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Lagoa Rodrigo de Freitas sofre há 200 anos com o descaso
Do Diário do Grande ABC
11/03/2000 | 16:10
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Há 200 anos o Rio busca uma soluçao para conviver com a Lagoa Rodrigo de Freitas. Se atualmente o homem a ameaça, no século 19 ela colocava em risco à saúde das pessoas. E o problema sempre foi o mesmo: a má qualidade das águas. O desafio de torná-la mais saudável, em benefício do bem-estar da populaçao e da preservaçao do meio ambiente, mobilizou especialistas ao longo dos últimos 200 anos e poucos esforços do poder público, que, na maior do tempo, assistiu inerte aos debates.

O Barao de Tefé, no fim do século passado, descrevia a lagoa como um "infecto depósito de águas estagnadas, verdadeiro foco de intoxicaçao palustre". Mas nao foram os brancos os primeiros a olhá-la com desconfiança. Os índios a chamavam de Ipanema, que em tupi significa águas ruins. Assim, ela foi por muito tempo um problema de saúde pública, sendo, no fim do século passado, um dos focos de malária na cidade.

Os problemas maiores eram causados pelos constantes alagamentos que transformavam grandes extensoes do Jardim Botânico em pântanos, quando a água baixava. A maior parte dos aterros foram feitos nas áreas sujeitas a alagamento, observa o engenheiro Paulo César Rosman, professor da Coordenaçao dos Programas de Pós-Graduaçao da UFRJ. Os aterros reduziram os 3,8 milhoes de metros quadrados originais da lagoa no século passado para os 2,3 milhoes de metros quadrados atuais.

Antes dos aterros, a lagoa praticamente se encontrava com o mar. Mas no século 19 essa proximidade nao garantia mais a troca de água. Antes mesmo da intervençao do homem, o Canal da Barra sofria com os bancos de areia que impediam a troca de água. Ele servia apenas de extravasor, como acontece agora, das águas da lagoa para o mar. Desta forma, nem mesmo o Canal do Jardim de Alah resolveu o isolamento da lagoa, que condena suas águas a estagnaçao. Para a troca de água e a manutençao dos níveis necessários de oxigênio, garantindo a vida da fauna e da flora, a lagoa depende do mar. Afinal, há cerca de oito mil anos, ela fazia parte do Oceano Atlântico. A forma atual começou a se desenhar há dois mil anos, quando surgiram as restingas do Leblon e de Ipanema.

Em 1500, as duas restingas eram separadas por um canal de cerca de 200 metros, que foi se estreitando até que em 1808 tinha aproximadamente 40 metros. "Quando Dom Joao chegou ao Brasil começou um entupimento no canal de ligaçao com o mar. Logo depois foram iniciados, no braço dos escravos, os trabalhos de dragagem do canal", explicou o geólogo José Moreira Torres.

Mas nem mesmo a beleza de suas curvas fez a natureza esquecer-se de que ela é uma lagoa e, como todas, tem uma vida limitada. "As lagoas sao sistemas efêmeros por serem pontas de assoreamento. O processo natural é ela secar", alertou Paulo César Rosman, defendendo a intervençao do homem para salvá-la. Homem este que acelerou o processo natural de envelhecimento da lagoa. "Temos que encontrar formas, nem que sejam artificiais, para ajudar a lagoa a se reciclar. Esta é a nossa contrapartida para o meio ambiente", disse o oceanógrafo David Zee, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.




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