Ah, Nova York! Já serviu de pista de dança para King Kong e Godzilla, já foi o pontinho que cintila desesperado no radar de mísseis russos e coxia de conspirações domésticas para derrubar presidentes. O cinema já adotou a Big Apple para todos os fins e meios, em milhares de filmes.

Tantos que resgatar todos seria mais cansativo e laborioso que qualquer um dos 12 trabalhos de Hércules. Convém, portanto, direcionar o recorte para filmes recentes, obras que vislumbram o objeto Nova York sem desconsiderar a cicatriz deixada pelo 11 de Setembro, cinco anos atrás.

Constantemente são retratos afetuosos. Nem todos, por outro lado, exageram na glicose como As Torres Gêmeas, de Oliver Stone. Aquilo ali não é declaração de amor a uma cidade; é, na melhor das hipóteses, um voto de adoração aos bombeiros nova-iorquinos ou, talvez, a Nicolas Cage.

Declarações de amor fez Spike Lee em A Última Hora e O Plano Perfeito. Sabe amar com a consciência das imperfeições de Nova York e dos nova-iorquinos, das mudanças da paisagem urbana e da postura dos habitantes diante delas. Lee encontra em uma novíssima York em andamento, que deve olhar para o umbigo antes de debruçar-se na janela.

Por incrível que pareça, Homem-Aranha e Homem-Aranha 2, de Sam Raimi, teoricamente filmes infanto-juvenis, têm uma compreensão madura dessa cidade alterada. O protagonista a conhece em seus mínimos e máximos detalhes, circula tanto nas ruas quanto nos parapeitos. O herói é a projeção da autopreservação da cidade, de seus trens, de seus becos, de suas ruas, de seu dinamismo.