Economia Titulo
Vale-transporte movimenta R$ 60 mi no mercado informal
Valmir Zambrano
Da Redaçao
22/05/1999 | 19:27
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O uso de vales-transporte (VT) no mercado informal movimenta algo em torno de R$ 60 milhoes por mês na Grande Sao Paulo (incluindo o Grande ABC). A estimativa é feita pela Secretaria dos Transportes Metropolitanos do Estado de Sao Paulo a partir de relatos das áreas de controle das empresas emissoras do VT na Grande Sao Paulo: Metrô, EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos), CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e empresas particulares de ônibus que fazem viagens no município de Sao Paulo nas outras 38 cidades da Grande Sao Paulo.

A cifra deriva do movimento do sistema de transportes. Sao mais de R$ 420 milhoes por mês, sendo que 45%, ou cerca de R$ 200 milhoes, giram com VT. Desse montante, os controllers do sistema estimam que 30% circulem pelo mercado antes de passar por uma catraca, o que levaria à cifra de R$ 60 milhoes, aproximadamente.

Fornecido pelas empresas aos seus funcionários para o custeio de transporte, o VT que sobra na mao do empregado vai parar nas maos de perueiros e camelôs, que dao início ao ciclo de vida do VT como moeda corrente no mercado informal, até que retorne à empresa emissora e vire novamente dinheiro para os transportadores.

Nesse período em que se transforma em dinheiro nas ruas, o VT é usado em transaçoes de toda natureza, desde a concessao de esmolas até a compra de comida, remédios ou drogas. No fim, ele deve voltar às catracas dos trens e dos ônibus para ser cambiado por dinheiro.

Esse círculo foi narrado por fontes do sistema de transportes da Grande Sao Paulo sob a condiçao de serem mantidos no anonimato. "Esse esquema é operado por quadrilhas muito bem organizadas, que nao hesitam em matar quem tenta atrapalhar seu funcionamento", afirma um executivo do setor, referindo-se aos casos de roubo de vales-transporte cada vez mais freqüentes.

O VT nasceu por força de lei de 1985 e, cerca de três anos depois, estava no rol das obrigaçoes trabalhistas de qualquer empresa que nao ofereça transporte próprio aos colaboradores. Sao elas que fazem o pedido às emissoras, que por sua vez encomendam os VTs às fabricantes deste dinheiro vivo: Casa da Moeda do Brasil, se for VT magnético, e Moore, se for VT facial. De volta às emissoras, eles vao para os empregadores, que os distribuem para os funcionários.

Os empregados usam os VTs para pagar ônibus, metrô ou trem, mas se houver sobra, o trabalhador pode oferecê-lo no mercado. Por ser moeda corrente, o VT pode seguir vários caminhos a partir daí.

O primeiro deles é ir parar na mao de um transportador irregular, como um perueiro. Nesse caso, o trabalhador deu preferência a rodar em uma van no lugar de um ônibus ou trem, pagando o mesmo preço.

O trabalhador pode também comprar qualquer produto ou serviço. É como uma cédula ou uma moeda no bolso. A terceira opçao é fazer dinheiro com o vale vendendo-o a qualquer um dos milhares de ambulantes que trabalham com o VT no entorno de terminais e estaçoes.

Nos dois últimos casos, o trabalhador entrega seu VT ciente de que receberá menos do que seu valor. É nessa operaçao que o VT dá lucro. O ambulante ou comerciante pega um bilhete de Metrô, que vale R$ 1,25, por exemplo, mas paga apenas R$ 0,80 para o trabalhador. Para este, nao há problema, pois quem perdeu mesmo foi a firma que o emprega, uma vez que é ela quem fornece o VT subsidiado.

Quem recebeu o VT tem a partir daí a opçao de passá-lo à frente, como dinheiro, ou vendê-lo a alguém que o queira para pegar um ônibus, metrô ou trem. Porém, o VT vai custar, por exemplo, R$ 1 ao passageiro. O ambulante ganhou, mas o passageiro também (no caso do Metrô, poupou R$ 0,25).

Como os VTs têm prazo de validade (as emissoras os recolhem e trocam por razoes de segurança), quem vive do vale-transporte (quadrilhas, ambulantes, comerciantes, pedintes etc...) armam esquemas com funcionários das emissoras para transformar o VT (magnético ou facial) que têm em maos por dinheiro.

"Isso existe mesmo e é impossível de ser coibido integralmente devido ao gigantismo do sistema de transportes da Grande Sao Paulo", diz uma fonte do setor. Segundo ela, nem as demissoes por justa causa inibem isso. Por conta desses problemas, muitas emissoras já estao reduzindo o prazo para a troca dos vales-transporte.




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