Os corpos de 21 aldeões xiitas, seqüestrados na madrugada deste sábado, foram encontrados mortos ao nordeste de Bagdá, capital do Iraque, onde o toque de recolher vigora pelo segundo dia consecutivo após os atentados de Sadr City e os ataques contra mesquitas sunitas.
Segundo a polícia, homens armados circulando em cinco carros irromperam na aldeia de Imam Mansur, cerca de 100 quilômetros ao nordeste de Bagdá. Eles obrigaram todos os homens a sair de suas casas e os levaram para um matagal, onde foram executados. Os corpos foram descobertos na manhã deste sábado. A vítima mais jovem tinha 12 anos.
Outros quatro corpos foram encontrados pela polícia mais ao sul, na região de Baaquba. Policiais afirmaram ter matado "entre 20 e 30 terroristas" e ter detido outros tantos nesta zona. O corpo de uma mulher torturada também foi descoberto perto de Kirkuk.
A capital iraquiana vive neste sábado seu segundo dia consecutivo sob toque de recolher. A circulação de automóveis é proibida e as grandes avenidas da cidade estão excepcionalmente desertas.
O aeroporto ficou fechado, impedindo o presidente iraquiano, Jalal Talabani, de viajar ao Irã, como havia previsto. "Não posso sair porque o aeroporto está fechado. Se ele reabrir no domingo, irei para Teerã", declarou Talabani.
O toque de recolher foi decretado quinta-feira pelas autoridades após o atentado mais mortífero perpetrado no Iraque desde 2003, que deixou 202 mortos no reduto xiita de Sadr City, em Bagdá. Apesar deste toque de recolher, a polícia encontrou oito corpos na capital neste sábado e várias explosões e disparos foram ouvidos em toda a cidade.
Um morteiro caiu sobre uma tenda funerária no bairro de Al-Dchir (sul), matando uma pessoa e ferindo três. Outra bomba que caiu em Hurriyah (oeste) matou uma mulher e feriu seis pessoas.
Hurriyah, uma zona onde vivem xiitas e sunitas, havia sido atacada na sexta-feira por milícias xiitas, que incendiaram uma mesquita sunita. Um helicóptero americano foi mobilizado na noite de sexta em Sadr City para impedir milicianos de seguir disparando foguetes contra bairros sunitas vizinhos.
Em Khalidiyah, na província de Al-Anbar (oeste), três civis iraquianos, entre eles duas crianças e um marine americano, foram mortos e nove pessoas ficaram feridas neste sábado em um atentado com carro-bomba.
"Com este ataque, sobe para 10 o número de crianças mortas pelos rebeldes nos três últimos meses. A insurreição mostra sua falta total de consideração com os habitantes da província", comentou o tenente-coronel Bryan Salas, porta-voz do exército americano para a província de Al-Anbar, um dos principais feudos da insurreição no Iraque.
No âmbito político, no Cairo (Egito), o secretário-geral do Comitê dos Ulemás muçulmanos, Hareth Dhari, pediu aos países árabes que deixem de apoiar o governo do premier Nuri al-Maliki, qualificado de "força do mal" e de "governo de ocupação".
Chefe da principal associação religiosa sunita do Iraque, Dhari é acusado de "incitação à violência religiosa" e é objeto de uma investigação. Uma personalidade próxima ao líder radical xiita Moqtada al-Sadr acusou as forças americanas de "colaborar" com a rede terrorista Al Qaeda para lançar ataques contra a comunidade xiita.
"Está claro que existe uma colaboração entre as forças americanas, a Al Qaeda e os partidários de (o ex-presidente iraquiano) Saddam Hussein. Há provas", afirmou Saheb al-Amiri, secretário-geral dos Mártires de Allah, uma instituição religiosa vinculada ao movimento de Sadr.
"Durante os atentados de quinta-feira em Sadr City, um grupo de terroristas atacou ambulâncias na frente dos ocupantes (os americanos)", afirmou, acusando também o exército dos Estados Unidos de estar envolvido no atentado com dinamite contra a sede do movimento de Sadr, cometido na sexta-feira.
Os americanos, por sua vez, anunciaram ter matado 22 "terroristas" em duas operações ao norte de Bagdá, informando que civis foram atingidos durante uma operação em Taji.