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Loja de conveniência abastece lucro dos postos de gasolina
Mariana Oliveira
Do Diário do Grande ABC
20/02/2005 | 17:36
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As lojas de conveniência estão tomando o lugar dos combustíveis como principal fator de lucratividade dos postos de gasolina. Segundo o Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes), as lojas já são responsáveis por até 70% da margem de lucro dos postos.

De acordo com o último balanço realizado pelo Sindicom, no início de 2004, existiam 2,9 mil lojas de conveniência em postos de gasolina no Brasil. Isso corresponde a 13% dos 22 mil postos do país. O faturamento de todo o setor – resultante da venda de combustíveis e de produtos nos postos com e sem lojas de conveniência – alcança R$ 121 bilhões anuais, segundo o Sindicom.

No Grande ABC, a média de participação das lojas no lucro das empresas é menor – 25% a 30% –, mas o segmento só prospera, segundo o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC). “O setor tende a crescer e, possivelmente, proporcionar uma lucratividade maior para as empresas”, diz o presidente do sindicato, Marcos Campagnaro. Dos 390 estabelecimentos locais, 52 oferecem o serviço – também 13%. Há 28 lojas em São Bernardo, 14 em Santo André, sete em São Caetano, duas em Diadema, uma em Mauá e uma em Ribeirão Pires. Rio Grande da Serra não tem lojas de conveniência.

Para o coordenador do Grupo de Lojas de Conveniência do Sindicom, Francisco Lavrador Pereira, o principal motivo do sucesso das lojas nos postos de combustíveis é a comodidade que proporcionam ao consumidor. “Além disso, as lojas de conveniência mudaram o conceito dos postos de combustíveis, que antes eram aparentemente sujos. Hoje, os postos são estações de serviços. Esse é um mercado que ainda deve crescer muito”, afirma. Pereira considera que a porcentagem de lucro com a loja de conveniência em relação ao faturamento total varia muito. “Depende do tipo da loja e da localização.”

A empresária Adelair Toranzo, proprietária do Auto Posto Novo Humaitá, situado há 22 anos no início da avenida Queiroz Filho, está mais do que satisfeita com a loja de conveniência. O estabelecimento, de bandeira Esso, fica aberto 24 horas e se tornou um ponto de encontro em Santo André. Com isso, Adelair diz  lucrar mais com a loja do que com a venda de combustíveis.

“Postos de combustível não sobrevivem nos dias de hoje sem as lojas de conveniência. As pessoas compram de tudo, desde bebidas até remédios. É um centro de serviços, que abastece o cliente com as necessidades de última hora”, diz a empresária. Ela possui uma franquia da Hungry Tiger, loja de conveniência da Esso, há oito anos e considera positivo o fato de o posto ser “point” de jovens. “Eles não bagunçam e ainda consomem a noite toda. Graças a eles, o maior movimento no estabelecimento é de sexta a domingo”, afirma.

Em São Caetano, o “point” é o Posto 5. O estabelecimento, de bandeira Esso, funciona 24 horas e possui loja de conveniência há dez anos. De acordo com o gerente Osmar Muniz, de quinta a domingo o local aglomera 150 pessoas por noite. “Isso sem contar os que passam, consomem e vão embora”, diz.

A loja de conveniência é própria, diferentemente da maioria dos estabelecimentos – que possuem lojas franqueadas. Para o gerente, o melhor da loja própria é a liberdade do proprietário. “Podemos vender o que queremos, não há nada preestabelecido.” Muniz diz que a loja já representa 40% do lucro da empresa. “Há uma tendência de crescimento no segmento. Para o Posto 5, o setor de conveniências só traz vantagens”, afirma.

O Nova Kennedy Auto Posto, cercado pelos bares e boates da avenida Kennedy, também é ponto de encontro em São Bernardo. Com a presença de até 80 pessoas no local, graças à loja de conveniência, uma franquia da AM PM – rede própria dos postos Ipiranga –, o estabelecimento é referência para os jovens da cidade. De acordo com o proprietário, João Carlos Vendramini, a loja representa 25% do lucro da empresa. “O setor de conveniências agrega valor ao posto, que passa a oferecer mais comodidade aos clientes”, afirma.

Para ele, a vantagem de estar associado a uma companhia como a AM PM é o know-how de comercialização, que inclui apoio técnico, treinamento, estrutura de marketing e ações publicitárias. “Isso é uma vantagem competitiva em relação aos estabelecimentos independentes”, diz.

Segundo Vendramini, a dificuldade de administrar uma franquia é o alto custo para manter toda a estrutura exigida e o pagamento da taxa de franquia e dos royalties sobre o faturamento bruto, que impactam diretamente a rentabilidade final da empresa. “Outra desvantagem é a limitação da liberdade, já que os postos têm de trabalhar com um sistema predefinido pela rede. Além disso, uma campanha nacional nem sempre atinge os objetivos específicos de cada loja”, afirma.

Em Ribeirão Pires, o posto M&G, de bandeira Esso, possui loja de conveniência própria e virou o “point” da cidade. De acordo com o gerente Eduardo Spineli, a loja proporciona 40% do lucro total do posto. “O estabelecimento junta, em média, 150 pessoas por noite às sextas, sábados e domingos. Isso é muito positivo porque quem fica no local consome bastante”, avalia.

A saída para não gastar tanto com empregados, já que o serviço funciona 24 horas, foi conjugar o caixa da loja com o do posto. “Acaba sendo interessante. Se tivésemos que seguir os padrões das franquias, os custos seriam bem maiores”, comenta Spineli.  

Lei seca – Implantada em 31 de janeiro em São Caetano, a Lei Seca não proíbe nem altera o funcionamento 24 horas das lojas de conveniência. A lei impede a comercialização de bebidas alcoólicas das 23h às 6h.

De acordo com o diretor do Departamento de Planejamento de São Caetano, Ramir Sayar, a legislação se refere a estabelecimentos que vendam bebidas abertas para consumo no local, exceto restaurantes e pizzarias. “No caso dos postos de conveniência, que vendem produtos fechados, não temos como proibir.  Se os jovens fizerem bagunça e atrapalharem a vizinhança, aplicaremos a lei que garante o silêncio após as 22h”, diz.

A Lei Seca também existe em Mauá e Diadema – em ambos os municípios, foi instituída em 2002.



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