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Quércia tenta recuperar o PMDB
Do Diário do Grande ABC
30/05/1999 | 17:21
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Sem o apoio dos antigos aliados que, como os deputados Alberto Goldman e Aloysio Nunes Ferreira abandonaram o partido, ou que, como o deputado Michel Temer, aderiram ao governo, o ex-governador Orestes Quércia está apostando na força dos prefeitos, sua base tradicional, para recuperar o PMDB paulista.

``A aliança com Fernando Henrique atrapalha a eleiçao de nossos candidatos, porque eles terao de concorrer com o PSDB em quase todos os 645 municípios do estado', afirma Quércia, prevendo as dificuldades locais que o PMDB enfrentará na campanha municipal do próximo ano.

``Como se pode aceitar o apoio ao governo federal e atirar nos tucanos que disputarao as prefeituras?', pergunta o ex-governador.

Com base nesse argumento, Quércia buscou o apoio do governador Itamar Franco, em Minas Gerais, e o do senador Roberto Requiao, no Paraná, para o lançamento do Movimento Novo PMDB - ou, como ele prefere dizer, do Movimento Novo MDB, bandeira que melhor traduziria uma volta à legenda original do partido. Sem romper, ao menos por enquanto, com a cúpula governista do PMDB, os adeptos dessa facçao pregam o rompimento com Fernando Henrique. De acordo com essa proposta, os ministros Renan Calheiros (Justiça) e Eliseu Padilha (Transportes) teriam de deixar o ministério.

``Acho difícil esse pessoal se afastar do governo, mas as bases do partido vao fazer pressao', anuncia Quércia, lembrando que, mais de uma vez, o presidente nacional do PMDB, o senador paraense Jader Barbalho, manifestou a intençao de desfazer a aliança com Fernando Henrique. Uma moçao que propoe o afastamento, informa o ex-governador, foi aprovada por unanimidade pelos delegados de diretórios municipais que, nas últimas semanas, participaram de dez encontros do 2º Congresso Regional do PMDB de Sao Paulo. Neste fim de semana, os encontros foram realizados nas cidades de Marília e Presidente Prudente.

Depois de conseguir a adesao de Minas e do Paraná, a intençao de Quércia é levar o Novo PMDB ao Ceará e a outros estados que se manifestaram receptivos ao movimento. O ex-governador paulista e ex-presidente nacional do partido pretende investir até no Rio Grande do Sul, onde, acredita ele, as bases apóiam a sua proposta, apesar da resistência do senador Pedro Simon e do ex-governador Antônio Britto, seus adversários dentro do partido.

Quércia insiste na base municipalista - formada pelos prefeitos, vereadores e diretórios municipais - porque a maioria dos 27 senadores e dos 108 deputados federais do PMDB está alinhada com o governo Fernando Henrique. ``Dos cinco deputados da bancada paulista, nosso movimento só tem o Marcelo Barbieri', revela Quércia. Pelas suas contas, nao passam de 15 a 20 os deputados de outros estados com os quais os nao-governistas poderiam contar.

Apesar desse desequilíbrio, Quércia rechaça a possibilidade de deixar o PMDB para fundar outra legenda - uma hipótese que Itamar Franco admite, conforme ele afirmou na semana passada, em Sao Paulo, ao receber a solidariedade dos quercistas na sede do diretório estadual do partido. ``Prefiro insistir no Novo PMDB', avisa o ex-governador. Quércia nao vê contradiçao em se lançar um movimento novo com a participaçao dos mesmos velhos militantes. ``Será um novo PMDB com os mesmos soldados veteranos, porque os recrutas desertaram', justifica.

O presidente do diretório municipal de Sao Paulo, ex-deputado Joao Leiva, um dos articuladores da pretendida renovaçao, observa que o PMDB nao tem nada de pessoal contra Fernando Henrique - ``um político até simpático com quem o partido sempre manteve boas relaçoes'. O que acontece, explica o dirigente, é que se chegou à conclusao de que nao tem por que participar da base de sustentaçao do governo.

``Nao podemos apoiar uma administraçao que tem o maior índice de desemprego, o maior déficit público e a maior dívida externa', argumenta Leiva, resumindo nesses itens as razoes que, segundo ele, levaram as bases peemedebistas a aprovar a moçao de rompimento com o presidente da República. Na reuniao de segunda-feira, adverte o dirigente, o PMDB vai apenas institucionalizar uma posiçao que corresponde ao sentimento geral das bases do partido.




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