a um evento como o ocorrido com Jeferson Gomes da Silva é totalmente atípico, segundo especialistas ouvidos pelo Diário. O rapaz ficou preso no buraco desde a manhã de sábado (1º) até a manhã desta quarta (5), sem acesso a água ou comida.
“Falando em uma média bem aproximada, variando muito de pessoa para pessoa, até três semanas é possível sobreviver sem comida. Com água é totalmente diferente. Envolve algumas condições, de temperatura, de ambiente, mas, geralmente, uma pessoa pode sobreviver sem água no máximo três dias”, explica o médico Rodrigo Vetorazzi, Coordenador da Ortopedia do Hospital Albert Sabin de São Paulo. “A ausência de comida gera alterações de humor, de pensamentos, fraqueza, altera imunidade, O organismo começa a se autoconsumir, tanto gordura como massa muscular”, continua.
A médica endocrinologista e metabologista Carolina Mantelli destaca que a privação de água causa efeitos como baixa pressão arterial, frequência cardíaca aumentada, confusão e desorientação, insuficiência renal, delírio e, por fim, coma e morte. Ela destaca ainda que a lesão sofrida na queda piorou muito a situação.
“Estar com uma fratura enquanto se enfrenta a privação de comida e água agrava significativamente a situação devido ao aumento das necessidades metabólicas, ao risco de complicações infecciosas, à dor, ao estresse e à imobilização. Esses fatores combinados podem reduzir drasticamente o tempo de sobrevivência e aumentar a urgência de receber ajuda médica. Em qualquer cenário de privação extrema, uma fratura representa uma condição crítica que exige intervenção imediata”, diz.
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