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Orlando Morando derruba teatro em CEU no Cooperativa

Demolição do equipamento cultural do CEU Celso Daniel causou indignação dos moradores do conjunto popular Três Marias, em São Bernardo

Artur Rodrigues
07/08/2023 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Depois de oito anos de abandono após pegar fogo em 2015 e nunca mais voltar a funcionar, o anfiteatro do CEU (Centro Educacional Unificado) Celso Augusto Daniel foi demolido pela Prefeitura de São Bernardo, sob o comando de Orlando Morado (PSDB), no início do ano. Embora tenha sido informado que o equipamento dará lugar a dez novas salas de aula, a medida adotada pelo Paço causou indignação dos moradores do Conjunto Habitacional Três Marias. 

“Vários moradores vieram para frente do CEU tentar impedir a demolição, mas, infelizmente, não teve jeito. O pessoal que veio demolir não nos deixou nem chegar perto do teatro. Nós brigamos, fizemos abaixo-assinado, mas mesmo assim eles demoliram. Tudo bem que a Prefeitura está construindo novas salas de aula, mas precisava destruir o teatro, que levava cultura para o povo daqui? Não poderiam estar fazendo as salas de uma outra forma? A questão é que ninguém do poder público consultou os moradores daqui, simplesmente vieram com os tratores e botaram o teatro abaixo”, comentou Angra Aparecida Vieira, 32 anos, líder comunitária do bairro Cooperativa. 

Segundo ela, o teatro demolido era a única opção cultural que os moradores do bairro Cooperativa tinham. “Tem aquela Fábrica de Cultura no Centro, mas é muito longe daqui e muitas pessoas não têm condição de se deslocar até lá. Aqui ao redor não tem mais nada, temos essa praça aqui, que é muito pequena para a quantidade de gente que mora na região. Nossas crianças simplesmente não têm opção de cultura e lazer morando aqui. Nos sentimos abandonados”, disse. 

O CEU e o teatro ficaram prontos em 2012 e contaram com investimento de R$ 26,8 milhões por parte da Prefeitura, à época comandada por Luiz Marinho (PT). O incêndio ocorrido em 2015 destruiu boa parte da estrutura e só foi controlado pelo Corpo de Bombeiros. Logo depois, o anfiteatro foi interditado.

Atualmente, o CEU Celso Daniel conta com 28 salas de aula, ginásio de esportes e espaço para realização de cursos profissionalizantes. A unidade de ensino foi projetada para beneficiar 1.400 estudantes de creche em período integral, pré-escola e ensino fundamental. 

SEM GÁS

Além da retirada de uma opção cultural aos moradores do Três Marias, a demolição do teatro também causou problemas nos apartamentos do bairro. As obras iniciadas em janeiro provocaram fissuras no entorno dos prédios, o que deixou os moradores sem gás, conforme publicado pelo <CF52>Diário</CF> em 14 de julho. Em nota enviada ao jornal na ocasião, a Comgás (Companhia de Gás de São Paulo) informou que havia vazamentos na rede interna de abastecimento e por isso desligou a distribuição como medida de segurança. A Comgás destacou ainda que só irá restabelecer o serviço quando o condomínio realizar o reparo da rede, o que compete à Prefeitura. 

“Moram cinco pessoas na minha casa e estamos tendo que comprar botijão. Não estamos dando conta, porque é muito caro. Já chamamos a Prefeitura várias vezes, mas eles nunca vêm. O gás é problema da Comgás, mas o vazamento foi causado pela obra da Prefeitura. Ela é a responsável e tem que consertar. Mas parece que não estão nem aí para nós”, declarou Adriana Oliveira, 42 anos, moradora do prédio vizinho à obra. 

MORADORES RECLAMAM DO ATENDIMENTO NA UBS DO BAIRRO

Assim como tem acontecido em diversos bairros de São Bernardo, a saúde também é uma constante queixa dos moradores do Cooperativa. De acordo com eles, há poucos médicos atendendo na UBS (Unidade Básica de Saúde) Nazareth, além de constantes trocas dos profissionais que lá atendem. 

"A rotatividade aqui é muito grande. Você passa na consulta num dia, no seguinte volta e já tem de passar por outro. A gente até entende o lado do profissional, porque o médico chega lá às 7h da manhã e fica até as 20h ou 21h, porque não tem gente suficiente para atender todo mundo. Aí, na primeira oportunidade, ele se muda para outra unidade ou município, porque é insalubre atender sozinho”, disse Angra. 

A líder comunitária também contou que seu filho aguarda há dois anos por uma cirurgia no testículo, mas os médicos informam não haver vaga disponível no HC (Hospital de Clínicas) para fazer o procedimento. 

“Ele (o filho) chegou a ficar internado em março, mas a médica que o atendia pediu demissão e ele ficou sem ninguém que pudesse fazer o acompanhamento. Nos mandaram para casa, mas ele precisa dessa cirurgia. Essa demora pode impedir ele de ter filhos futuramente. Não tem urologista para nos orientar, os hospitais não têm vaga. Já fomos no Hospital de Urgência também, mas lá não tem nem pronto-socorro e nos disseram que não fazem a cirurgia que ele precisa. É um absurdo completo”, reclamou. 

A crise na rede de saúde de São Bernardo tem sido acompanhada pela equipe de reportagem do Diário desde maio e revela problemas que vão da falta de medicamentos a UBS – no caso, a da Vila União – fechada por risco de desabamento, em claro sinal da falta de manutenção. A unidade foi parcialmente interditada pela Defesa Civil no dia 31 de março e reabriu para consultas na semana passada. 

Entre todos os problemas estruturais levantados, um em especial tem prejudicado sobretudo internações e realização de cirurgias mais complexas. Reportagem publica no dia 1º de junho revelou que a Prefeitura e a FUABC (Fundação do ABC), que faz a gestão do Complexo Hospitalar da cidade , decidiram fechar três alas do HC (Hospital de Clínicas) – no terceiro, sexto e oitavo andares – para reformas porque apresentavam infiltrações, vazamentos e pisos com elevação ou afundamento em alguns pontos, o que causava riscos de queda, tanto para pacientes quanto funcionários. A medida implicou também na desativação de 110 leitos, dos quais 20 de UTI.




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