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Ministro da Saúde demite diretores de áreas de transplantes
27/02/2004 | 22:03
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O ministro da Saúde, Humberto Costa, demitiu nesta sexta-feira por conduta irregular o coordenador do Sistema Nacional de Transplantes, Diogo Mendes, e a coordenadora do Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), Iracema Salatiel. A decisão foi tomada com base nos resultados de sindicância instaurada para apurar irregularidades no sistema de transplantes de medula óssea, concluída na semana passada.

Costa também pediu ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, a abertura de um inquérito para apurar suspeitas de que clínicas particulares e públicas fazem transplante sem autorização do Ministério da Saúde. O ministro não informou quantas clínicas estão sob suspeita nem mesmo quais seriam os indícios de irregularidades. O pedido foi aceito pelo Ministério da Justiça.

A sindicância foi aberta depois de denúncias feitas pelo ex-diretor do Centro de Medula Óssea do Inca (Instituto Nacional do Câncer), Daniel Tabak. Em janeiro, o hematologista pediu desligamento do cargo por não concordar com o tratamento diferenciado concedido a alguns pacientes. Na carta de demissão, relatou dois casos, um em Araraquara e outro no Recife. As denúncias apontadas foram comprovadas.

Pitoresca – Embora tenha desencadeado todas as investigações, o hematologista também teve sua conduta condenada. Na avaliação da sindicância, Tabak cedeu às pressões feitas pelo coordenador do Sistema Nacional de Transplantes para apressar a realização dos exames de compatibilidade de medula de uma paciente, indispensável para a realização do transplante.

"Esta é uma conclusão, no mínimo, pitoresca", afirmou o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), que coordena a comissão externa da Câmara dos Deputados criada para apurar o caso. "Ele trouxe o problema à tona. Se fosse conivente, o esquema ainda estaria atuando", completou. Segundo Guerra, o resultado da sindicância não vai alterar o trabalho da comissão. "Trata-se de uma investigação feita pelo próprio ministério, de irregularidades cometidas dentro do ministério. Precisamos ter uma avaliação isenta, agora."

Ao saber do resultado da sindicância, no Rio, Daniel Tabak ficou indignado. "Com isso, o ministro está dizendo o seguinte: todas as vítimas de estupro são culpadas pelo crime", comparou. Para Tabak, a sindicância passou por cima de questões fundamentais, como a autoria dos pedidos encaminhados ao então coordenador do Sistema Nacional de Transplantes. "Eles têm de responder quem vai se responsabilizar pela morte dos pacientes que estavam na fila, esperando para fazer exames (de compatibilidade) e transplantes.", afirmou.

Em suas denúncias, Tabak afirmava que o benefício concedido a pacientes era resultado de pressão política. No caso da paciente de Araraquara, o pedido para o tratamento diferenciado teria partido do vice-presidente da República, José Alencar. Nada ficou comprovado.




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